O jornalista Helio Doyle publicou, nesse 5 de agosto, uma coluna no portal Brasil 247 com o título O que penso sobre a Venezuela. O artigo é bastante ponderado e entende que a oposição venezuelana é golpista, é apoiada pelo imperialismo e está dando o golpe de Estado. A tese central do artigo, contudo, é que está equivocada. Doyle defende a posição de Brasil, Colômbia e México em relação à crise venezuelana, em particular a posição do governo brasileiro:
“Os EUA querem e constroem ambiente para o golpe, mesmo sabendo que poderá haver o banho de sangue previsto por Maduro, mas não entrarão em aventuras, ainda mais diante do apoio que Rússia e China dão ao governo.
A alternativa à violência e à instabilidade política na Venezuela é uma solução negociada, e todos sabem disso. Nem Maduro nem Corina (Gonzalez é pau mandado) governarão se esse cenário persistir. Os reflexos negativos atingirão principalmente os vizinhos Colômbia e Brasil”.
À primeira vista, faria sentido dizer que a posição brasileira favorece a negociação, ou melhor, que o Brasil se coloque em posição de negociar. Mas o problema é muito mais complexo.
Como o próprio autor reconhece, estamos diante de um golpe de Estado. E, justamente por isso, uma posição com a do Brasil está reconhecendo o golpe como legítimo ou, ao menos, relativamente legítimo.
A posição de Brasil, Colômbia e México acaba, portanto, fortalecendo os golpistas e enfraquecendo o regime bolivariano. Pior ainda, enfraquece o próprio governo brasileiro diante dos golpistas domésticos, da mesma laia que os venezuelanos.
“As direitas colombiana e brasileira atacam violentamente a correta (pelo menos até agora) posição dos governos desses dois países – e a do México -, porque veem que dificulta o golpe ultradireitista e coloca esses três países como os mais legítimos mediadores dessa negociação”.
Esse ataque da direita ocorre justamente porque a posição dos governos colombiano e brasileiro abre o flanco para a direita ao, de certa forma, legitimar os golpistas venezuelanos.
Uma posição diplomática real, não dizemos revolucionária nem combativa, é afirmar que o regime venezuelano deve ter total independência. Nenhum país deveria se achar no direito de contestar um resultado eleitoral, simplesmente porque isso significa passar por cima da autonomia da Venezuela.
O governo brasileiro deveria de pronto reconhecer o resultado e a autonomia venezuelana. E, aí sim, diplomaticamente, dizer que a oposição golpista tem todo o direito de contestar a eleição desde que seja nos marcos legais e legítimos do regime.
Em suma, essa é uma posição diplomática. A posição atual de Lula não lhe garante necessariamente posição de mediador. A posição do imperialismo norte-americano é o golpe, já até empossaram o candidato golpista, numa farsa macabra.
Os golpistas – e quando dizemos golpistas dizemos o imperialismo norte-americano – não estão dispostos a negociar, a não ser que sejam derrotados em sua tentativa. O que o governo brasileiro acabou fazendo ao dar certa legitimidade à oposição é fortalecer o golpe, o que pode colocar tudo a perder.