No artigo Moraes higienizou eleição de 2024, Eduardo Guimarães, editor do Blog da Cidadania, apresenta publicamente uma das teses mais reacionárias defendidas pela esquerda pequeno-burguesa no último período: a de que a censura contra a extrema direita seria algo positivo para o País. Segundo o autor, a recente decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de suspender a plataforma X “extirpou uma vantagem injusta e incrivelmente expressiva do ex-presidente e de seus candidatos nas eleição deste ano”. E, sendo assim, “com o apoio do STF em peso, do governo federal, da Procuradoria Geral da República e de nove entre dez juristas, Alexandre de Moraes promoveu uma forte higienização do processo eleitoral de 2024″.
Goste do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ou não, goste do dono do X, Elon Musk, ou não, o fato é que, analisando friamente o que Guimarães diz, somos obrigados a reconhecer que o Estado – Moraes, juízes, governo federal, Procuradoria Geral etc. – decidiu eliminar, do cenário político, uma determinada força política. O nome disso é censura.
Antes de tudo, é preciso destacar o caráter ilusório desse tipo de medida. O bolsonarismo é um fenômeno que envolve milhões de pessoas. Nas últimas eleições, Bolsonaro teve 58 milhões de votos – a segunda maior votação que um candidato a presidente já teve na história. Não é possível derrotar uma força dessa por meio de medidas burocráticas – prendendo dirigentes ou censurando sua imprensa. Pelo contrário: quanto maior os ataques covardes, baseados em ilegalidades, mais o bolsonarismo será visto como uma força perseguida – e, portanto, que merece solidariedade.
O desastre dessa política pode ser visto com muita clareza na candidatura do ex-presidente republicano Donald Trump. Quanto mais processos aparecem contra ele, mas cresce a sua candidatura, mais cresce o volume de doações.
Não bastasse o problema das ilusões, há ainda o problema democrático. Defender que um setor da sociedade, seja ele qual for, seja censurado é o mesmo que defender que não haja liberdade de expressão. Afinal, a liberdade de expressão é para todos: ou existe liberdade de expressão ou existe um juiz que determina o que pode e o que não puder ser dito.
A esquerda que defende a censura está cavando a própria cova. Afinal, está fortalecendo o Estado para que persiga os seus cidadãos. Quanto mais forte o Estado, mas ele terá condições de censurar a própria esquerda. E é o que está acontecendo neste momento com aqueles que saem em defesa do povo palestino.
A argumentação de Guimarães é falha também sob outro aspecto. Embora seja equivocado defender a censura contra a extrema direita, a medida de Moraes não foi contra Bolsonaro em si, mas toda uma rede social. Diz o autor: “em primeiro lugar, lembremo-nos de que de todas as caudalosas redes de Jair Bolsonaro, o uso desmesuraddo (sic) de inteligência artificial (robôs) para bombar artificialmente os números de engajamento só não era usado em uma grande rede, a de Elon Musk, aliado incondicional do ex-presidente. O X deprimiu drasticamente o engajamento da esquerda ou de qualquer outro agente político não-alinhado ao bolsonarismo e intensificou o engajamento da extrema-direta manipulando seus algorítmos (ordens programadas para alterar repercussão de postagens nas redes sociais)”.
Guimarães esquece, no entanto, que o presidente Lula publicava mensagens praticamente diárias no X. O próprio Partido dos Trabalhadores (PT) publicou no X mesmo depois de Moraes determinar a sua suspensão.
O fato é que o X é uma plataforma utilizada por mais de nove milhões de brasileiros, que defendem as mais diversas ideologias. Não existe um único estudo sério sobre o perfil das pessoas que navegam na plataforma. No entanto, todos sabem que o X é a rede social mais utilizada para discutir política – tanto pela direita, quanto pela esquerda, quanto pela própria imprensa.
No desespero de defender Moraes, a esquerda pequeno-burguesa, a exemplo de Guimarães, se volta contra os direitos democráticos de nove milhões de pessoas. É a demonstração mais cabal de que, caso a esquerda permaneça abraçada à direita, irá se afundar com ela.