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Polêmica

Quem traiu o chavismo é quem defende o golpe – Parte 1

Aldo Fornazieri, para justificar sua capitulação diante do imperialismo, recorre a um velho expediente: dizer que Maduro não é chavista

Nesta segunda-feira, 5 de agosto, o portal Brasil 247 publicou uma coluna do sociólogo Aldo Fornazieri intitulada Madurismo e a traição ao chavismo. Como expresso no nome do artigo, trata-se de mais um na campanha golpista deslanchada no último período contra o povo venezuelano e seu presidente, que ainda resistem à pressão esmagadora do imperialismo, mantendo a Venezuela um país soberano. Sem mais considerações, vamos aos argumentos:

“Com Chávez, a Venezuela superou uma longa crise econômica e social, reduziu a pobreza, melhorou os Índices de Desenvolvimento Humano, reduziu as desigualdades, implementou políticas públicas distributivas, sem destruir o caráter democrático do regime.

“O chavismo tinha um sentido democrático, inclusivo e socializante. O madurismo é ditatorial, oligárquico e excludente. Sob Maduro, os programas sociais distributivistas estão agonizantes. Milhões de venezuelanos migram para outros países em busca de trabalho para mandar dinheiro para suas famílias e parentes empobrecidos nos bairros da Venezuela.”

Em primeiro lugar, é importante notar o seguinte: trata-se de outro ângulo para os ataques de tipo esquerdista ao governo. Enquanto o PCV adota uma postura mais deflagrada contra o chavismo, num golpismo pró-imperialista escancarado, outros setores, como o representado por Aldo Fornazieri, se utilizam de um método mais sutil. Buscam elogiar Chávez para atacar Maduro, visando pôr em contradição um e outro, na tentativa de erguer a popularidade de Chávez, que tem sequência em Maduro, contra este.

É importante notar que nenhuma das alegações é colocada de maneira concreta, em termos de medidas adotadas, resultados obtidos, etc. Ou seja, apesar de traçar uma comparação entre ambos, ela é uma ficção. Por que o governo Maduro seria “ditatorial, oligárquico e excludente“? Segundo Fornazieri, porque os programas sociais estão sofrendo, pessoas estão imigrando, em outras palavras, a população está pobre.

Mas por que a população na Venezuela está pobre?

Seria porque Nicolás Maduro, eleito representando justamente os setores pobres, operários, camponeses da população, seria na realidade um ditador oligarca? Ou teria a questão mais a ver com as sanções econômicas asfixiantes que afetam aquele país? Haveria relação com o aumento do preço do petróleo no mercado internacional no período de Hugo Chávez? Ora, a resposta é óbvia: as condições colocadas são muito diferentes, portanto não se pode esperar um mesmo resultado.

O preço do barril de petróleo teve uma queda abrupta logo na sequência da morte de Hugo Chávez, devido a um acordo entre EUA e Arábia Saudita para saturar o mercado com petróleo, para enfraquecer os países não alinhados, como Rússia, Irã e Venezuela. Esse processo foi o mesmo que levou à crise econômica após as eleições de 2014 no Brasil, como um fator fundamental, o que estabeleceria as bases para o golpe de Estado em 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff.

Mais, usar a diferença de condições entre os dois períodos para comparar Chávez e Maduro é de uma desonestidade gritante e, pior, de uma estupidez monumental. Por que as condições econômicas imediatas do país refletiriam o caráter do regime, e não o contrário? Seria Lula também um ditador, tendo em vista a situação econômica brasileira? Estagnada após um período de grande inflação? De fato, com a crise econômica, a ofensiva golpista do imperialismo se intensifica, mas isso nada tem a ver diretamente com o caráter do regime político, como Fornazieri busca estabelecer. Nenhuma medida concreta até aqui sequer foi utilizada como exemplo para justificar as caracterizações de Fornazieri sobre a suposta oposição entre Chávez e Maduro.

Sem argumentos reais, o sociólogo então recorre a supostas figuras de autoridade para corroborar sua tese absurda.

“Pepe Mujica não tem dúvidas de que o regime de Maduro é uma ditadura e que ele é um ditador. Além de implantar um regime ‘cívico-militar e policial’, desde 2013 viabilizou a repressão não só a opositores de direita, mas também aos de esquerda, que foram rompendo com o regime à medida em que ele foi se tornando antipopular, e restaurador do rentismo das velhas elites agora com novos sócios: os militares e policiais de alta patente, a alta burocracia estatal e a elite política corrupta. O regime ditatorial de Maduro transformou-se também em uma oligarquia rentista.”

É preciso um instante para constatar o óbvio: o rentismo, a especulação, se concentra nas mãos de grandes bancos internacionais. Os grandes bancos internacionais, por sua vez, o imperialismo, atacam ferozmente o governo da Venezuela. Se ambas as políticas são alinhadas, que motivo haveria para tais ataques? Que motivo haveria para as sanções? As chamadas velhas elites venezuelanas estão em pleno alinhamento ao imperialismo, já não há contradição entre um e outro, pois justamente o chavismo, fruto do movimento dos trabalhadores do país, unifica ambos na oposição.

Seria preciso que Fornazieri demonstrasse como consegue um regime rentista, composto por “militares e policiais de alta patente, a alta burocracia estatal e a elite política corrupta“, enquanto oposto frontalmente ao imperialismo, se sustentar? Como tal governo não teria caído há tempos?

Ademais, Aldo Fornazieri deveria apontar, então, como tal governo supostamente antipopular ao extremo, consegue convencer a população de que é a continuidade do governo Chávez. E, portanto, o sociólogo precisaria explicar como tal governo, tão impopular, leva as massas trabalhadoras de toda a Venezuela, no campo e nas cidades, às ruas para apoiar aquele que reivindicam como o seu governo. Saberia Aldo Fornazieri o que é melhor para o povo venezuelano em oposição aos anseios do próprio povo venezuelano?

Talvez o sociólogo tenha estudado na mesma escola onde se apoiou a instauração da democracia na Líbia, no Iraque, no Afeganistão. Talvez essa escola seja em Miami. E talvez aqueles que consideram a democracia dos abutres norte-americanos como um padrão a ser seguido devessem se calar no que concerne a América Latina. Afinal, não são bem vistos em nenhum lugar da região.

Por fim, o artigo publicado pelo Brasil 247 apresenta ainda uma série de outros argumentos, citando figuras que seriam do campo chavista repetindo as mesmas acusações. Entraremos no detalhe nestes pontos em Quem traiu o chavismo é quem defende o golpe – Parte 2, a ser publicado em breve neste mesmo Diário Causa Operária.

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