A recente troca de prisioneiros entre a Rússia e os EUA trouxe à luz fatos que comprovam as atividades criminosas do imperialismo mundo afora.
Essa foi a maior troca de prisioneiros entre Rússia e EUA, desde o fim da Guerra Fria, e ocorreu em 1° de agosto deste ano. Do lado norte-americano foram libertos, entre outros, o repórter do Wall Street Journal, Evan Gershkovich, e o ex fuzileiro naval, Paul Whelan; suas penas eram de 16 anos, sob a acusação de espionagem.
O político Ilya Yashin, ativista da oposição russa, preso por fazer críticas à intervenção russa na guerra do Donbas, havia sido condenado a oito anos e meio em dezembro de 2022. Está agora livre, na Alemanha, porém ele se diz furioso por ter sido trocado por um assassino.
O assassino a que se refere Yashin é Vadim Krasicov, russo condenado por matar um militante e terrorista checheno, nascido na Geórgia, Zelimkhan Khangoshvili, em Berlim, em 2019. Vadim Krasicov era considerado pela Rússia um prisioneiro de altíssimo valor e o Kremlin fez todos os esforços para libertá-lo.
Que ajudou a esclarecer os fatos foi o político da Geórgia, aliado do imperialismo norte-americano e da OTAN, Giorgi Kandelaki. Indignado com a pouca atenção dada pela imprensa ao caso de Zelimkhan Khangoshvili, ele acabou esclarecendo a estreita ligação de Zelimkhan com a CIA.
Khangoshvili teve toda uma longa trajetória de relação e serviços para o imperialismo através da CIA. Em junho de 2004 comandou militantes chechenos na tomada violenta da cidade de Nazran, na Ingusethia, na qual dezenas de oficiais de segurança russos foram mortos. Zelimkhan Khangoshvili foi homem de confiança da CIA e recrutador de milicianos separatistas na Chechênia, onde na década de 1990 e início dos anos 2000, a CIA financiou os guerrilheiros que cometeram uma série de atrocidades contra civis e prisioneiros de guerra.
Khangoshvili era também muito próximo do líder separatista Aslam Mashkadov, na sua luta contra os russos na Chechênia. O braço direito de Mashkadov, o militante e ativista separatista checheno Ilyas Akhmadov foi aos EUA em 2001 para pedir ajuda e apoio da CIA, como os americanos fizeram com o Talibã desde 1979 na guerra contra a URSS. Akhmadov obteve asilo político nos EUA em 2004 e no ano seguinte ganhou uma bolsa do NED – National Endowment for Democracy – agência “cultural” de fachada da CIA – para chamar a atenção internacional para a tragédia humanitária na Chechênia.
O FBI enquanto isso começou a fazer investigações sobre entidades muçulmanas beneficentes, sediadas nos EUA, suspeitando que tais instituições pudessem estar fornecendo recursos para grupos terroristas islâmicos na Bósnia, na Chechênia e em outras partes. Mas, até o 11 de setembro nada aconteceu. Depois do ataque às Torres Gêmeas as coisas mudaram e os investigadores acabaram descobrindo a Benevolence International Foundation (BIF) e seu diretor Enaam Arnaout, um sírio-americano, acusado de fornecer recursos à Al Qaeda e a outros grupos violentos na Bósnia, na Chechênia e em outros lugares.
As acusações contra Arnaout, que poderiam ter levado a 90 anos de condenação, acabaram por ser abafadas e ele pegou uma condenação relativamente branda, de apenas dez anos. Na verdade, o BIF era um repassador de recursos da CIA para grupos islâmicos pró-imperialistas para atender aos interesses de desestabilização dos EUA. Ficou comprovado que os Mujaidim foram levados para a guerra em Sarajevo em voos secretos da CIA, com grandes quantidades de armamentos fornecidos pelos EUA, apesar do embargo da ONU.
Quando terminou o conflito na Bósnia, os EUA terminaram por trair os Mujaidim, o que enfureceu seus líderes, entre eles Osama Bin Laden, e teve o efeito de espalhar esses grupos por várias partes do mundo. O caso Khangoshvili mostra que a prática dos EUA de manipular grupos fascistas para promover seus interesses estratégicos é muito mais comum do que se possa supor. A Ucrânia e a Venezuela são casos recentes e em evidência, mas há inúmeros exemplos mundo afora desse tipo de ação “benevolente” do imperialismo.