No sexto artigo da série Kamala Harris e a esquerda, apresentamos a polêmica travada pelo revolucionário alemão Wilhelm Liebknecht contra os oportunistas que, em nome de um “espírito prático”, defendem, para todas as circunstâncias, a política de colaboração de classes.
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Liebknecht inicia sua explicação contando um caso que parecerá muito familiar àqueles que acompanham as polêmicas travadas por este Diário. O líder operário conta que foi criticado porque afirmou, em um artigo de jornal, que uma “lei antissocialista” seria menos prejudicial que a abolição da luta de classes como método de um partido operário.
Por várias vezes, este Diário foi caluniado e acusado de ser “trumpista” ou de ser “bolsonarista” por falar abertamente: os trabalhadores não devem, em momento algum, estarem a reboque de seus inimigos de classe. Por dizer, por exemplo, que, por mais perigoso que fosse o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), responsável por crimes como a venda da Eletrobrás, apresentar o Supremo Tribunal Federal (STF) como um aliado dos trabalhadores causaria um enorme retrocesso na luta.
Diante das críticas, Liebknecht foi categórico: “quanto mais penso sobre isso, mais estou convencido do acerto desta posição”. E, então, continua:
“O que será de nosso partido se permitirmos que sejamos pressionados para fora do caminho de nossos princípios por perigos e desvantagens ameaçadas ou ameaçadoras? O medo é, proverbialmente, um mau conselheiro para a ação humana; para um partido, é sua destruição.”
Após essas considerações, Liebknecht explica que uma das principais acusações de seus adversários é a de que seria preciso ser “pragmático”. Não por acaso, essa é a principal palavra de ordem da ala direita do Partido dos Trabalhadores. “Precisamos ser pragmáticos e… nos abraçar aos golpistas de 2016”. “Precisamos ser pragmáticos e… subir no palanque dos bolsonaristas”. “Precisamos ser pragmáticos e… se curvar diante de Washington”. A essência do falso pragmatismo da ala direita do PT pode ser muito bem sintetizada na frase do senador Humberto Costa (PE), que, pouco após o impeachment de Dilma Rousseff, declarou que era preciso “virar a página do golpe”.
O revolucionário alemão, no entanto, já tinha uma resposta para os falsos pragmáticos. Disse ele:
“Não se desarma um inimigo através da timidez e da gentileza; isso apenas o encoraja. Não é possível atravessar uma parede com a cabeça. Queremos ser e devemos ser ‘práticos’. Mas isso já foi negado ou questionado alguma vez? Sempre fomos ‘práticos’, a despeito de [Eduardo] Bernstein. Sempre baseamos nossos esforços nas condições existentes e trabalhamos metodicamente com os olhos no nosso objetivo.”
Trata-se de uma conclusão óbvia, no final das contas. Não há “pragmatismo” maior que insistir na única ferramenta capaz de derrotar os inimigos da classe operária. Render-se ao inimigo em nome de uma vantagem imediata qualquer é o oposto de um espírito prático. Se o objetivo de um partido é libertar o proletariado, ele não pode ser chamado de “prático” por abrir as portas de sua fortaleza para o inimigo. É o oposto de ser prático. É um partido que só está sendo “prático” no sentido de sustentar o regime de exploração capitalista.
Liebknecht, então, continua:
“Podemos dizer de nós mesmos que não apenas somos práticos, mas que somos o único partido prático – prático no sentido de razoável. Apenas aqueles que reconhecem as leis orgânicas do desenvolvimento e sistematicamente se esforçam em harmonia com elas em direção a um objetivo definido são práticos. E é assim que trabalhamos. Nossos opositores ou não conhecem essas leis, ou, se as reconhecem, procuram dobrá-las ou quebrá-las. Quem tenta fazer a água correr morro acima certamente não é prático, e tal é o objetivo tolo de nossos oponentes. É claro que foi dito que os trabalhadores não podem sozinhos garantir a emancipação da classe trabalhadora; que os elementos inteligentes e cultos das outras classes devem cooperar com eles.”