Ocorrida em agosto de 1982, a evacuação da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) de Beirute foi o começo de um processo de desmoralização e capitulação da entidade. A Operação Paz para a Galileia, como foi nomeada a invasão israelense no Líbano, expôs as fragilidades de um movimento que perdia força e que seria fundamental para o massacre de Sabra e Chatila, marcando o descenso da organização.
Desde que se estabeleceu em Beirute, a OLP, liderada por Iasser Arafat, buscava se consolidar como um governo em exílio, administrando uma presença militar e política no coração do Oriente Médio. A Guerra Civil Libanesa iniciada em 1975 serviu como pretexto para a invasão israelense de 1982, não sendo, portanto, um simples movimento militar, mas parte de uma estratégia coordenada para minar a resistência palestina e reorganizar o Líbano.
O pretexto de “proteger” a Galileia, utilizado pelo governo israelense, escondeu o verdadeiro objetivo: desmantelar a presença palestina e garantir a ditadura de seus aliados, que também tinham interesse em eliminar a OLP do território libanês. A Operação Paz para a Galileia, longe de ser uma medida defensiva, foi uma agressão premeditada, destinada a quebrar a espinha dorsal da resistência armada da OLP.
Quando a evacuação das forças da OLP começou em 21 de agosto de 1982, sob a supervisão de uma força imperialista composta por tropas dos Estados Unidos, França e Itália, os líderes palestinos e seus combatentes seriam transportados para fora do Líbano, tendo que se reorganizar em outros locais, como a Tunísia. O significado da evacuação era claro: o regime sionista, com sua agressão desmedida, havia conseguido derrotar a OLP, forçando-a a abandonar uma de suas bases mais estratégicas. O pacto mediado pelos Estados Unidos e apoiado pela ONU, sendo apresentado como uma solução pacífica para a crise, mas, na prática, representava o início de uma nova fase de subordinação e martírio para o povo palestino.
Durante o processo de evacuação, as forças da OLP enfrentaram inúmeros desafios. Arafat deixaria o Líbano sob intenso cerco militar e em meio a uma crise humanitária. A retirada se estendeu até 30 de agosto de 1982 e terminou com a maioria das forças da OLP sendo realocadas para a Tunísia, deixando para trás, porém, a simpatia da comunidade xiita libanesa, que se materializaria no partido revolucionário Hesbolá, cujo núcleo inicial fora formado dois meses antes da evacuação.
A capitulação da OLP em Beirute, contudo, não significou o fim imediato das hostilidades. O massacre de Sabra e Chatila, que aconteceu apenas semanas depois, entre os dias 16 e 18 de setembro de 1982, foi uma das maiores atrocidades cometidas contra o povo palestino. Com a evacuação da OLP, os campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila foram cercados por milícias cristãs libanesas, as quais, com a total conivência e apoio militar de “Israel”, cometeram um verdadeiro genocídio. Milhares de palestinos, entre eles mulheres, crianças e idosos, foram brutalmente assassinados. A evacuação das forças da OLP, em vez de trazer paz, deixou os civis palestinos à mercê dos seus inimigos mais cruéis.
“Israel” supervisionou todo o massacre, e a responsabilidade pelos horrores cometidos recai diretamente sobre o seu comando militar. A ONU e outras potências internacionais, por mais que tenham intermediado o acordo de evacuação, se mostraram completamente indiferentes à carnificina. O massacre de Sabra e Chatila foi o corolário do processo de capitulação da OLP: com sua saída, o povo palestino ficou desprotegido e à mercê da vingança das forças que queriam eliminá-los de uma vez por todas.
A retirada para a Tunísia representou um claro retrocesso estratégico para a OLP. Longe do campo de batalha e sem uma base regional sólida, a organização se viu obrigada a redefinir suas estratégias e, gradualmente, ceder aos ditames impostos por seus inimigos. Esse processo de capitulação culminou, anos mais tarde, nos desastrosos Acordos de Oslo, assinados em 1993. Oslo foi, em muitos aspectos, a continuação lógica da evacuação de Beirute: a OLP, desmoralizada, em crise e sem alternativas, foi forçada a reconhecer o Estado de “Israel” e a abdicar de uma luta armada que, décadas antes, tinha sido o coração de sua estratégia.
Os Acordos de Oslo demarcam a rendição final da OLP. Sob o pretexto de buscar uma solução pacífica, Arafat e sua organização aceitaram concessões impensáveis, abandonando a luta pela libertação da Palestina em troca de promessas vazias de uma futura autonomia limitada. A evacuação de Beirute, portanto, deve ser vista como o marco inicial dessa trajetória de capitulações sucessivas, que culminou na aceitação de uma “paz” que nunca trouxe qualquer benefício real ao povo palestino.
A evacuação ocorrida em Beirute, 1982 foi o ponto de virada que precipitou o declínio da resistência palestina no Oriente Médio. O partido que representou a luta contra o sionismo, viu-se, ao longo dos anos, envolvida em um processo de crescente subordinação e capitulação. O massacre de Sabra e Chatila, a retirada para a Tunísia, e a eventual assinatura dos Acordos de Oslo, são todos capítulos de uma desmoralização que impulsionaria uma outra organização, ainda mais radical: o partido Movimento Resistência Islâmica (Hamas).