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Eleições norte-americanas

Vitória de Kamala Harris será boa para o Brasil?

Candidata do Partido Democrata tem ganhado apoio de um setor da esquerda nacional

As eleições mais importantes do ano de 2024 estão previstas para ocorrem no dia 5 de novembro. Em pouco menos de dois meses, o mundo deverá conhecer o próximo presidente dos Estados Unidos, isto é, quem irá comandar uma máquina de guerra com mais de 1.500 ogivas nucleares, com bases militares em cerca de 80 países e territórios e com um Produto Interno Bruto (PIB) de mais de R$140 trilhões.

A disputa norte-americana, ainda que esteja polarizada entre dois candidatos que representam, em essência os interesses do grande capital, será determinante para o que acontecerá em todo o planeta. Não é à toa, portanto, que, em todos os países do mundo, elas estejam sendo debatidas. Não haveria como ser diferente no Brasil.

Situado a pouco mais de 5 mil quilômetros de distância e conectado territorialmente com os Estados Unidos, nosso país é diretamente afetado pelo que acontece em Washington. A questão que fica, no entanto, é: para o Brasil, que diferença fará se o vencedor for Donald Trump ou Kamala Harris? Um dos dois poderia ser considerado “melhor” para o nosso povo?

Para os bolsonaristas, a resposta é simples. Donald Trump é visto como uma espécie de líder da extrema direita mundial, sendo admirado por Jair Bolsonaro, Javier Milei e outros direitistas latino-americanos. Já para uma parte da esquerda brasileira, seria preciso apoiar Kamala Harris para impedir que o “fascismo” tome conta do País.

O mais importante, no entanto, é perguntar: quem é o candidato dos grandes bancos? Quem é paparicado pela grande imprensa? Quem é o candidato dos poderosos? A resposta é uma só: Kamala Harris.

Tanto Trump quanto Harris são representantes dos inimigos dos trabalhadores em todo o mundo. Tanto um quanto o outro apoiam os crimes de “Israel” na Faixa de Gaza. Tanto um quanto o outro apoia a intromissão norte-americana na política dos países oprimidos. Tanto um quanto o outro estão dispostos a permitir que os bancos continuem controlando a maior economia do mundo.

A diferença fundamental entre o republicano e a democrata, no entanto, está no fato de que o primeiro é o inimigo declarado e a segunda, o inimigo disfarçado. Trump, no último debate, declarou guerra aos imigrantes, dizendo que “milhões” destes entram “no nosso país” e estão “comendo os animais de estimação” da população local. Harris, por sua vez, se apresenta como descendente de imigrantes, como uma pessoa “civilizada”, que promete defender os interesses dos oprimidos.

Essa diferença, ao contrário do que diz parte da esquerda brasileira, não faz com que Harris seja melhor para o Brasil – mas, na verdade, que seja pior. Afinal, como já dizia o revolucionário alemão Wilhelm Liebknecht, “pior que o inimigo declarado é o falso amigo”. Afinal, o inimigo declarado coloca os oprimidos imediatamente em alerta.

Diante da truculência de Trump, não resta dúvidas de que é preciso reagir. Mas e diante dos sorrisos de Kamala Harris, que fazer? Os falsos amigos, na medida em que falam com doçura e apunhalam pelas costas, causam um estrago imensurável nas fileiras dos trabalhadores.

Não é preciso bola de cristal para descobrir quais são as intenções de Kamala Harris. Elas já estão cristalinas no presente. O governo do qual ela faz parte é o maior patrocinador do genocídio na Faixa de Gaza – um genocídio que já ultrapassou todos os limites imagináveis no que diz respeito à barbárie humana.

O governo do qual ela faz parte está estimulando a extrema direita venezuelana – uma espécie de bolsonarismo ainda mais radical – para derrubar o governo de Nicolás Maduro. É isso que a candidata democrata representa.

O truque para apresentar Harris como amiga dos oprimidos – em especial, do povo brasileiro – é o de apresentá-la como uma defensora da “democracia” contra as “ditaduras”. Essa operação ideológica, por sua vez, já vem sendo utilizada em larga escala pelo imperialismo, tendo sido apenas turbinada para a atual etapa.

Há muito tempo, os setores mais poderosos da burguesia mundial convencionaram chamar de “democracia” os seus regimes e de “ditaduras” os regimes inimigos. Foi assim, por exemplo, no final da Segunda Guerra Mundial, quando a “defesa da democracia” acabou servindo para justificar o lançamento de duas bombas atômicas no Japão.

Hoje, está muito claro quem são as “democracias”, de acordo com os critérios do imperialismo: são os Estados Unidos, país que organiza golpes de Estado em todos os continentes todos os anos e no qual o candidato favorito para ganhar as eleições sofreu uma tentativa de assassinato; é a França, país que se sustenta graças ao saque de suas semicolônias na África e no qual o presidente acabou de um golpe na coalizão que venceu as eleições parlamentares; o Reino Unido, que está infiltrado pelos sionismo e está prendendo todo mundo que conteste os crimes de guerra de “Israel”, e a Alemanha, que, até pouco tempo, tinha uma primeira-ministra que ficou 16 anos no poder, garantindo que os bancos de seu país arrasassem as economias vizinhas.

As “ditaduras”, por outro lado, são países como a República Islâmica do Irã, que se recusam a entregar o seu petróleo para as mafiosas petroleiras norte-americanas e que apoiam financeiramente e logisticamente a luta dos palestinos contra o Estado terrorista de “Israel”. São países como a Rússia, que está ajudando os países africanos a se libertarem do jugo imperialista e que está jogando um banho de água fria nos planos de expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). São países como Cuba, que, mesmo diante de mais de seis décadas de bloqueio econômico, sufocando a sua economia, segue garantindo o acesso da população aos serviços básicos que todo Estado deveria prover.

