Caso Silvio Almeida

Valter Pomar: palavra da Febraban vale mais que provas

Articulista aplaudiu decisão do governo Lula de demitir Silvio Almeida sem que esse tenha sido efetivamente investigado

No artigo Novamente sobre a demissão de Silvio Almeida, Valter Pomar, dirigente da Articulação de Esquerda, corrente do Partido dos Trabalhadores (PT), saiu em defesa da caça às bruxas identitária estabelecida após as denúncias de supostos casos de assédio envolvendo o então ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. Em artigo anterior, intitulado Sobre a demissão de Silvio Almeida, Pomar, embora falasse muito e explicasse pouco, já havia demonstrado satisfação com uma nota do Diretório Nacional do PT, que dizia que “assédio sexual é intolerável e este é o sentido da decisão do presidente Lula, de afastar o ministro Silvio Almeida”. No novo artigo, Pomar apresenta seus argumentos para embasar a sua decisão, motivado pelo fato de que uma integrante de sua corrente não foi tão tonta e escreveu um artigo alertando para os perigos de uma caça às bruxas desse tipo.

Pomar inicia sua argumentação dizendo que sua colega de corrente, Tânia Mandarino, afirma que não está “defendendo nem Silvio Almeida nem Anielle Franco, porque as investigações dirão o que de fato aconteceu. Eu não boto minha mão no fogo por nenhum dos dois”. Para Pomar, “não estamos diante de um conflito de versões entre duas pessoas. Estamos diante de uma situação em que uma pessoa foi alvo de várias acusações, feitas por muitas pessoas”.

Isso, no entanto, não significa absolutamente nada. Quando se fala em investigações, o objetivo não é contabilizar quantas pessoas defendem uma “versão” e quantas pessoas defendem outra. As investigações visam estabelecer a verdade por meio de provas. O que Pomar quer é, portanto, substituir as provas pela quantidade de declarações defendendo uma determinada “versão”.

As consequências para os direitos democráticos da concepção de Pomar são brutais. Afinal, o número de pessoas que faz acusações não quer dizer nada. Na verdade, levando em consideração que a burguesia é quem detém o monopólio dos órgãos de comunicação e é a classe que normalmente toma a iniciativa nos conflitos, o natural é que a “versão” predominante sempre seja a dos poderosos.

Para comprovar isso, basta analisar o conflito entre “Israel” e os palestinos. Quantas milhares de denúncias aparecem de que os combatentes do Hamas supostamente teriam estuprado pessoas? E quantas denúncias aparecem de que, na verdade, os soldados israelenses que estupram as mulheres e mesmo os homens palestinos? Segundo Pomar, a verdade estaria com “Israel”, estamos diante de um grupo que “foi alvo de várias acusações, feitas por muitas pessoas”. O fato de que nenhum dos supostos estupros cometidos pelo Hamas foi provado e de que, por outro, estupros contra palestinos tenham sido comprovados não tem a menor importância, segundo o dirigente da Articulação de Esquerda.

Convém lembrar, também, que a principal organização responsável pelas denúncias é a Me Too Brasil, uma Organização Não Governamental (ONG) financiada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Pomar, então, parte para uma verdadeira barbaridade:

“Ademais, adoraria ter a convicção de que as ‘investigações dirão o que de fato aconteceu. Como é de conhecimento público, o número de crimes contra a mulher é muito maior do que o número de denúncias, entre outros motivos porque é muito difícil condenar e provar, o que não quer dizer que o crime não tenha sido cometido”.

Ora, se Pomar defende que alguém seja demitido porque foi acusado de algo e que essa acusação dispense investigações porque é difícil condenar e provar, ele está admitindo que não é necessário provar absolutamente nada nos casos de crimes envolvendo mulheres. Com um típico identitário, para fazer demagogia com as mulheres, Pomar quer estabelecer que basta a palavra de uma mulher para condenar automaticamente um homem. É a defesa da total selvageria jurídica que, inevitavelmente, levará a uma piora nas condições de vida das mulheres.

