Diante de um cenário conturbado e potencialmente revolucionário no Peru dos anos 1980, aparece a figura do então pouco conhecido Alberto Fujimori. Nas eleições 1990, ele superou o famoso escritor e direitista Mario Vargas Llosa e impôs uma dura receita neoliberal para a população.
Em 1992, Fujimori deu um golpe militar, dissolveu o Congresso e comandou uma ditadura que durou até o ano 2000. O ex-ditador faleceu na quarta-feira, 11 de setembro, aos 86 anos.
Filho de japoneses e nascido na capital do Peru, se formou em engenharia no país e depois foi estudar na França e nos Estados Unidos. Se casou com uma peruana também filha de japoneses. No seu currículo, uma sangrenta repressão ao partido revolucionário Sendero Luminoso, a esterilização forçada de dezenas de milhares de pessoas e o pacote neoliberal imposto pelos EUA. Dentre os três feitos, certamente o “choque” neoliberal figura como o mais destrutivo e o fio condutor de todas as políticas que implementou contra o povo peruano.
O Sendero Luminoso, como era conhecido o Partido Comunista do Peru, surgiu no final da década de 1960. O partido canalizava a resistência popular contra os seguidos regimes antipopulares no país. A ditadura de Fujimori afogou a guerrilha em sangue, deixando um saldo de dezenas de milhares de mortos.
Principal liderança do movimento, Abimael Guzmán, foi presa em 1992, situação que perdurou até sua morte em 2021, também em um 11 de Setembro e aos 86 anos. O escândalo das esterilizações forçadas, que veio a ser investigado muitos anos após os acontecimentos, é um exemplo do quanto os governos fantoches do imperialismo estão inclinados a cometer loucuras.
Numa medida para reduzir a pobreza, o governo promoveu uma campanha massiva de esterilização de camponeses e indígenas, especialmente as mulheres, com o nome de Programa de Saúde Reprodutiva e Planejamento Familiar. A ação foi levada adiante mediante mentiras ou ameaças. Uma força de forçar as esterilizações era a ameaça de que as pessoas teriam auxílios governamentais cortados.
Os números oficiais apontam que entre 1996 e 2001 foram realizadas 273.684 laqueaduras e 22 mil vasectomias. A medida de controle social, digna de um governo nazista, veio na esteira do pacote neoliberal determinado pelo imperialismo no Consenso de Washington. A violência do golpe contra a população fez com que a conta de luz aumentasse cinco vezes, a de água oito vezes e a gasolina cerca de três mil vezes.
Fujimori desregulamentou a economia para saciar o apetite dos especuladores financeiros e reduziu radicalmente o tamanho da assistência estatal para o povo peruano.
Em 1992, deu um golpe de Estado para facilitar a imposição desse pacote indigesto. A perseguição, sequestro e assassinatos promovidos pelo governo não se restringiram a integrantes da resistência armada, mas a quaisquer opositores. Chegou a ser apelidado de “Chinochet”, em comparação ao ditador chileno Augusto Pinochet. O “chino” seria de “chinês”, designação comum na época a pessoas de origem asiática.
Os escândalos de corrupção foram se acumulando ao longo dos anos e Fujimori aproveitou uma viagem a Brunei, no sudeste asiático, para fugir para o Japão. De lá pediu sua renúncia por meio de um fax e buscou asilo político.
Manteve, no entanto, seus filhos na política peruana. Sua filha Keiko Fujimori é presidente do partido Força Popular e chegou a cogitar lançar o pai como candidato à presidência ou ao senado nas eleições de 2026.