No 11º artigo da série Kamala Harris e a esquerda, destacamos o papel dos democratas em uma das medidas mais monstruosas aplicadas contra o povo norte-americano em toda a sua história: o ato patriótico de 2021.
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O imperialismo norte-americano sempre teve uma política criminosa e agressiva contra os povos do mundo. Quanto a isso, não há novidade. Em 1945, por exemplo, os Estados Unidos jogaram as duas únicas bombas atômicas que já foram lançadas contra populações civis em toda a história humana. O responsável por esse feito foi – pasmem – um presidente do Partido Democrata, Harry Truman.
Apesar desse histórico criminoso, pode-se dizer que o imperialismo entrou em uma nova etapa de guerras, golpes e agressões a partir do governo de George W. Bush, cujas ações no Oriente Médio têm implicações até os dias de hoje na luta de classes naquela região. O grande marco dessa virada é o atentado às torres gêmeas de 11 de setembro de 2001, quando militantes da Al-Qaeda teriam realizado o maior atentado de toda a história, vitimando mais de três mil norte-americanos.
O líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, escreveria, tempos depois, uma carta ao povo norte-americano explicando os motivos do ataque. O guerrilheiro saudita explicou que “vocês nos atacaram na Somália; apoiaram as atrocidades russas contra nós na Chechênia, a opressão indiana contra nós na Caxemira e a agressão judaica contra nós no Líbano” e que, “sob sua supervisão, consentimento e ordens, os governos de nossos países, que atuam como seus agentes, nos atacam diariamente”. Não passava, portanto, de uma reação aos crimes de guerra cometidos pelo imperialismo norte-americano.
No entanto, o governo de George W. Bush aproveitou a ocasião para elevar exponencialmente o caráter contrarrevolucionário e fascista do regime político norte-americano. Do ponto de vista da política externa, o principal resultado seria as guerras genocidas do Iraque e do Afeganistão, que seriam apresentadas como “guerra ao terror”. Do ponto de vista da política interna, a principal medida tomada foi o Ato Patriótico – um decreto que formalizou a ditadura em vigor nos Estados Unidos da América.
O Ato Patriótico não foi, nem de longe, uma medida implementada exclusivamente por Bush. Nem foi somente uma bandeira levantada pelo Partido Republicano. O conjunto do regime político – isto é, republicanos e democratas – se uniram para aprovar esse pacote de monstruosidades. O resultado foi uma vitória esmagadora do Ato Patriótico no Congresso: 357 votaram “sim”, contra apenas 66 que votaram “não”. Dentre esses que votaram “sim”, 144 eram democratas e 213 eram republicanos. Dentre os 66 que se opuseram, 62 eram democratas. Em resumo, sem o apoio dos democratas, não haveria Ato Patriótico.
Com o Ato Patriótico, praticamente todos os direitos democráticos da população foram suspensos. O Estado norte-americano ganhou poderes para quebrar o sigilo de ligações telefônicas, de contas bancárias, de trocas de mensagem. Não foram poucos os relatos de pessoas que testemunharam forças policiais invadirem bibliotecas para saber o que as pessoas estavam lendo.
Da mesma forma, sob o pretexto de “combate ao terrorismo”, o Estado norte-americano ganhou poderes para prender qualquer pessoa que considerasse suspeita de planejar atentados. O Ato Patriótico ainda abriria o caminho para que novas leis fossem promulgadas durante o governo Bush, inclusive medidas que autorizavam o uso de tortura contra os prisioneiros.