Bastou o presidente Lula fazer uma piada para que a horda identitária saísse a campo para atacá-lo. Durante uma reunião no Palácio do Planalto, na terça-feira (16), Lula disse que é “inacreditável” que casos de agressão contra mulheres aumentem após jogos de futebol. Ele complementou, brincando: “se o cara é corintiano, tudo bem”.
Foi, claramente, uma brincadeira. Aliás, para quem conhece a classe operária, uma brincadeira típica de um operário, que não faz ressalvas identitárias, moralistas, antes de fazer uma piada — como ocorre com a pequena-burguesia.
Sabe-se que é uma piada, pois Lula elogiou a presença de mulheres em uma reunião que teve com ministros e empresários do setor alimentício para anúncios referentes ao setor. E disse que era uma “notícia triste” o aumento de casos de agressão contra mulheres após o jogo.
“Hoje, eu fiquei sabendo de uma notícia triste, eu fiquei sabendo que tem pesquisa, Haddad, que mostra que depois de jogo de futebol, aumenta a violência contra a mulher. Inacreditável. Se o cara é corintiano, como eu, tudo bem. Mas eu não fico nervoso quando perco, eu lamento profundamente. Então, eu queria dar os parabéns às mulheres que estão aqui”, disse.
O policiamento moral identitário, patrocinado pelos banqueiros, aproveitou a fala para atacar o presidente, dando coro a uma campanha de tipo golpista contra o governo. A colunista Milly Lacombe, do Uol, ficou histérica com a declaração do presidente.
“Lula cometeu mais uma declaração machista. Dessa vez, ao comentar pesquisa que indica que a violência contra mulheres aumenta em dias de jogos de futebol, disse, depois de criticar brandamente esse horror, que se o cara for corintiano então tudo bem”, disse a jornalista que se considera “comunista” apesar de estar num caso de amor com a banqueira e dona do Palmeiras, Leila Pereira.
“Além de não ser engraçado, o que disse Lula é violento”, disse Lacombe. Tirando o fato de que se algo é ou não “engraçado” não cabe a Milly Lacombe definir (graças a Deus — imagine que chatice!), temos que explicar à comunista que palavras não são violentas. Afirmar isso é fazer a campanha em defesa da censura, como fez o identitarismo, alegando idiotices como “discurso de ódio” e “crime” de “apologia”.
Segundo ela, a fala de Lula foi “violenta”, “porque esvazia a seriedade da pesquisa, esvazia a gravidade do contexto e ridiculariza esse tipo de crime”. Por que uma brincadeira “esvaziaria” uma pesquisa, seja lá o que ela queira dizer com isso? A pesquisa (à qual também não devemos dar nenhuma credibilidade) está aí e ponto final. Ela (supostamente) retrata uma situação nacional, e não é uma brincadeira que irá mudar tal realidade.
Novamente, devemos deixar claro que isso só existe para fazer a campanha da censura, em nome de defender “mulheres”, “negros”, “gays”, etc. Se uma fala é “violenta”, para os identitários, ela deve ser proibida. Estamos vendo, agora, com a situação na Palestina, que o “discurso de ódio” tem sido sistematicamente utilizada para calar aqueles que denunciam os crimes de “Israel” contra o povo palestino — o maior genocídio do século XXI.
Mas Milly Lacombe, a serviço dos banqueiros que controlam o Uol e a Folha de S.Paulo, vai além. Não é que Lula não poderia ter feito a piada, como que o presidente tem uma “doença” (sic). Diz ela:
“…se o machismo de Lula ficasse reservado a uma brincadeira infantil talvez não fosse assim tão grotesco. A questão é que o machismo de Lula é bem maior do que uma piada fraca; ele está entranhado em suas ações. E isso serve de alerta para todos os que dizem ‘foi só uma piada’. Nunca é só uma piada. A piada é apenas o sintoma da doença, que é grave mas para a qual há cura”.
Para explicar essa “doença”, Lacombe revela seus reais interesses políticos:
“Lula se recusou a nomear para o STF uma ou duas mulheres para as vagas em que podia indicar novos ministros. Compôs uma corte com apenas uma mulher”, declarou, resgatando a campanha golpista feita pelo imperialismo contra Lula, para que ele indicasse alguma identitária carreirista, pró-imperialista e, portanto, absolutamente contra o povo.
Ela diz que ao indicar um homem branco, isto é, Cristiano Zanin, homem de sua confiança que o libertou da cadeia após o golpe de Estado, Lula “cedeu fortemente” ao identitarismo, “porque ser homem heterossexual é uma identidade, a identidade dominante, inclusive. Ao nomear mais dois homens ele se curvou à pauta identitária hegemônica”.
