Um documentário exclusivo produzido pelo portal norte-americano The Grayzone apresenta entrevistas e mensagens vazadas que revelam como o regime golpista equatoriano a “luta contra a corrupção” para perseguir dirigentes políticos do Equador, especialmente o ex-presidente Rafael Correa e seu movimento Revolução Cidadã, enquanto atrasava as investigações de muitos crimes supostamente cometidos pelos seus sucessores.
Entre as conversas vazadas, constam como a promotora equatoriana Diana Salazar vazou informações de uma investigação em andamento, inviabilizando que os presidentes aliados dos norte-americanos fossem devidamente acusados. Enquanto Correa foi perseguido em um processo farsesco, os escândalos de corrupção dos governos de Lenín Moreno e de Guilherme Lasso foram completamente ignorados pela grande imprensa.
Produzido por Oscar Leon, o documentário é uma peça importante para se compreender o que aconteceu no Equador desde o início da ofensiva golpista sobre a América Latina inaugurada com o golpe militar em Honduras de 2009. Desde então, o governo nacionalista de Rafael Correa passou a ser bastante pressionado pelo imperialismo ao ponto de, ao final de seu segundo mandato, o então presidente indicar um direitista para ser o seu sucessor – Lenín Moreno.
Uma vez eleito, Moreno deu um golpe na maior liderança popular do país, traindo por completo as bases que o elegeu. O governo furiosamente neoliberal de Moreno logo passou a ser contestado nas ruas. Em 2019, no mesmo período em que o Chile passava por uma grande instabilidade, protestos bastante radicais explodiram contra o governo de Moreno, revelando a total impopularidade do governo.
Moreno reagiu estabelecendo um estado de exceção e reprimindo duramente a população. Como resultado da crise, Moreno nem tentou se reeleger. Em uma campanha bastante suja, envolvendo a perseguição de Correa mesmo exilado na Bélgica, a direita conseguiu se eleger para um novo mandato. Assumiu, então, Guilherme Lasso, outro neoliberal fantoche dos banqueiros norte-americanos. Seu governo entrou em crise novamente e o próprio presidente renunciou.
Agora, chegou a vez de Daniel Noboa. Aliado dos norte-americanos, assim como Moreno e Lasso, Noboa foi eleito em meio a uma eleição muito violenta, que contou com o assassinato de um candidato presidencial e de várias outras lideranças políticas e sociais. Noboa tem utilizado o suposto “combate ao crime organizado” para levar adiante uma ditadura duríssima contra a população.
“Salazar participou de casos envolvendo os três últimos ex-presidentes do Equador – casos que não só decidiram o destino desses políticos, mas também o destino político de todo o país”, diz a narração do documentário de Oscar Leon. “As perguntas a seguir ilustram a disparidade no tratamento de Salazar dispensou a cada um destes casos”.
Quanto ao caso de Correa, o documentário explica que, em Abril de 2020, o ex-presidente foi proibido de exercer cargos políticos para toda a vida e condenado a oito anos de prisão. “As acusações contra o ex-presidente centravam-se no conceito de ‘influxo psíquico’ e num empréstimo de 6 mil dólares que ele contraiu e mais tarde reembolsou com fundos do partido. Isto gerou indignação de ambos os lados, visto que ‘influxo psíquico’ é um conceito jurídico que não existia anteriormente na legislação equatoriana. Para muitos, esta acusação destacou a falta de provas suficientes para provar a culpa de Correa”.
Em Julho de 2024, surgiram alegações de que, nos bastidores, vários juízes tinham sido pressionados para condenar Correa. Wilman Terán, um juiz de alto nível que condenou Correa, testou sob juramento numa audiência na Assembleia Nacional que os enviados do Procurador-Geral Salazar o tinham pressionado repetidamente para obter um veredicto de culpado.
No caso do sucessor imediato de Correa, a disposição da Justiça é oposta.
A Procuradoria-Geral apresentou 225 provas no caso de corrupção e peculato contra o ex-presidente Lenin Moreno.
“Depois de Lenin Moreno supervisionar a retirada do Equador da UNASUL, uma agora dissolvida organização latino-americana de países criada como contrapeso à Organização dos Estados Americanos dominada pelos EUA, ele entregou Julian Assange às autoridades britânicas e impôs um programa de austeridade em nome do FMI – desfazendo uma década de progresso social no processo”, explica o documentário. “Ao longo do caminho, também nomeou Salazar como Procurador-Geral”.
Com o governo de Moreno, “o Equador passou de zero cooperação e indiscutivelmente independência da influência dos EUA sob Rafael Correa, para assinar uma série de tratados que dão aos agentes e militares dos EUA total liberdade para circular e construir qualquer coisa, em qualquer lugar do país, com total imunidade perante os tribunais locais, sobre o próxima década”.
De acordo com o documentário, “contrastando com a agência e o esforço claramente colocados no caso Correa, o caso Moreno avança muito mais lentamente. Apesar das evidências abundantes e quase definitivas de uma rede semelhante de corrupção contra Moreno, e de subornos de até 76 milhões de dólares, o seu caso foi visivelmente atrasado por questões técnicas jurídicas”.