A situação deplorável dos prisioneiros palestinos detidos em prisões israelenses não é uma novidade. No entanto, uma carta escrita pelas lideranças do grupo Jiade Islâmica da Palestina, que estão detidos em “Israel”, nos revela o quanto a situação deteriorou após os ataques de 7 de outubro de 2023.
“O que está acontecendo nas prisões e centros de detenção está além da imaginação e não tem precedentes em toda a história da luta nacional palestina”, diz a carta.
Conforme as lideranças, detentos palestinos estão sujeitos a graves abusos físicos, humilhação, fome, negligência médica deliberada e doenças generalizadas não tratadas devido as precárias condições sanitárias.
“A filmagem vazada de ‘Sde Teiman’ é apenas um vislumbre do terror, das agressões e da violência que sofremos nessas prisões”, disseram as lideranças na carta, em referência à base militar e campo de detenção onde os palestinos sequestrados na Faixa de Gaza estão sendo mantidos e torturados.
Para se ter uma ideia, ainda em agosto de 2024, um vídeo onde um prisioneiro palestino é estuprado coletivamente por soldados israelenses em Sde Teiman emergiu na internet. De acordo com a Sociedade de Prisioneiros Palestinos, cenas como estas são corriqueiras. A organização palestina pediu às Nações Unidas, mais uma vez, uma investigação internacional imparcial sobre a tortura e os abusos sistemáticos cometidos pelas forças de ocupação israelenses contra prisioneiros e detentos palestinos.
No início da semana passada, imagens vazadas pelo jornal israelense Haaretz mostraram as forças de ocupação sionista torturando palestinos em uma de suas prisões, famosa por abusos de direitos humanos.
Os relatórios indicam que o vídeo foi filmado na prisão israelense de Megiddo, na Palestina ocupada. Os detentos são forçados a deitar de bruços no chão, com as mãos amarradas por algemas de polímero descartável atrás das costas, enquanto os soldados se movimentam ao redor dos cães para aterrorizar e abusar dos palestinos.
Se examinadas de perto, muitas das pessoas detidas que aparecem nas filmagens, aparentam serem adolescentes, o que corrobora os relatos de que as forças armadas de ocupação sionista detém jovens palestinos em massa.
De acordo com a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente, as imagens apenas arranham a superfície dos crimes horrendos cometidos contra os prisioneiros palestinos.
As lideranças detidas em “Israel”, pertencentes à Jiade Islâmica Palestina, também concordam com a agência da Organização das Nações Unidas, declarando em sua carta que tais abusos praticados contra os detentos palestinos não se limitam a um centro de detenção ou prisão.
A carta alertou sobre “tentativas de assassinato” contra líderes palestinos presos que estão isolados em “celas, locais e campos desconhecidos”. O que torna a situação ainda mais dramática, porque os prisioneiros nestas localidades desconhecidas, além de não possuírem direito à ampla defesa, se quer sabemos se estão vivos, ou mortos.
“Convocamos nosso povo, sob a liderança da Resistência, a formar uma liderança coletiva baseada na Resistência para enfrentar as tentativas de apagar e deslocar nosso povo.”
– Liderança da Jihad Islâmica da Palestina
Crime de Guerra
A Sociedade de Prisioneiros Palestinos afirmou ainda que o estupro do detido palestino é apenas um dos muitos casos de abuso cometidos por soldados da ocupação contra os prisioneiros de Gaza, especialmente no campo de Sde Teiman.
A organização criticou as repetidas alegações israelenses sobre a intenção de investigar e responsabilizar os soldados envolvidos no crime de estupro no campo de Sde Teiman, chamando isso de “uma clara tentativa de evitar qualquer investigação internacional” sobre o ocorrido.
Também foi destacado pela Sociedade de Prisioneiros Palestinos que, desde o início do atual conflito na Faixa de Gaza, a ocupação israelense tem se recusado, frequentemente, a permitir que o Comitê Internacional da Cruz Vermelha visite os detentos, sujeitando a maioria dos prisioneiros ao desaparecimento forçado.
Usar a população, de mais de 2 milhões de civis palestinos, como arma de guerra, ao bloquear acesso à comida e água, tanto para beber, quanto para higiene –, a medicamentos e suprimentos médicos, bem como a energia e combustível – necessário para movimentar as usinas de dessalinização de água e movimentação de ambulâncias e acesso à internet, configura crime de guerra.
Obviamente, a estratégia israelense configura tratamento desumano e degradante, deliberadamente infligido a toda população civil palestina, como tipifica a Convenção das Nações Unidas contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes (1984, em vigor desde 1989).
Já o que ocorre com os prisioneiros palestinos nos campos de detenção e prisões israelenses, é o retrato cabal do escárnio sionista perante a Declaração Universal dos Direitos humanos, documento fundante da ONU, organização internacional da qual Israel faz parte.