A guerra de libertação nacional da Palestina se tornou uma guerra geral contra o imperialismo no Oriente Médio. Uma das principais bases de atuação imperialistas na região nos últimos anos foi o Curdistão, principalmente na Síria e no Iraque, dois países onde há ocupação militar dos EUA. Os norte-americanos cooptaram um setor dos curdos como base de apoio para atacar os governos desses dois países e tentam fazer o mesmo com a Turquia e o Irã. Agora que a dominação dos EUA está ameaçada os curdos pró-imperialistas ficam cada vez mais expostos.
A “Justice for Kurds” é um grupo sem fins lucrativos sediado nos EUA, criado em 2017, com a proposta de ser uma iniciativa franco-americana destinada a defender o povo curdo. O elemento francês do grupo é liderado por Bernard-Henri Lévy, que é o presidente. Já o presidente norte-americano é Dr. Thomas S. Kaplan, membro do Council on Foreign Relations e associado ao Belfer Center da Universidade de Harvard, onde criou o programa de Recanati-Kaplan Intelligence Fellows.
A Escola Kennedy de Harvard, onde o programa está sediado, é fundamental para fornecer cobertura acadêmica às intervenções imperialistas dos EUA. A longa lista de membros do conselho consultivo evidencia bem esses interesses.Entre os membros do conselho consultivo estão mais de 10 ex-oficiais militares ou do chamado contraterrorismo, incluindo o Tenente-General Graeme Lamb, ex-diretor das Forças Especiais do Reino Unido, o General Stanley A. McChrystal, ex-comandante do Comando de Operações Especiais dos EUA, o General David Petraeus, ex-diretor da CIA, e Robert Richer, ex-Diretor Adjunto de Operações da CIA.
Já o Reino Unido é bem representado por sionistas notórios, incluindo Mick Davis da United Jewish Israel Appeal, Jonathan Mendelsohn e Stuart Pollack, ambos ligados ao lobby sionista. Tanto Lévy quanto Kaplan são conhecidos por seu sionismo. Um relatório de 2021 informou que a organização doou 100.000 libras para o Middle East Media and Research Institute (MEMRI), o uma organização sionista da mídia, dirigida por um ex-coronel do exército de “Israel”. Ou seja, os curdos, como todo aliado do imperialismo, tem amplas ligações com o sionismo.
A ONG Justice for Kurds tem um aliado aparentemente improvável em um grupo de esquerda chamado Progressive International. Juntos, entregaram uma carta às instituições da União Europeia pedindo a remoção do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) da lista de grupos terroristas. A Progressive International é uma criação dos grupos Democracy in Europe movement (DM25) e Sanders Institute.
O Sanders Institute é a organização criada pelo senador democrata de Vermont Bernie Sanders. Grande parte do dinheiro doado a Sanders para a corrida presidencial foi desviado para a criação do Sanders Institute. Entre os doadores a Sanders estava a maior empresa de armamentos dos EUA. A Progressive International, embora seja ambigua em relação ao sionismo, está totalmente comprometida com a operação imperialista no Curdistão da Síria.
Em 2017, o Primeiro-Ministro Benjamin Netaniahu disse: “Israel se opõe ao PKK e o considera uma organização terrorista“. Isso foi interpretado como um contraponto ao ex vice-chefe do Estado-Maior do exército sionista, Jair Golan, que afirmou não considerar o PKK um grupo terrorista.
No entanto, em 2022, o Mossad ameaçou a inteligência turca afirmando que “Israel” estava pronto para cooperar com o PKK caso a Turquia continuasse seu apoio ao braço militar do Hamas. Isso ocorreu após três agentes do Mossad serem presos na Turquia em 2022 por espionagem.
Os curdos e a guerra na Síria
O imperialismo tentou derrubar o governo de Bashar al-Assad na Síria a partir de 2011. Assim armou uma grande quantidade de grupos religiosos, que outrora seriam chamados de terroristas pelos EUA, que ficaram conhecidos como Exército Livre da Síria (ELS). Este grupo não conseguiu derrotar Assad. Os curdos por sua vez também se armaram e começaram a lutar principalmente em seu território, no norte da Síria.
Com o avanço do Estado Islâmico, a partir de 2013, os curdos foram um dos principais grupos atacados. Eles lutaram contra o Estado Islâmico e ficaram famosos nessa luta. Neste momento o governo da Síria, em conjunto ao Irã e ao Hesbolá, com ampla participação do general Qassem Soleimani, travaram uma gigantesca guerra contra o Estado Islâmico e, após muitos anos foram vitoriosos.
Os EUA, percebendo que Assad seria vitorioso também começaram a recuperar o território da Síria contra o Estado Islâmico (EI). Mas o ELS estava muito desmoralizado, ele inclusive tinha afinidade com o EI. Assim os curdos foram a nova base para a ação dos EUA. Assim foram criadas as Forças Democráticas da Síria (FDS), um grupo armado liderado pelos curdos que atua em defesa dos interesses dos EUA. É no território controlado pelas FDS que está a maioria das bases dos EUA na Síria.
Esse processo que aconteceu a partir de 2015 deu origem a essa campanha das ONGs imperialistas. Os curdos foram propagandeados como revolucionários feministas e ecologistas. O que essa propaganda escondia é que eles são uma cobertura para a ocupação militar dos EUA na Síria. Foi uma operação usada para confundir a esquerda mundial durante essa operação dos EUA que tinha muito repúdio internacional.
Agora os EUA estão prestes a serem expulsos da Síria e do Iraque e os curdos começam a perceber que precisam se realinhar ou podem se encontrar do lado errado de uma guerra muito violenta. A crise já aparece com setores querendo voltar atuar junto a Bashar al-Assad. Fato é, os EUA utilizam populações oprimidas do mundo e depois as abandonam. Pode ser que haja uma tragédia no curdistão caso o imperialismo tente jogar os curdos contra o Eixo da Resistência.