A burocracia sindical, que defendeu a proposta dos banqueiros de arrocho salarial por mais de dois anos na Campanha Salarial da Categoria Bancária de 2024, faz mais demagogia com a categoria e pensam que os trabalhadores são verdadeiros idiotas.
Em matéria veiculada no site da Contraf (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) do dia 10 de setembro, dão saltos de alegria com a notícia de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) teve redução no mês de agosto de 0,14%, com isso saíram entusiasmados com o seguinte título: “com a divulgação do INPC oficial de agosto, aumento real dos bancários consolida-se em 0,9%”. Ou seja, ao invés da tão comemorada “vitória” de 0,7% de ganho real, os bancários podem ficar mais satisfeitos ainda, já que foram acrescidos gigantescos 0,2% nos seus vencimentos.
O que a categoria bancária está mais uma vez vivenciando é a repetição da farsa da campanha salarial passada onde aprovaram um índice fajuto (INPC + 5% de “ganho real”), ou seja, pedem pouco para receber nada, como o atual acordo, em que reivindicaram o mesmo índice da campanha passada, para no final das contas defenderem a aprovarem um índice ultra rebaixado do INPC + 0,9% de “ganho real”.
A política de reivindicar um reajuste miserável (em alguns bancos a perda salarial passa dos 30%) é a política de abandono das perdas salariais, ou seja, uma política dos pelegos.
Se utilizam das mesmas ladainhas, do tipo de que na atual conjuntura é impossível arrancar o que os banqueiros roubaram da categoria devido a questão da ultratividade, reforma trabalhista, vão por fim com a CCT, ou coisa que o valham, sendo que não organizaram qualquer tipo de mobilização dos trabalhadores no sentido de barrar a ofensiva reacionária dos banqueiros, para no final das contas aprovarem mais arrocho salarial para os bancários, pedem pouco para que a categoria saia sem nada.
Com o tal reajuste, migalhas caídas da mesa dos banqueiros, o piso da categoria (escriturário) passa dos “fabulosos” R$2.921,64 para os “maravilhosos” R$3.197,22. É ou não é um salário estupendo… se comparado com os lucros dos banqueiros, que em 2023 faturaram mais de R$145 bilhões.
Segundo dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), para que uma família trabalhadora, composta por dois adultos e duas crianças, tenha as suas necessidades básicas garantidas pela Constituição Brasileira, o salário mínimo necessário deve ser de R$6.606,13, ou seja, os bancários hoje, com esse “novo” acordo, irá receber metade de um salário necessário para que uma família possa sobreviver, conforme estudo da instituição que presta consultoria para a classe trabalhadora. Consta na pauta de reivindicação, aprovada pela categoria na Conferência Nacional, a proposta do aumento do piso dos bancários com base nos estudos do Dieese, mas como se pode ver o desfecho da campanha, nada foi feito pela burocracia nesse sentido.
Aí, para encobrir a farsa da campanha salarial, a burocracia sindical utiliza a PLR (Participação nos Lucros e Resultados) como um meio para iludir os trabalhadores. Um instrumento político dos patrões que tem como natureza evitar o aumento real e manter a divisão dos trabalhadores. A PLR serve como um meio para os patrões evitarem aumentos salariais, mantendo os salários congelados e, portanto, desvalorizando o poder de compra dos mesmos. Também é um instrumento de barganha do patrão na hora que a categoria for discutir o aumento salarial. Os bancos, manipulando as dificuldades econômicas dos trabalhadores criados pela sua política de arrocho, desvia reivindicação salarial para que os trabalhadores, se contentem com esta espécie de abono, que não incide na folha de pagamento, não é incorporada nos salários, nem nos seus benefícios e direitos (FGTS, férias, décimo terceiro, etc.). Desta forma, todas as vezes que os trabalhadores quiserem ir à luta contra o arrocho salarial lançam mão da PLR (e contam com colaboração prestativa das direções sindicais) para convencer a parcela mais atrasada da categoria a aceitar um ganho imediato e ilusório, abrindo mão da luta pelos salários.
Os bancários, nesta campanha salarial, estão amargando mais uma derrota . Além do reajuste rebaixado, o desfecho da campanha salarial deixou os trabalhadores de mão e pés atados por dois anos, devido ao famigerado acordo bianual, diante aos banqueiros, que certamente diante do aprofundamento da crise nacional e internacional, aprofundarão os seus ataques contra os trabalhadores, com mais demissões, arrocho salarial, aumento do assédio moral em função das metas, etc.
O que ocorre com as direções sindicais dos bancários, o mesmo fenômeno que com muitas outras categorias e seus sindicatos por todo o País: “nossos”dirigentes sindicais já não são mais nossos, perderam o ímpeto (se é que já tiveram algum), acomodaram-se, assumiram-se como conservadores, e nesse sentido colaboradores de primeira linha como os patrões.
Nesse sentido coloca-se para a categoria bancária a necessidade de organizar uma nova direção para os bancários, isso passa em primeiro lugar pela construção de oposição revolucionárias em todos os sindicatos e a construção de uma fração anti burocrática, que agrupe os ativistas sob um programa classista que deve colocar em pauta, em primeiro lugar, a questão de uma verdadeira unificação das campanhas salariais (hoje mesmo tendo uma mesa única com a Fenaban, há os acordos específicos por bancos, as assembleias sem virtuais sem a participação efetiva do bancários e realizados por bancos, etc.) e o fim da política patronal de divisão dos setores mais avançados dos setores mais atrasados.