A quinta aula do curso Lênin e a Revolução Russa ocorreu nesta sexta-feira (19), na 51ª edição do Acampamento da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR) e da Universidade de Férias do PCO. Organizada pela Partido da Causa Operária (PCO), essa é a principal e mais tradicional atividade de formação política da esquerda brasileira. As aulas são ministradas pelo presidente nacional do Partido, Rui Costa Pimenta, um dos maiores especialistas em marxismo da atualidade.
O dirigente do PCO começou a 5ª aula fazendo uma retrospectiva dos temas que foram abordados nas aulas anteriores. Ele mencionou a Revolução de Fevereiro, que derrubou a monarquia e iniciou o período que culminará com a tomada do poder pela classe operária, em outubro. Passou pelas Jornadas de Abril, quando uma revolta quase derruba o Governo Provisório por conta de sua política para a guerra e quando é formada a frente popular, incorporando os partidos da esquerda pequeno-burguesa. Lembrou que, nas Jornadas de Junho, as palavras de ordem do partido Bolchevique tomam conta das manifestações. Chegou às Jornadas de Julho, ponto alto no enfrentamento entre a classe operária e o Governo Kerenski, que desencadeou uma violenta repressão contra o movimento operário, resultando na destruição das gráficas do Partido Bolchevique, na prisão de Trótski e no exílio de Lênin.
O texto discutido nesta aula foi Carta ao Comitê Central do Partido Social Democrata Russo, escrito por Lênin enquanto estava exilado na Finlândia e tratando sobre a organização para a luta contra o golpe de Cornilov, que pretendia derrotar a Revolução. Rui Pimenta leu o texto e explicou o seu conteúdo, contextualizando o debate e dando exemplos da luta política recente.
“O golpe de Estado, em geral, acontece quando o governo está enfraquecido e o movimento dos trabalhadores está num momento de grande confusão. O governo está reprimindo os trabalhadores, a confusão no meio dos trabalhadores é muito grande porque eles começam a ver o governo Kerenski como inimigo. Quando o golpe é organizado, o Partido Bolchevique orienta a classe operária a resistir ao golpe. Os operários ficam na dúvida: ‘vai ter um golpe contra o governo Kerenski, nós temos que defender esse governo?’. O partido Bolchevique fala ‘sim, temos que nos organizar para defender o governo contra o golpe‘.”
Pimenta mostra, mais uma vez, a importância do programa revolucionário frente às posições da esquerda pequeno-burguesa. Ele explica a complexidade da política de Lênin, explicitada pelo revolucionário ao Comitê Central (CC) no sentido de aprofundar a discussão sobre as nuances desse momento específico da luta de classes.
“Ele [Lenin] critica a posição daqueles que acham que diante do golpe você tem que apoiar a política do governo. Ele diz que não. Não vamos fazer um bloco com os partidos da esquerda pequeno-burguesa, não vamos apoiar o governo, não vamos apoiar a guerra.”
O dirigente do PCO esclarece a contradição entre defender o governo sem o apoiar, o que, na verdade, é apenas a coerência e a justeza do programa já estabelecido pela experiência da classe operária.
“Devemos lutar contra o golpe do Cornilov? Sem dúvida. Mas isso não implica em nenhum acordo com o governo. Não implica apoiar a política do governo. No golpe de 2016 daqui, nós [o PCO] chamamos a defender o governo contra o golpe, mas não fizemos nenhum acordo. Durante o golpe mesmo nós fizemos críticas ao governo, mas sempre do ponto de vista da luta contra o golpe. Nós não apoiamos o governo, nós simplesmente nos colocamos contra o golpe.”
Aprofundando sobre o motivo dessa ser a política correta, Pimenta esclarece a posição de Lênin, mesma política adotada pelo PCO durante a luta contra o golpe de 2016 no Brasil.
“A política a ser seguida diante do golpe é: combater o Cornilov da mesma forma que as tropas do Kerenski estão combatendo. Mas ele [Lênin] fala: ‘nós não apoiamos Kerenski, antes desmascaramos as suas fraquezas’. […] [Esse texto] é uma lição para a atuação política. Ele diz que, a partir do golpe, torna-se fundamental utilizar o golpe para encostar o governo contra a parede. É preciso mostrar para os operários que o governo não é capaz de deter essa ameaça que é o golpe militar de características fascistas. Não é que nós temos que falar ‘Fora Kerenski’, nós temos que mostrar para os operários que esse governo não luta. E levar para ele uma série de reivindicações.”
O presidente do PCO também destaca para quem essa política está orientada, que não é a simples pressão contra o governo, mas uma política de mobilização dos operários e dos militantes de esquerda.
“O fundamental não é apresentar esse programa para o governo, mas para os trabalhadores. Por exemplo, você exige que o governo prenda os generais golpistas, mas você mobiliza os trabalhadores para exigir essa prisão […] Nós temos que empurrar o setor de esquerda do bloco governista para romper com a política do governo.”
Durante o debate, foi levantada a questão do papel do PCO em uma revolução, o que é um dos principais motivos da existência deste curso, segundo Pimenta.
“O nosso papel, havendo uma revolução, é orientar as massas (que estão fazendo essa revolução) no caminho correto, como fez o partido bolchevique. Quem vai liderar essa revolução? Um partido revolucionário. E é por isso que nós estamos construindo um partido revolucionário. O que significa construir um partido? Significa entender a política correta e ter uma doutrina política que seja realista.”
Sobre a tática utilizada por Lênin, do ponto de vista da propaganda, Rui Costa Pimenta destaca a precisão das determinações e, especialmente, a profundidade do acerto da análise da luta de classes feita pelo revolucionário russo.
“Em momento nenhum durante a revolução, o partido que tomou o poder disse que queria tomar o poder. Eles falam: ‘todo poder aos sovietes, fora os ministros capitalistas, etc’ […] Declarar que você vai tomar o poder, não vai te levar a tomada do poder. A condição para se chegar ao poder, pelo contrário, é esgotar as ilusões das massas nas outas alternativas.”
Para finalizar, Pimenta sintetiza a importância do conteúdo da aula, que levantou várias questões e debates entre os espectadores. Debates esses que tendem a durar pelo próximo período de acirramento da luta de classes no Brasil e no mundo.
“O que nós temos aqui é toda uma detalhada exposição sobre como, na prática, no dia a dia da revolução, conduzir a política revolucionária. […] Por isso achamos importante fazer esse curso com os textos. Os textos que Lenin escreveu em 1917 podem resultar em um livro de umas 500 páginas. A leitura desse livro é absolutamente esclarecedora sobre todos os caráteres da política. […] Aqui nós temos a luta contra o golpe e a luta contra a frente popular na mesma política, ao mesmo tempo.”