Há cerca de quatro anos, a esquerda pequeno-burguesa aplaudia a prisão “em flagrante” do então deputado federal Daniel Silveira (PL-RJ), que teria cometido o crime de gravar um vídeo ofendendo a honra do senhor Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao fazê-lo, a esquerda pequeno-burguesa não apenas aplaudiu o atropelo aos direitos democráticos de uma pessoa, como aplaudiu o único ministro do STF indicado pelo golpista Michel Temer e ainda aplaudiu a Lei de Segurança Nacional da ditadura militar.
Por mais equivocada que fosse a posição à época, alguém poderia dizer: não se trata de um enfrentamento do Estado brasileiro contra o povo seu povo, mas apenas o enfrentamento entre o bolsonarismo e a “democracia”. Não tardou muito e um ativista que nada tem de bolsonarista foi enquadrado na mesma lei macabra. O petista Rodrigo Pilha foi preso em Brasília com base na Lei de Segurança Nacional. Isso, no entanto, não foi suficiente para que a esquerda pequeno-burguesa revisse a sua posição de apoio às arbitrariedades de um juiz de direita.
Hoje, no entanto, a situação se revelou da maneira mais cristalina possível. Alexandre de Moraes não está apenas perseguindo alguns “bolsonaristas”, como se dizia. Afinal, quando o Estado ganha poderes para perseguir alguém, ele inevitavelmente irá perseguir cada vez mais pessoas. Uma lei da censura é que, uma vez instaurada, ela sempre foge de controle. A censura, no final das contas, é a lei da barbárie. É instituir que cada juiz, de acordo com as suas próprias conveniências, pode censurar quem quiser.
A situação evoluiu a tal ponto que Moraes, com uma única canetada, censurou mais de nove milhões de usuários da plataforma X. Com uma só canetada, ele calou quase 5% de toda a população brasileira – população essa que não tem como divulgar o que pensa nas rádios, na televisão ou nos jornais.
Apoiar Moraes neste momento é apoiar uma censura brutal contra si próprio. Milhares de usuários utilizam o X hoje em dia para denunciar as autoridades, para defender um programa de esquerda, para defender bandeiras como o fim do genocídio do povo palestino. A suspensão do X serve, finalmente, aos interesses de monopólios como a Rede Globo, que foram parte fundamental do golpe de Estado contra o governo de Dilma Rousseff (PT).
E não para por aí. Apoiar Moraes é apoiar uma das medidas mais impopulares de todos os tempos. É apoiar a política dos poderosos que, de tanto medo do povo, não suportam o mínimo de liberdade de expressão.
É preciso corrigir imediatamente o rumo da política do conjunto da esquerda em relação aos direitos democráticos. Do contrário, será cúmplice de uma ditadura ainda mais feroz que a imposta pelos militares.