Nesse domingo (22), ocorreram as eleições estaduais de Brandemburgo, na Alemanha. O resultado foi apresentado pela imprensa imperialista como um “grande alívio” para o chamado “centro político”, uma vez que o partido com a maior votação foi o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD, na sigla em alemão). Um olhar mais minucioso mostrará que, na verdade, o tal “centro político” agora respira com a ajuda de aparelhos.
O SPD de fato conquistou o maior número de cadeiras: 32. No entanto, esse número só foi conseguido após um enorme esforço do partido do atual primeiro-ministro, Olaf Scholz, cuja base é, inclusive, de Brandemburgo.
Esse esforço, ainda que consagrasse a vitória do SPD, não impediu o crescimento extraordinário do principal partido de extrema direita do país. A Alternativa para a Alemanha (AfD) conquistou 30 assentos, em um quase-empate com o partido governista.
A “vitória” do SPD só foi possível com o sacrifício de seus aliados. O partido União Democrata-Cristã (CDU), da ex-primeira-ministra Angela Merkel, perdeu três cadeiras. Já o Partido Verde perdeu 10 assentos e ficou sem nenhuma representação no parlamento.
O esquerdista Die Linke também perdeu 10 cadeiras e ficou de fora do parlamento de Brandemburgo. Ao se analisar esses dados, vê-se que, longe de uma “vitória”, o que há é um desmoronamento total do “centro político”.
A AfD, no entanto, não foi o único partido que cresceu. A Aliança Sarah Wagenknecht (BSW), partido criado em 2023, ganhou 14 cadeiras, tornando-se o terceiro partido do estado.
A situação de colapso do regime alemão indica que o país se encaminha para uma situação semelhante à da Itália dos dias de hoje. Nesse país, há muito tempo já se perdeu todas as bases de equilíbrio, de modo que o regime só consegue se sustentar com com partidos improvisados, inclusive da extrema direita, como é o caso do partido de Giorgia Meloni, os Irmãos de Itália.
A falência do regime alemão, por sua vez, é um sintoma ainda mais grave da crise mundial do imperialismo. Afinal, o regime alemão sempre foi muito mais sólido do que o regime italiano. Assim como a França, que também segue a mesma trajetória.
Embora a falência dos regimes políticos europeus já fossem notórias, o caso alemão fornece um exemplo muito claro da questão da polarização política. A falência dos regimes, ao contrário do que aparece na imprensa, não leva ao crescimento unilateral da extrema direita. Ele também leva ao crescimento da extrema esquerda.
A BSW, ao contrário do França Insubmissa e demais partidos esquerdistas europeus, conseguiu uma importante presença política no regime. Esse partido de esquerda superou todos os demais partidos de esquerda: o Partido Verde, que é uma espécie de sublegenda da SPD, e o Die Linke, que vinha se integrando cada vez mais ao regime.
O BSW se mostrou como uma alternativa real. Assim, a Alemanha apresenta a situação política tal como ela é: uma polarização entre a classe operária e a extrema-direita.
Isso não aparece em outros lugares porque não existe um partido que seja totalmente contrário ao regime imperialista. A França Insubmissa fracassou totalmente na tentativa de se constituir como uma ala esquerda anti-imperialista. Quando Jeremy Corbyn assumiu a direção do Partido Trabalhista, ele também não soube manter uma política que permitisse a esquerda a se desenvolver.
A questão é: por que a BSW aparece com tanta força? Há dois motivos fundamentais: o primeiro é que eles romperam com a política de adaptação ao regime, que é a política identitária, e adotaram uma política mais sensata, preocupada com o desenvolvimento político da classe operária alemã. Em segundo lugar, o partido agrupa vários setores da antiga Alemanha Oriental baseia-se, portanto, em uma estrutura política já estabelecida.
O caso alemão é uma advertência para toda a esquerda mundial e, particularmente, para a esquerda brasileira. O caminho do identitarismo e da defesa do regime político está fracassando totalmente.
Para que o SPD governasse até agora, foi preciso formar uma coalizão com a CDU e o Partido Verde. Juntos, esse bloco detinha uma maioria significativa de 50 cadeiras. Agora, no entanto, o bloco tem apenas 44 assentos contra 44 da AfD e 44 da BSW. Esse dado também revela a fraqueza do “centro político”.
O mais provável é que o SPD faça o mesmo que Emmanuel Macron fez na França: irá procurar uma aliança com a extrema direita. Essa é a tendência natural desses partidos. Na Alemanha, na França, no Reino Unido e em todo o mundo.
A extrema direita é uma ala da política burguesa. Uma ala minoritária da burguesia, mas uma ala da burguesia. A esquerda precisa aprender que os laços de classe são mais poderosos que ficções ideológicas como a “defesa da democracia”. Em nenhum lugar do planeta a direita “civilizada” hesitará em chamar a extrema direita para seu governo.