Previous slide
Next slide

Esquerda brasileira

A submissão ao imperialismo, da Ucrânia à China

Esquerdista acusa a "solidariedade seletiva" de quem não apoia a Ucrânia e Taiuan, expressando uma solidariedade restrita aos apoiados pelo imperialismo

Publicado no órgão Opinião Socialista, órgão do PSTU, o artigo Da Ucrânia à Palestina assinado por Blanca Missé, traz uma curiosa interpretação de como se deve conduzir a luta pela libertação do proletariado, argumentando que “forjar esse tipo de solidariedade [entre os povos oprimidos] também é uma tarefa cada vez mais complexa em um sistema estatal assolado pela rivalidade imperial entre os Estados Unidos, China e Rússia”, incorrendo no erro crasso de colocar no mesmo balaio de gatos um país de desenvolvimento capitalista avançado, os EUA, com dois países atrasados, China e Rússia, como se todos fossem imperialistas, expressando uma confusão sobre o que é o imperialismo, o que por sua vez, desencadeia outras confusões como a que se segue:

“Um internacionalismo consistente deve abandonar a visão autodestrutiva de libertação por etapas, que argumenta que algumas lutas anti-imperialistas devem ‘esperar’, ou pior, são um obstáculo para outras. Isso leva partes da esquerda, por exemplo, a argumentar que as necessidades imediatas da juventude iraniana ou da resistência ucraniana devem ser indefinidamente ‘deixadas de lado’ para ‘primeiro’ derrotar o genocídio israelense contra os palestinos ou o projeto da OTAN. Outros minimizam a oposição ao genocídio israelense para ganhar o favor dos Estados Unidos e garantir seu apoio à Ucrânia contra a Rússia. Essa lógica subordina algumas lutas democráticas aos interesses de outras, supostamente ‘mais importantes’; no processo, destrói a base para qualquer solidariedade internacional coerente.”

Ocorre que antes de mais nada, o que “um internacionalista” precisa é saber o que de fato está enfrentando, o que é esse fenômeno político, militar e econômico chamado “imperialismo”, algo fundamental para evitar a adoção de políticas suicidas, como as que Missé propõe, que longe de forjar a solidariedade internacionalista, forjam a submissão aos monopólios imperialistas, o inimigo fundamental do proletariado. Na tentativa de incluir a Rússia entre o reduzido conjunto de nações imperialistas, a autora diz:

“Para começar com a Ucrânia, o regime de Putin seguiu sua tomada da Crimeia e partes do Donbass em 2014 com uma tentativa de invasão e ocupação em larga escala da Ucrânia em fevereiro de 2022. Ele alegou que era uma guerra ‘defensiva’ para impedir a expansão da OTAN. A justificativa de Putin era, evidentemente, uma mentira. A principal motivação do imperialismo russo é reafirmar seu controle sobre a Ucrânia, seus recursos naturais e os investimentos dentro daquele país e outros em seu exterior próximo, como Belarus, Cazaquistão e Geórgia. Como Hannah Perekhoda explicou, Putin visa construir o império da Rússia, estimular o nacionalismo russo (em particular sua antiga obsessão de ‘transformar ucranianos em russos’) e reprimir movimentos domésticos que lutam por direitos democráticos e melhores condições de vida.”

Porque a alegação russa de empreender uma ofensiva contra a expansão da OTAN (o braço armado do imperialismo), a autora não se dá ao trabalho de responder, baseando-se em uma interpretação de uma pessoa aleatória, que por sua vez, mede o movimento russo não pelo que ele efetivamente faz, mas pelas considerações de ordem ideológica do nacionalismo russo. Concedendo à autora e à sua orientadora o benefício de que “Putin visa reconstruir o império da Rússia”, em que isso desmente o fato de a OTAN estar expandindo-se tanto para o leste da Alemanha (que deveria ser sua fronteira final) que ameaça chegar ao Pacífico?

