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América do Sul

Atentado à AMIA: o pretexto imperialista para vigiar a Tríplice Fronteira

A colaboração estreita entre o FBI e o Mossad, aliada à acusação infundada contra o Irã e o Hesbolá, expôs o caráter orquestrado da tentativa de manipulação da opinião

Em 18 de julho de 1994, a Asociación Mutual Israelita Argentina (AMIA) foi alvo de um ataque com um carro-bomba, resultando em 85 pessoas mortas e pelo menos 300 feridas. O atentado jamais teve sua autoria comprovada. No entanto, o governo argentino, sob o comando do neoliberal Carlos Menem, acusou o Irã e o partido revolucionário libanês Hesbolá como autores do atentado.

Em matéria de 2006, intitulada AMIA: el nuevo fiscal acusó a Irán como responsable del atentado (Lucio Fernández Moores), o jornal Clarín, um dos principais órgãos de propaganda do imperialismo na Argentina, indica que “o ataque [foi atribuído] a terroristas do Hesbolá instigados pelo Irã”, o que se daria “por um motivo: a suspensão em 1991 da assistência à tecnologia nuclear que a Argentina fornecia ao Irã por meio de acordos assinados durante o governo de Raúl Alfonsín”. A afirmação não se dá ao trabalho de explicar exatamente o que pretendia o Irã e por que justamente na América do Sul aconteceria um tipo de ataque tão destoante do padrão iraniano e do Hesbolá, que em nenhum outro lugar realiza ataques similares.

A matéria de Clarín apresenta ainda uma informação mais interessante: a Embaixada norte-americana apoiou a acusação dao governo argentino. Continua o artigo de Moores:

“Após o atentado, a Argentina e o Irã reduziram suas relações diplomáticas ao nível de encarregado de negócios, mas durante o primeiro mandato de Néstor Kirchner, os iranianos esperavam uma melhoria nos laços que a decisão de Nisman [Alberto Nisman, promotor-chefe do caso] certamente piorará. Ontem à noite [25/10/2006], o encarregado de negócios do Irã não quis comentar, mas a Embaixada dos EUA apoiou a medida.”

Outra matéria, publicada no dia 10 de novembro de 2005 pelo órgão britânico BBC News e intitulada Buenos Aires bomber ‘identified’, afirma que a polícia federal norte-americana, o FBI, participou das investigações que apontaram um jovem libanês de 21 anos chamado Ibrahim Hussein Berro, como autor do atentado suicida à AMIA. “Ibrahim Hussein Berro, 21 anos, do Líbano, foi identificado em um esforço conjunto da inteligência argentina e do FBI, disse o promotor Alberto Nisman”. Para sustentar a acusação contra o rapaz libanês, o órgão britânico diz:

“Os dois irmãos de Hussein que moram nos EUA testemunharam que ele havia se juntado ao grupo militante radical xiita Hesbolá, disse Nisman. ‘O testemunho dos irmãos foi substancial, rico em detalhes e mostrou que foi ele quem foi morto’, acrescentou.”

A intervenção do governo dos EUA no caso foi acompanhada pelo Mossad, o sinistro serviço secreto israelense. O jornal sionista The Times of Israel publicou, no dia 12 de junho de 2020, a matéria Ex-Mossad man reveals role in events that led to death of AMIA prosecutor Nisman, destacando que “TV diz que foi o Mossad que ligou o Irã ao ataque terrorista à sede judaica de Buenos Aires; ex-agente diz que deu a Nisman material que supostamente incriminava Kirchner no encobrimento, com resultado fatal”. A matéria do órgão vai além e procura apresentar a ex-presidente Cristina Kirchner, vítima de um longo cerco da direita, que resultou nos governos pró-imperialistas de Mauricio Macri e de Javier Milei, como uma pessoa ligada ao ataque:

“Um ex-agente do Mossad forneceu a Nisman informações incriminatórias sobre os supostos esforços da ex-presidente argentina Cristina Fernandez de Kirchner para encobrir o papel do Irã na explosão, em uma sequência de eventos que acabou levando ao assassinato de Nisman, segundo o programa.”

Ainda segundo a matéria:

“O documentário ‘Uvda’ (Fato), transmitido na noite de quinta-feira pelo Canal 12 de Israel, apresentou uma longa entrevista com Uzi Shaya, um ex-agente do Mossad que disse ter tido extensas relações com Nisman e que reconheceu que os documentos que ele passou a Nisman, supostamente incriminando Kirchner, ‘podem ter causado sua morte’.”

Como se pode ver, o caso do atentado à AMIA é marcado pela intervenção do imperialismo. Coordenada pelos Estados Unidos e pelo sionismo, a “investigação” demarcou um novo padrão de ação nos países sul-americanos, com uma clara ingerência sobre a soberania desses Estados pelos EUA e as hordas sionistas.

A colaboração estreita entre o FBI e o Mossad, aliada à acusação infundada contra o Irã e o Hesbolá, expôs o caráter orquestrado da tentativa de manipulação da opinião pública para justificar a presença crescente das potências estrangeiras nas estruturas de segurança e inteligência locais.

O assassinato de Alberto Nisman, rodeado de contradições, só reforça a suspeita de que a operação buscava controlar as investigações e, ao mesmo tempo, desestabilizar o peronismo. No Brasil, assistimos à repetição deste padrão, com o sionismo e o imperialismo norte-americano infiltrando-se nas forças de segurança e na própria política nacional.

As provas concretas que ligam diretamente o Irã e o Hesbolá nunca apareceram. No entanto, elas serviram para que os serviços de inteligência estrangeiros passassem a atuar intensamente na tríplice fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai. Foi essa estrutura montada desde o caso da AMIA que permitiu que a Polícia Federal desatasse a Operação Trapiche, responsável pela prisão e posterior condenação de Lucas Passos Lima, acusado, sem prova alguma, de “planejar atentados terroristas” sob ordens do Hesbolá.

A crescente influência de agentes estrangeiros sobre as polícias e o sistema judiciário brasileiro segue a cartilha aplicada na Argentina, configurando uma ofensiva coordenada para subordinar o continente aos interesses imperialistas. O ataque à AMIA, portanto, não foi um evento isolado, mas o início de uma nova fase de controle imperialista sobre a América Latina, que agora se estende ao Brasil, comprometendo a soberania e os interesses nacionais em favor das potências estrangeiras.

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