Nicolás Maduro é o presidente eleito da Venezuela, mesmo que o Secretário de Estado norte-americano Antony Blinken (conhecido por intervenções golpistas em outros países) pense diferente. Javier Milei, o ultra direitista argentino, e Gabriel Boric, o suposto esquerdista do Chile que mantém milhares de pessoas presas por se manifestarem contra o governo Piñera (do qual Boric alegadamente seria um opositor) também não acham que Maduro foi eleito. Mas o que esperar de governos capachos do imperialismo ou mesmo do próprio imperialismo diretamente? O que é especialmente negativo, do ponto de vista da luta dos povos contra a dominação imperialista, é a posição do governo brasileiro, encabeçado por Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT) e a do governo colombiano, de Gustavo Petro. Os dois governos, que vêm mantendo uma posição centrista diante da eleição venezuelana, publicaram uma nota conjunta no último sábado (24) declarando não reconhecer os resultados proclamados nem pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela, nem pela oposição golpista e pró-imperialista. Eles também condenam as sanções do imperialismo pelo país.
O problema dessa posição é que não há um muro para se manter em cima. A Venezuela é um país soberano, que passou por uma revolução e mantém um governo que defende os interesses nacionais contra a dominação imperialista. É, inclusive, um dos poucos países com esse tipo de regime, ao lado de Cuba e Nicarágua. Esse governo nacionalista é dirigido por Nicolás Maduro, que venceu as eleições, como declararam os órgãos competentes da Venezuela. Do outro lado, está a oposição de extrema-direita, que presta contas diretamente ao imperialismo, como fica claro pelas declarações do governo dos EUA em relação às eleições. As instituições eleitorais da Venezuela declararam a vitória de Maduro, a extrema direita latino americana e o imperialismo declararam vitória da oposição, mas Lula e Petro querem mais evidências para tomarem uma posição simples: em defesa da soberania venezuelana.
O documento diz que os governos de Brasil e Colômbia “continuam a aguardar a divulgação, pelo CNE, das atas desagregadas por seção de votação”, como se coubesse a governos estrangeiros analisar detalhadamente a burocracia eleitoral de outro país para reconhecer seu presidente eleito. Maduro apenas reconheceu a vitória eleitoral de Lula, mesmo que a oposição bolsonarista denunciasse fraude. Nem Maduro, nem nenhum outro governo que preza pelo respeito mútuo, pediu nenhum documento a mais para reconhecer Lula como presidente.
Lula parece não perceber que ao não reconhecer diretamente a vitória de Maduro, ele se posiciona objetivamente ao lado da extrema direita e do imperialismo, mesmo que não declare vitória a oposição. Esse posicionamento fortalece a política desses setores golpistas, inclusive dentro do Brasil. A América Latina está tomada por governos golpistas e abertamente ditatoriais, como no Peru e no Equador, e governos direitistas alinhados ao imperialismo, como no Paraguai ou no Uruguai. No resto do mundo, a luta de classes se intensifica. Nesse marco, tentar tomar uma posição centrista apenas enfraquece os governos em geral que lutam pela soberania de seus países, ou seja, enfraquece o próprio governo Lula.
No Brasil, a extrema direita segue se consolidando na mesma medida em que a esquerda capitula. O regime estabelecido após o golpe de Estado de 2016 está bastante enfraquecido e não possui nenhum apoio popular. O que o mantém é a posição da esquerda, em especial a do PT, dado que é o partido com maior base popular do país. Por conta dos embates entre a direita que realizou o golpe de 2016 contra o governo do PT e o bolsonarismo, a esquerda tende a apoiar a primeira, como é o caso do respaldo às arbitrariedades de Alexandre de Moraes e do STF contra as liberdades democráticas. No entanto, nas grandes questões internacionais, fica claro que esses dois setores da direita estão alinhados aos interesses do imperialismo. Na Venezuela, tanto a imprensa bolsonarista como a tradicional imprensa burguesa golpista têm a mesma posição. E Lula concilia com ela.
Essa posição vacilante de Lula, que dificulta o reconhecimento da vitória de Maduro, é um ataque contra seu próprio governo. Diante da ofensiva do imperialismo contra os governos dos países atrasados que lutam por sua soberania, diante do crescimento da extrema direita em escala mundial, diante do recrudescimento dos ataques às liberdades democráticas, também internacionalmente, a capitulação com relação à Venezuela pode ter consequências gravíssimas.
O governo Lula deveria reconhecer a vitória de Maduro imediatamente e se somar aos governos nacionalistas do mundo. É necessário fortalecer a defesa de princípios da soberania dos países e desenvolver os laços entre os países atrasados oprimidos pelo imperialismo. A capitulação no caso venezuelano é um erro gravíssimo do governo Lula que vai se voltar contra ele mesmo e contra a luta dos trabalhadores diante do imperialismo.