No sábado (21), soldados israelenses invadiram o escritório da Al Jazeera na Cisjordânia ocupada, em Ramalá, e entregaram ao editor chefe, Ualid al-Omari, uma ordem para fechar a sede. Os soldados ordenaram que todos os trabalhadores do turno da noite saíssem, dizendo que só poderiam levar seus pertences pessoais. A ordem veio da autoridade militar israelense, apesar do escritório estar localizado na Área A da Cisjordânia, uma região definida pelos Acordos de Oslo como de controle palestino. É mais um ataque brutal do sionismo a liberdade de imprensa.
“Israel” tem como política atacar a Al Jazeera e seus jornalistas. Muitos foram assassinados, dentre eles Shireen Abu Akleh, Samer Abudaqa, Ismail al-Ghoul e Rami al-Rifi. A Al Jazeera, mesmo não sendo a mais radical das emissoras árabes, é a que possui o maior alcance e por isso a suas denúncias tem um impacto enorme contra “Israel”. A Al Jazeera é certamente o órgão de imprensa que teve mais reportagens assistidas no mundo sobre o genocídio na Faixa de Gaza.
A própria emissora publicou uma declaração de Rami Khouri, pesquisador da Universidade Americana de Beirute: “isso está totalmente de acordo com a política do estado de Israel desde 1948… para evitar notícias reais sobre os palestinos ou sobre o que o estado de Israel está fazendo aos palestinos… colonizando-os, prendendo-os e torturando-os“. Que acrescentou que a Al Jazeera é “o principal instrumento para informar o mundo sobre” a violência israelense na Palestina.
Jivara Budeiri, que estava trabalhando quando a invasão aconteceu, disse que o grupo israelense que invadiu o escritório incluía engenheiros, o que a fez temer que os invasores também tivessem vindo para destruir os arquivos do escritório. Inicialmente, disseram a eles, em frente às câmeras, que poderiam levar seus pertences pessoais e câmeras. No entanto, no final, os jornalistas tiveram que deixar as câmeras no escritório. Os soldados permaneceram nos escritórios por algumas horas. Os soldados destruíram a imagem da jornalista palestina Shireen Abu Akleh, assassinada por um franco-atirador sionista em 2022.
A ordem de fechamento do escritório é de 45 dias. No entanto, o chefe do escritório, al-Omari, disse que acredita que ela será renovada automaticamente, como foi o caso de uma ordem civil emitida por “Israel” no início de maio para fechar o escritório da Al Jazeera em “Israel”. Isso condiz com a lei de censura aprovada pelos sionistas em 2024 que permite ao governo fechar, por 45 dias, qualquer imprensa estrangeira que representasse uma ameaça ao Estado. É tão claro que o alvo é a emissora do Catar que a lei foi batizada de Lei Al Jazeera.
Pouco após a aprovação da lei, no dia 5 de maio, a sede da emissora dentro do território israelense ocupado em 1948 foi invadida pelos sionistas e fechada. Já se passaram mias de 4 meses e não há previsão de que ela será reaberta. O Estado de “Israel” quer impor a censura total.
Al-Omari, foi informado por um dos soldados que qualquer consulta deveria ser dirigida ao comando militar que emitiu a ordem. Isso provavelmente significava que qualquer apelação teria que passar pelo sistema de tribunais militares. São esses tribunais que determinam as “prisões administrativas” os sequestros de palestinos sem acusação e julgamento. O caso mostra a farsa da “administração palestina” que nem na pequena Área A atua como governo.
A posição da Al Jazeera
A emissora emitiu uma nota oficial, denunciado o ataque que sofreu do Estado de “Israel”. Ela destaca que: “a Al Jazeera rejeita as ações draconianas e as alegações infundadas apresentadas pelas autoridades israelenses para justificar essas invasões ilegais. A Al Jazeera reafirma seu compromisso inabalável de continuar a reportar sobre a guerra em Gaza, a ocupação contínua dos territórios palestinos e a escalada regional”.
Ela ainda “insta todas as organizações que defendem a liberdade de imprensa e os direitos humanos, bem como outras entidades preocupadas, a condenar esses ataques repetidos de Israel contra jornalistas e a imprensa, e a exigir responsabilização por aqueles que buscam enterrar a verdade sob os escombros da guerra”.
E conclui: “a rede responsabiliza o governo de Netaniahu pela segurança de seus jornalistas e buscará todos os meios legais disponíveis por meio de instituições jurídicas internacionais para proteger tanto seus direitos quanto seus jornalistas, além do direito do público à informação”.
O Hamas se solidariza
O Movimento de Resistência Islâmica, Hamas, o partido mais popular da Palestina, também emitiu um comunicado oficial. Ele afirma que “o fechamento do escritório da Al Jazeera em Ramalá é uma medida retaliatória contra o papel profissional da emissora em expor os crimes da ocupação contra nosso povo”.
Destacando que: “fechar a Al-Jazeera é uma tentativa de encobrir o desempenho da resistência em Gaza e a resposta do Hesbolá, e é o auge da guerra declarada contra os jornalistas com o objetivo de ocultar a verdade”.
E conclui: “nós nos solidarizamos com a Al Jazeera e condenamos a decisão de fechá-la. Estamos confiantes de que essa decisão não impedirá a emissora de continuar com seu papel e de desafiar todos os obstáculos”.