Grande parte da esquerda pequeno burguesa adere à política imperialismo do “ambientalismo”. Ela consiste em aterrorizar a população com a possibilidade do “fim do mundo” devido às mudanças climáticas. O problema é que a conclusão é sempre que países pobres, como o Brasil, não podem se desenvolver economicamente. Ao mesmo tempo, essa vertente não denuncia que a causa dos desastres não é o clima, mas sim o neoliberalismo que destruiu a infraestrutura do país. É o caso de José Correa Leite em seu texto “Salvar o clima para construir outro Brasil”
O texto começa citando os grandes problemas naturais do Brasil, a fumaça das queimadas, a seca e as enchentes. E então define um culpado: “são os ruralistas, o segmento da classe capitalista vinculado ao controle de terras, um grupo numericamente insignificante da população, mas que vertebra o poder no país. Eles lidam com os territórios que conquistam como enxames de gafanhotos em guerra contra a terra, explorando-a até esgotar sua capacidade produtiva e depois se deslocando para outras regiões onde reproduzem o mesmo processo. Eles vertebram o bloco social de raízes agrárias que dominou com mão de ferro o Brasil até 1930, quando foram então parcialmente deslocado do centro do Estado, mas voltaram a controlar o poder depois de 1990, desindustrializando o país e voltando a colocá-lo no mundo, em grande medida, como uma grande fazenda”.
Aqui aparecem duas teses absurdas. Primeiro que os latifundiários são os culpados por tudo. Até mesmo na teoria oficial da mudança climática os grandes culpados não são os brasileiros, mas sim os europeus que e norte-americanos que tem a maior “pegada de CO2”. A indústria que sustenta esses países é muito pior do que qualquer queimada no Brasil. A segunda tese absurda é que os latifundiários controlam o poder desde a década de 1990. Isso é absurdo. Quem controla o Brasil é o imperialismo, no território nacional são os grandes industriais e os banqueiros. Segunda a tese do autor, Ribeiro Preto ou o Goiás teria mais poder que a região metropolitana de São Paulo, é surreal. Obviamente o latifúndio é um problema gigantesco, mas não é nem o maior problema do Brasil e nem o maior causador da chamada mudança climática.
Ele desenvolve essa tese do domínio dos latifundiários: “quem, vendo o Brasil no ano de 1928, imaginaria que, cinco anos depois, a oligarquia cafeeira teria sido derrubada do poder no estado central? Como lembra Chico de Oliveira no seu Ornitorrinco, a possibilidade de mudanças estruturais nas sociedades da periferia está diretamente ligada a cenários de crise geral do sistema internacional, que possam ser aproveitadas por atores políticos internos bem posicionados. Deixamos para trás a globalização vigorosa e entramos em uma fase de disputas interimperialistas que estão fragmentando o mercado mundial e produzindo uma certa desglobalização, que só tende a se aprofundar. O mundo vai ficar um ambiente cada vez mais hostil em todos os sentidos possíveis nos próximos anos”.
Aqui fica claro que a bússola política de Correa é totalmente quebrada. A primeira parte que afirma que a Revolução de 1930 impressionou muitos é um argumento progressista, que defende que a revolução é possível e que pode estar próxima. Ele, no entanto, tem uma análise internacional absurda, falando em disputa “inter imperialista”. O problema aqui é que o ambientalismo apresentado é uma política do imperialismo, e ao não se falar em luta contra o imperialismo isso fica ainda mais claro.
Por que o maior problema do clima são os latifundiários do Brasil e não as petroleiras dos EUA? Porque os ambientalistas são, na verdade, agentes do imperialismo contra o desenvolvimento. A campanha do texto é contra a produção agrária, mas quando se fala em hidrelétricas, ferrovias, petróleo e outras infraestruturas cruciais os ambientalistas gritam ainda mais. Isso porque lutar contra o latifúndio é de fato uma luta real contra um poder, o que torna a campanha ambiental mais difícil. Já construir uma hidrelétrica é uma luta contra o imperialismo em si, ou seja, ser contra a hidrelétrica é muito mais fácil, é estar ao lado dos poderosos.
A verdade é que a grande parte dos ambientalistas está a serviço das ONGs financiadas pelo imperialismo. E um setor da esquerda pequeno burguesa cai nesse golpe. O autor afirma que: “um forte movimento pelo clima no Brasil será um movimento por uma transição ecossocial no país, organizada desde os atores populares, capaz de enfrentar os responsáveis nacionais pela predação da natureza e lutar pela restauração dos biomas florestais. A alternativa para o Brasil será criada na luta política por outra economia, por outra sociedade, por outro metabolismo com a natureza”.
A transição “ecossocial” no quesito da terra seria o fim do latifúndio, a reforma agrária, uma política tradicional da esquerda, mas sobre isso o texto nada fala. Isso mostra como o ambientalismo não é compatível com a política de luta dos trabalhadores. O que entraria no lugar dos latifundiários? Para o autor é um mundo mágico do meio ambiente, na realidade são os trabalhadores sem terra organizados.
E é preciso comentar o segundo ponto, tão importante quanto a questão da terra. Os impactos da chamada mudança climática são usados para ampliar essa campanha do imperialismo. Mas não é possível botar os problemas sociais na conta do clima. Essa tese absurda apareceu no Rio Grande do Sul. Seria o mesmo que falar que o culpado pela enchente foi a chuva. A verdade é que décadas de governos neoliberais destruíram a prevenção de desastres e causaram a catástrofe gaúcha.
No fim, o “problema ambiental” não é culpa da indústria, pelo contrário, é a falta da indústria. O país precisa se desenvolver mais para garantir que em qualquer condição possa proteger a população. Porto Alegre precisa de grandes obras para prevenir enchentes. O nordeste precisa de grandes obras para combater a seca. O Brasil precisa de grandes obras para conectar todo o país por ferrovias, pontos, a rede elétrica. Quanto maior o desenvolvimento, maior a capacidade de combater os desastres naturais. Mas isso nunca será dito por um ambientalista a serviço do imperialismo.