Besteira completa! Primeiro, o que significa ser uma “identidade dominante”? Enquanto homens são 50% da população, os heterossexuais são a esmagadora maioria. Pode-se dizer que as mulheres são oprimidas, que os negros são oprimidos, até que os gays são oprimidos, mas isso nada tem a ver com uma “identidade dominante” — um mito criado pelos identitários.
Segundo, digamos que Lula tivesse indicado uma “identidade” não dominante, uma lésbica negra, travesti e deficiente, por exemplo, em quê isso mudaria algo, efetivamente, para a população, ainda mais levando em conta que a grande parte dos carreiristas identitários estão totalmente nos bolsos do imperialismo? Não haveria nenhuma vitória; ao contrário, seria uma derrota para o povo.
Ela ainda diz que Lula “formou um ministério com algumas mulheres para depois, em nome do fisiologismo, sair demitindo justamente elas. Usou as mulheres como moedas de troca de forma premeditada. Se Lula não reconhece a masculinidade heterossexual como uma identidade que deve ser combatida em nomeações para cargos de poder, então ele está infectado de machismo. Cercado de homens exatamente como ele em seu grupo de conselheiros vai ser mesmo difícil que ele se desinfecte de tanto preconceito”.
O problema é que o ouro de tolo do identitarismo é uma ideologia sem base na realidade. Por isso, para eles, a mulher, os negros, etc. (aumente-se quanto quiser a lista de opressões) não são, de fato, oprimidos, por uma situação real, concreta, mas pelas ideias: pelo “machismo”, pelo “racismo”, etc. e tal. Isso fica claro no argumento seguinte de Lacombe:
“Lula, sempre que fala livremente, desliza no machismo e na misoginia. São dezenas de situações que exemplificam o que ele pensa a respeito do tema. Outro dia, durante as enchentes no Rio Grande do Sul, disse que máquinas de lavar roupa são importantes para mulheres. Sim, Lula é um homem de seu tempo, mas isso não serve para desculpá-lo por colocações tão erradas e violentas”.
Ora, ao contrário do que acham os identitários, as mulheres são, concretamente, oprimidas — isto é, estão, na sua maioria, subjugadas à opressão doméstica, à escravidão do lar. Portanto, se as enchentes do Rio Grande do Sul afetaram as máquinas de lavar, é claro que o setor mais prejudicado serão as mulheres. Isso porque lavar roupa, trabalho ao qual a mulher verdadeira (não as lacradoras do Uol e do PSOL) está subjugada, com máquina de lavar é muito mais fácil do que lavá-las a mão.
A declaração de Lula sobre as máquinas de lavar foi, portanto, uma verdadeira prova de “feminismo”, de que Lula está consciente (pelo menos parcialmente) do que é preciso para libertar a mulher: o desenvolvimento das forças produtivas, da técnica, que permita à humanidade se livrar de vez do fardo doméstico. A máquina de lavar roupa, de lavar louça, o micro-ondas, entre outros eletrodomésticos, são, efetivamente, um passo na libertação da mulher, assim como creches em tempo integral, etc. Tudo o que for feito para livrar as mulheres da escravidão do lar (ou pelo menos facilitar sua vida, diminuindo a carga horária necessária para cumprir as tarefas domésticas) deve ser entendido como um progresso na vida do conjunto das mulheres, principalmente das operárias.
Milly Lacombe, então, dá um “conselho” a Lula: “seria preciso recuperar o tempo perdido, entender a dimensão feminina da classe trabalhadora, entender a delinquência embutida no regime binário da diferença sexual. O machismo e a misoginia são a área comum entre direita e esquerda. É nesse ambiente que homens de todas as ideologias se lambuzam e se congratulam uns aos outros”.
A “delinquência” real, no caso, não é no “regime binário da diferença sexual” — aliás, o único regime possível, baseado na vida natural-biológica — mas a política de Milly Lacombe. Enquanto ela diz que “o machismo e a misoginia são a área comum entre direita e esquerda” vemos que essa campanha nunca é feita para atingir algum funcionário direto do imperialismo — como Joe Biden, apoiado por todas as feministas mesmo após as denúncias de assédio feitas contra ele.
Essa campanha só serve para atingir políticos do baixo clero da burguesia e a esquerda, como Lula, Julian Assange, entre outros desafetos do imperialismo. A delinquência é essa. Se o problema for machismo e bater em mulher, Milly Lacombe deveria deixar claro: votemos todos em Eduardo Leite (tucano assassino responsável pelas mortes e pela tragédia no Rio Grande do Sul)! O Bolsogay, sem sombra de dúvidas, não bate na própria mulher…