Ao aliciar a esquerda brasileira para a defesa da “democracia” contra as “ditaduras”, o imperialismo não quer apenas o apoio a Kamala Harris e tampouco visa apenas conquistar um apoio ideológico aos seus governos. Esse alinhamento tem, hoje, um sentido estratégico.

O imperialismo vive a pior crise de sua história. Isto é, o sistema montado desde o início do século XX para que o setor mais poderoso da burguesia de um punhado de países ricos dominasse o mercado mundial está ruindo. Há sinais dessa derrocada em toda a parte. A derrota da Ucrânia é iminente, os golpes nacionalistas na África enfraqueceram ainda mais a França e o Estado de “Israel” está com sua capacidade militar esgotada após quase um ano de confrontos com o Eixo da Resistência.

O imperialismo vem de uma sequência cada vez mais perigosa de derrotas. Após a Segunda Guerra Mundial, as revoluções no Vietnã, no Irã, na Argélia e em Cuba expuseram a fragilidade dessa dominação, bem como o fato de a crise imperialista já atingir todos os continentes. No início do século XXI, os desastres no Iraque e no Afeganistão prenunciaram que o esgotamento militar dos norte-americanos estava por vir.

A crise na Palestina é mais grave do que todas essas derrotas juntas. Trata-se de uma revolução que ataca a dominação imperialista no seu mecanismo mais essencial. Se o Estado de “Israel” cair pelas mãos das forças de resistência, será impossível impedir uma convulsão em toda a região. Trata-se de uma região decisiva na economia mundial por causa do petróleo e da comunicação marítima entre os oceanos Índico e Pacífico, e o mar mediterrâneo, que banha a Europa. Se os palestinos saírem vitoriosos, haverá uma tendência revolucionária muito grande que poderá rapidamente se expandir para todo o Oriente Médio, o Norte da África e a Ásia Central.

Por mais que a situação seja, desse ponto de vista, extremamente positiva, o imperialismo não irá assistir à sua própria derrocada de braços cruzados. E, por isso, se prepara, em vários sentidos, para um enfrentamento militar com Rússia, China e Irã. Se prepara tanto do ponto de vista do aumento do efetivo militar e no aumento da produção de armas, quanto no aumento da censura e na propaganda de guerra. É justamente aí que entra a campanha em torno das “democracias” versus “ditaduras”.

Para preparar esse grande enfrentamento com os países que mais desafiam a ordem mundial, os EUA não podem tolerar que os países sobre os quais possui uma grande influência se aliem a seus inimigos. A América Latina, que sempre foi considerada seu quintal, deve estar toda alinhada para um combate ao bloco de países rebeldes. É justamente por isso que há uma tendência golpista muito clara na região.

Apenas nos últimos anos do governo de Joe Biden e Kamala Harris, houve golpes na Argentina, em El Salvador, no Equador e no Peru. Esses países estão hoje sob ditaduras ferozes. Os países com governos mais progressistas, como é o caso do Brasil, da Nicarágua, da Colômbia, da Venezuela, de Honduras e da Venezuela, estão sob uma seríssima ameaça de serem derrubados. Não há maior prova disso que as recentes provocações contra o governo Maduro.

Quando a esquerda elege hoje como sua principal bandeira a defesa da “democracia”, ela está, no final das contas, seja ela consciente ou não, se alinhando ao bloco imperialista em meio a esse grande enfrentamento. Não é à toa que o presidente Lula, ao mesmo tempo em que deu declarações favoráveis a Kamala Harris, tem criticado os seus aliados tradicionais, Nicolás Maduro e Daniel Ortega. Não é à toa que a esquerda pequeno-burguesa brasileira tem se calado diante das ameaças aos países vizinhos, ao mesmo tempo que tem repetidamente defendido uma “democracia” em abstrato.

A defesa da “democracia” – ou, pior, a defesa explícita de Kamala Harris – é, neste momento, uma capitulação diante da pressão do imperialismo sobre o país.

Parte da capitulação vem de uma incompreensão da esquerda sobre quem são seus verdadeiros inimigos. Uma vez que a extrema direita vem se fortalecendo no País, o governo brasileiro, cada vez mais acuado, tem sinalizado que o imperialismo, por supostamente não gostar de “ditaduras”, seria um aliado. É o que justificaria, por exemplo, agarrar-se a figuras tão impopulares como Biden e Macron no momento em que eles estão vinculados a um genocídio em curso.

O imperialismo é, de fato, muito poderoso. Mas é uma tremenda ilusão achar que ele irá utilizar todo o seu aparato – sua imprensa, seus exércitos, seus governos – para defender a esquerda da extrema direita. Muito pelo contrário: não é de interesse do imperialismo que a esquerda se fortaleça em lugar nenhum.

Na medida em que aumenta a sua crise, o imperialismo estará disposto a fazer acordos somente com aqueles que jurarem trair o seu próprio povo. Somente estará dispostos a proteger delinquentes como Javier Milei, que é capaz de matar toda a população argentina de fome se assim seus patrões do Fundo Monetário Internacional (FMI) mandarem.

Para Lula e para a esquerda brasileira, o imperialismo não quer acordo nenhum. Uma aliança com esse setor apenas contribuirá para desarmar os trabalhadores diante de um enfrentamento duríssimo com os defensores da “democracia”. E isso será em breve.

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