O ex-presidente norte-americano Donald Trump, que atualmente concorre às eleições presidenciais pelo Parido Republicano, foi atingido, no último sábado (13), por um disparo de uma arma de longo alcance enquanto discursava na Pensilvânia. Trump saiu andando, com apenas um ferimento na orelha direita, enquanto era escoltado pelos agentes do Serviço Secreto.
Passadas mais de 24 horas do acontecimento, poucas informações vieram a público. Segundo a polícia federal norte-americana, o FBI, o responsável pelo ataque seria sido um jovem de 20 anos – o que é particularmente difícil de se acreditar que tenha agido sozinho, ainda mais em um evento em que estava presente o Serviço Secreto. A atuação deste, por sua vez, está sendo criticada pelos mais diversos setores.
Mas mais importante que as particularidades do atentado é a situação na qual ele ocorreu. O acontecimento se deu em meio a uma das piores crises políticas já registradas por toda a história norte-americana. Não é possível ignorar isso ao analisar o que acaba de acontecer na Pensilvânia.
Nas semanas anteriores, o grande debate sobre as eleições norte-americanas estava em torno da capacidade de Joe Biden de manter ou não a sua candidatura. Bastante debilitado de saúde em função da idade, Biden encarna hoje toda a crise da dominação imperialista sobre os povos oprimidos. Biden é o símbolo do fracasso na Ucrânia e no Afeganistão e o símbolo do caráter fascista do imperialismo no Oriente Médio.
A impopularidade de Biden já vinha levando, ao logo de todo o seu mandato, a um crescimento do apoio popular a Donald Trump. Até mesmo os negros, que tradicionalmente apoiam o Partido Democrata, vêm se deslocando em direção à candidatura republicana. Essa crise da candidatura de Biden e esse crescimento da candidatura de uma pessoa que não é diretamente ligada ao “establishment” levou, inclusive, ao próprio regime a tentar impedir que o trumpismo se desenvolvesse. E assim vieram as centenas de processos judiciais, que liquidaram os direitos democráticos do ex-presidente.
Os apoiadores de Trump, não sem razão, dizem que esse cerco teria provocado o atentado contra o republicano. Eles têm publicado declarações de pessoas como Joe Biden, que disse ser Trump uma “ameaça existencial”, e mostrado que a campanha histérica contra o ex-presidente teria criado uma espécie de “onda de ódio” contra o republicano.
O que se pode dizer seguramente é que medidas como a perseguição judicial a Trump aumentaram a polarização política em um país cuja situação é explosiva.
Há mais, no entanto, que pode ser dito. No mesmo dia do atentado, saiu na imprensa a informação de que o ex-presidente democrata Barack Obama estaria por detrás da pressão para que Biden desistisse de sua candidatura. Essa notícia mostrou, em primeiro lugar, que há uma pressão da cúpula do Partido Democrata contra a continuidade da candidatura de Biden.
Isso, por sua vez, indicaria que a burguesia prepara um grande golpe para as eleições deste ano. Afinal, sem Biden, seria preciso improvisar um outro candidato, que também não teria mais apoio popular que Trump. Neste cenário, um atentado contra Trump poderia ser conveniente para que a burguesia partisse para uma opção “nem, nem”: nem Biden, nem Trump.
As declarações de Biden e da imprensa logo após o atentado corroboram com essa ideia. O discurso a todo momento é o de “apaziguar os ânimos” e de diminuir a “polarização”. Será preciso, no entanto, combinar com os russos. Os apoiadores de Trump não parecem dispostos a cumprir tal acordo, mas sim a se radicalizar diante das aproximações sucessivas para excluir Trump do processo eleitoral.