Que “imperialismo” frouxo é esse que viu o imperialismo real cercar o país com bases militares desde os anos 1990? A autora pode se esquecer, mas por muito menos, os EUA ameaçaram iniciar uma guerra contra a União Soviética nos anos 1960, quando Cuba solicitou mísseis nucleares à URSS, que terminou recuando e abandonando a Ilha “longe de deus, perto dos EUA”. A confusão sobre o que realmente é o imperialismo continua, quando a autora analisa o “imperialismo chinês”:

“Por sua vez, a China também joga dos dois lados. Ela recorreu à diplomacia para intermediar a unidade da resistência palestina e apoiar a chamada solução de dois Estados, enquanto pressiona o Irã (com quem assinou um acordo de cooperação econômica em 2021) a não entrar em guerra direta com Israel. Durante a última escalada entre Irã e Israel em abril, a China apelou às ‘partes relevantes para exercerem calma e contenção para evitar uma nova escalada’. Ao mesmo tempo, a China expandiu drasticamente o comércio com Israel de Netanyahu. Aumentou o investimento para se tornar o segundo maior investidor em Israel depois dos Estados Unidos. A maior parte desse investimento é nos portos, telecomunicações, energia e tecnologia de Israel — particularmente seus sistemas de vigilância, que Pequim implantou contra toda a sua população, especialmente os uigures predominantemente muçulmanos em Xinjiang. Como resultado desse comércio e investimento, a China é agora o segundo maior importador de produtos israelenses e o maior exportador para o estado sionista. A China também tem enormes investimentos nos estados vizinhos, incluindo a Arábia Saudita, que se juntou à sua Iniciativa Cinturão e Estrada (BRI) de US$ 1 trilhão. O objetivo do imperialismo chinês na região não é a libertação palestina, mas a preservação de seus interesses econômicos, seu acesso a combustíveis fósseis e seu enorme investimento na BRI. Ou seja, o objetivo da China é proteger recursos-chave que a ajudem a competir com seu rival imperial, os Estados Unidos.”

Tal como os russos, que empreendem uma ofensiva militar para se protegerem do expansionismo da OTAN, a China usa a força da sua economia, a maior entre as nações atrasadas, para fazer o mesmo na guerra econômica desencadeada pelo imperialismo no governo Obama, aprofundada por Trump e mais ainda agora, no governo Biden. Ignorando totalmente o retrospecto do conflito dos chineses com os EUA e quem é, de fato, a parte agressora, Missé dá de barato que se a China está investindo US$1 trilhão no seu programa Iniciativa Cinturão e Estrada (BRI), é porque está explorando outros países, sem se dar ao trabalho de ver a natureza do programa.

Ao contrário dos “investimentos” do imperialismo, que se limitam à rapina financeira dos países-vítimas, o programa chinês visa financiar obras de infraestrutura em países parceiros, o que é reconhecido pela autora e que naturalmente, visa dar um retorno ao gigante asiático, mas em condições infinitamente melhores para os países. Nenhuma relação com o método de ação dos países verdadeiramente imperialistas.

Do erro inicial, da total incompreensão sobre o que é o imperialismo, um fenômeno social possível apenas em países onde a burguesia desenvolveu ao máximo suas capacidades do capitalismo, o que não é o caso da Rússia e da China, países que conseguiram se sobressair por força das revoluções de 1917 e 1949, respectivamente, quando superaram o vampirismo imperialista que submetia essas duas grandes nações, um processo que os EUA e a União Europeia tentam hoje reverter. No que são apoiados por Missé, que repete todas as bobagens difundidas pela máquina de propaganda dos monopólios internacionais. Apesar de acusar uma “solidariedade seletiva” de quem não se solidariza com a Ucrânia e Taiuan, entre outros apoiados pelo imperialismo, incorre ela própria em uma solidariedade seletiva com aqueles a quem os países desenvolvidos autorizam o mundo a se solidarizar.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.