Na última sexta-feira (13), o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, visitou o presidente norte-americano Joe Biden para discutir a situação ucraniana. A visita deu-se logo após membros do alto escalão do corpo diplomático de ambos os países terem visitado Quieve, capital da Ucrânia. O portal de notícias Associated Press reporta que, segundo fontes anônimas ligadas ao governo norte-americano, Starmer foi buscar a aprovação de Biden para autorizar as Forças Armadas ucranianas a utilizarem os mísseis britânicos Storm Shadow, que têm alguns de seus componentes fabricados nos Estados Unidos.
O pedido está certamente relacionado à demanda ucraniana recorrente pela autorização do uso de armamento de longo alcance contra a Rússia, podendo alcançar a própria capital do país vizinho, Moscou.
“A guerra deve se tornar mais difícil para a Rússia – essa é a única maneira de fazê-los perceber que ela deve acabar”, declarou Vladimir Zelensky na última sexta-feira através de suas redes sociais.
Em resposta à movimentação de seus adversários, o presidente russo, Vladimir Putin, foi categórico:
“O que estamos vendo é uma tentativa de substituir noções. Porque não se trata de saber se o regime de Quieve tem ou não permissão para atacar alvos em território russo. Ele já está realizando ataques usando veículos aéreos não tripulados e outros meios. Mas usar armas de precisão de longo alcance fabricadas no Ocidente é uma história completamente diferente.
“O fato é que – eu já mencionei isso, e qualquer especialista, tanto em nosso país quanto no Ocidente, confirmará – o exército ucraniano não é capaz de usar sistemas de longo alcance de alta precisão e de última geração fornecidos pelo Ocidente. Eles não podem fazer isso. É impossível empregar essas armas sem dados de inteligência de satélites, que a Ucrânia não possui. Isso só pode ser feito usando os satélites da União Europeia ou os satélites dos EUA – em geral, os satélites da OTAN. Esse é o primeiro ponto.
“O segundo ponto – talvez o mais importante, até mesmo o ponto-chave – é que somente o pessoal militar da OTAN pode atribuir missões de voo a esses sistemas de mísseis. Os militares ucranianos não podem fazer isso.”
Putin concluiu que a decisão sobre permitir ou não o uso dessas armas contra a Rússia trata-se, na verdade, de decidir se os países da OTAN se envolveram diretamente no conflito ou não. Caso isso aconteça, o presidente russo prometeu tomar “as decisões apropriadas em resposta às ameaças impostas”.
Quando confrontado com o posicionamento de Putin, Biden, em coletiva de imprensa antes da reunião com Starmer disse que “não pensava muito” no mandatário russo, dando a entender que tomaria a decisão independentemente de suas palavras. Starmer declarou que a “Ucrânia tem o direito de autodefesa” e que a aliança militar imperialista estava “unida” nessa posição.
A união ainda não se confirmou. Apesar da declaração de Biden, as palavras de Putin parecem ter causado impacto entre o alto escalão das Forças Armadas norte-americanas, apreensivas em relação ao uso de armas nucleares por parte de seus homólogos russos.
Em reunião do comitê militar da OTAN, realizada no último sábado, o silêncio norte-americano foi mantido na figurado General Charles Brown, que comanda o Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos. Seus colegas europeus, por outro lado, foram mais diretos. O atual presidente do comitê militar da OTAN, o holandês Rob Bauer, reforçou que os ucranianos tinham o direito de se defender e que “esse direito não parava nas fronteiras de sua própria nação”. O general checo Karel Rehka foi mais direto e disse acreditar que “os ucranianos deveriam decidir por conta própria como usá-las [as armas de longo alcance”.
Todas as linhas vermelhas autoimpostas pelo imperialismo desde a conflagração do conflito já foram rompidas. O envio dos mísseis de longo alcance para uso defensivo, de tanques de guerra e, até mesmo, de caças aéreos, os jatos F-16. O último passo seria autorizar o bombardeio de grandes cidades russas, de instalações estratégicas que afetem a população civil, algo muito mais danoso que a desastrada incursão na região russa de Kursk, esparsamente povoada e carente de alvos militares relevantes.
Para os ucranianos, à beira do colapso, restam poucas cartas que não o terrorismo através do uso de armamento imperialista de última geração. Do lado da OTAN, pesa a decisão de dar início a um conflito de grandes proporções com uma potência nuclear. Como disse Putin, os mísseis precisam da inteligência imperialista para serem efetivos num eventual ataque contra a Rússia. O conflito, que sempre foi entre OTAN e Rússia, tem a Ucrânia cada vez mais num papel coadjuvante.