Pomar pode não ter se dado conta, mas quando um homem é condenado pelo Judiciário de ter cometido algum crime sem que haja provas, várias mulheres são afetadas. Esse homem é filho de uma mulher, é pai de uma mulher, é irmão de uma mulher, é marido de uma mulher… E todas elas acabam sendo afetadas pela arbitrariedade do Estado. Ademais, a ausência de provas para condenar um homem em caso de assédio abre o caminho para que novas arbitrariedades sejam cometidas com a população em qualquer situação, incluindo as que envolvam as mulheres diretamente.

Pomar segue, então, mostrando seu incômodo com a seguinte frase proferida por sua colega de corrente: “ouvido tanta besteira nos grupos, tanta besteira, que quis vir aqui contribuir, mesmo sob o risco de ser cancelada pelo identitarismo vigente que está causando esse estrago no país”. Segundo Pomar, ele não vê estrago nenhum causado pelo identitarismo. Diz ele que, “na longa lista daquilo que causa ‘estrago’ em nosso país – incluindo aí a violência contra as mulheres em geral e contra as mulheres negras em particular – o ‘identitarismo’ seguramente não ocupa os primeiros lugares”.

Pomar diz isso porque ele próprio é um identitário. Mas não é preciso muito esforço para entender como o identitarismo está destruindo o País. A ideia de que os interesses gerais da população deveriam ser substituídos por interesses específicos de determinados indivíduos tem sido utilizada para promover uma censura total no Brasil. Graças aos identitários, hoje os sionistas podem acusar pessoas como o jornalista Breno Altman de ser racista! Isso só foi possível graças ao trabalho de pessoas que, em vez de lutar para elevar as condições de vida do povo trabalhador, incluindo aí a população negra, saíram caçando qualquer um que dissesse uma palavra que, na opinião delas, seria “racista”.

Essa campanha identitária pode ter sido bom para que meia dúzia de negros – e até mesmo brancos – vendessem seus manuais sobre o que pode ou não ser dito. Pode ter sido bom para que censurassem adversários. Mas, para o conjunto da população, só trouxe ainda mais arbitrariedade.

Os mesmos identitários defendem manter a população na miséria para não explorar o petróleo da Margem Equatorial. Tudo para fazer uma demagogia com as pessoas que se dizem preocupadas com o “meio ambiente”. Vale, por fim, destacar, que os mesmos identitários jogam água no moinho da extrema direita, defendendo coisas absurdas como o “banheiro unissex” nas escolas, o que faz com que uma parcela da população veja a esquerda com maus olhos.

O mais grotesco de toda a argumentação de Pomar é que ele, enquanto filiado ao Partido dos trabalhadores, admite que o mesmo tipo de campanha histérica que foi feita com Silvio Almeida já foi feita, com muito mais intensidade, em outro período, para preparar um golpe de Estado. O julgamento da Ação Penal 470 – mais conhecido como “julgamento do mensalão” – foi exatamente da mesma forma. Não havia provas, mais centenas de manchetes. Não havia provas, mas acusações vindas da boca dos maiores corruptos do País. E assim o quadro dirigente do PT foi preso, e assim abriu-se o caminho para a derrubada de Dilma Rousseff e assim abriu-se o caminho para a prisão de Lula.

Ao comentar o que ocorreu com o PT no passado, no entanto, Pomar afirma que “a condenação política – tão fácil neste ambiente de denuncismo e de redes antisociais – pode criar um ambiente que dificulte, objetivamente, o direito à defesa”, mas que “também pode ocorrer da não condenação política obstaculizar o devido processo, em prejuízo das vítimas, como ocorre no caso do presidente da Câmara dos Deputados, sem falar de outros cidadãos ilustres”.

Em resumo, Pomar é a favor da tal “condenação política” antes da condenação no devido processo. É a defesa explícita de que prevaleça, nas instituições, não a Lei, mas sim a pressão da grande imprensa. Resta agora aguardar para ver qual será a posição de Pomar quando a grande imprensa sacar da cartola o seu Mensalão 2.0.

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