A Revolução Palestina de 1936 começou, como tantas mobilizações populares, com a morte de uma liderança muito popular, Izz al-Din al-Qassam. O militante da FPLP, Ghassan Kanafani, assassinado pelo Mossad na década de 1970, escreveu sobre esse momento. Em seu texto sobre a revolução, ele cita os documentos dos ingleses, que dominavam a Palestina, e dos próprios palestinos.
Kanafani cita o governo inglês: “havia rumores generalizados de que uma gangue terrorista havia sido formada sob a inspiração de fatores políticos e religiosos, e no dia 7 de novembro de 1935, um sargento de polícia e um policial estavam investigando um roubo nas colinas do distrito de Nazaré, quando duas pessoas desconhecidas atiraram neles, matando o sargento. Esse incidente logo levou à descoberta de uma gangue operando na região sob a liderança de Izz al-Din al-Qassam, um refugiado político da Síria que desfrutava de considerável prestígio como líder religioso. Ele já havia sido alvo de fortes suspeitas anos antes, e dizia-se que tinha envolvimento em atividades terroristas”.
E continua: “o funeral do xeique al-Qassam em Haifa contou com a presença de grandes multidões e, apesar dos esforços feitos por muçulmanos influentes para manter a ordem, houve manifestações e pedras foram atiradas. A morte de al-Qassam despertou uma onda de sentimentos poderosos em círculos políticos e outros no país, e os jornais árabes concordaram em chamá-lo de mártir nos artigos que escreveram sobre ele“.
O Alto Comissário, após saber dos acontecimentos, escreveu uma carta ao Ministro das Colônias em Londres. Ele afirmou que se as exigências dos líderes árabes não fossem atendidas, “eles perderiam toda a sua influência e toda a possibilidade de pacificação, pelos meios moderados que ele propôs, desapareceriam”.
Al-Qassam foi assassinado em 1935. No ano seguinte, na principal cidade da Palestina, Jafa, “em fevereiro de 1936, os líderes do movimento nacionalista palestino acreditavam que ainda poderiam obter concessões parciais da Grã-Bretanha através de negociações”. No entanto, eles “foram surpreendidos pelos eventos que se seguiram. Todos que estiveram estreitamente associados aos acontecimentos de abril de 1936 admitem que o surto de violência e desobediência civil foi espontâneo e que, com exceção dos atos instigados pelos Qassamistas sobreviventes, tudo o que aconteceu foi uma expressão espontânea do nível crítico que o conflito havia atingido”.
A Revolução começou como uma greve geral declarada em 19 de abril de 1936, que ultrapassou totalmente a liderança nacionalista. “No entanto, logo se juntaram ao movimento antes que fossem deixados para trás, e conseguiram, pelas razões já mencionadas em nossa análise da situação sócio-política na Palestina, dominar o movimento nacionalista”, destaca Kanafani.
Sobre as organizações que participaram da luta, Ghassan descreve: “o movimento nacionalista palestino era representado por vários partidos, a maioria dos quais eram vestígios dos movimentos anti-Otomanos que surgiram no início do século. Isso significava que eles não haviam participado de uma luta pela independência (como foi o caso no Egito, por exemplo) e que não passavam de estruturas gerais, sem princípios definidos, controladas por grupos de notáveis e dependentes de lealdades enraizadas e derivadas da influência que gozavam como líderes religiosos, feudais ou membros proeminentes da sociedade; não eram partidos com bases organizadas”.
E completa: “com exceção de al-Qassam (e dos comunistas, naturalmente), nenhum dos líderes do movimento nacionalista palestino naquele momento possuía qualquer habilidade organizacional; até mesmo Hajj Amin al-Husseini, que tinha habilidades administrativas incomuns, não tinha uma concepção de organização aplicada à luta”.
Esse ponto é importante, pois mostra como o assassinato de al-Qassam abalou a luta dos palestinos. Naquele momento, como Kanafani descreve, não havia uma organização política dos palestinos como existiu depois com o Fatá ou com o Hamas. Como se costume, nos países atrasados, uma figura política acabava tomando a posição do que seria o partido devido à falta de organização. Al-Qassam poderia ter cumprido esse papel, mas foi assassinado pelos ingleses.
O partido que sobrou era o comunista. Este, no entanto, sofreu com os expurgos stalinistas. O partido havia sido fundado na década de 1920, rachando completamente com o sionismo sob a liderança de jovens dirigentes operários judeus. Mas ele não conseguiu crescer e se tornar um partido das massas palestinos. Isso porque, além da repressão dos ingleses e sionistas, os comunistas foram reprimidos pelo stalinismo. O partido sofreu intervenção direta da União Soviética, sendo que alguns de seus principais dirigentes foram presos em gulagues.
De certa forma a Revolução de 1936 foi o nascimento da nação Palestina. Ela havia sido criada artificialmente pelos ingleses no início da década de 1920, assim como todos os países árabes. Com a revolução popular surgiu a Palestina. O próprio Hamas considera que a origem de seu movimento é o ano de 1936 e por isso suas brigadas armadas se chamam Brigadas al-Qassam.