A Operação Dilúvio de Al-Alqsa, os sucessivos avanços e vitórias da Revolução Palestina liderada pelo Hamas, mudaram o cenário político libanês. Para além do apoio militar do Hesbolá aos palestinos, a sociedade libanesa assistiu suas divisões sectárias se apaziguarem, bem como o crescimento do apoio, solidariedade e unidade do povo libanês com o povo palestino.
Os principais partidos xiitas do Líbano uniram-se para apoiar a luta palestina contra o Estado genocida de “Israel” ao mesmo tempo que partidos cristãos e pró-imperialista mantém-se críticos às atitudes do grupo do Eixo da Resistência.
Contudo, a contradição existente entre o Hesbolá – partido xiita – e a comunidade sunita libanesa foi suavizada após o apoio à luta palestina. A comunidade sunita libanesa possuía uma enorme hostilidade com o Hesbolá e não se importava com as perdas dos seus combatentes.
A Operação Dilúvio de Al-Alqsa foi vista pelos sunitas como uma operação “puramente sunita”. Isto pois, o Hamas é um movimento de resistência sunita. E, como foi declarado pelo secretário-geral do Hesbolá, Hassan Nasrallah: “a operação foi 100% palestina, tanto em termos de decisão quanto de execução”.
Logo, tanto os partidos quanto a população sunita do Líbano apoiou a operação do Hamas desde o primeiro dia. Após a entrada do Hesbolá no campo de batalha contra “Israel” e pela defesa da Palestina, a comunidade sunita passou a enxergar o movimento xiita como parte da “batalha sunita”, trazendo uma carga de simpatia e apoio para com o Hesbolá.
O principal partido islâmico sunita do Libano, Jamaa al-Islamiyya (Grupo Islâmico – tradução livre), deixou claro que se diferencia do Hesbolá. Um de seus parlamentares, Imad al-Hout, disse em certa ocasião que seu partido nunca foi “uma ferramenta para qualquer projeto externo, seja ocidental ou oriental, e não fazemos parte de nenhum eixo, e não faremos parte de um eixo que possa ameaçar a estabilidade de nossa profundidade árabe…”. Contudo, desde sua eleição em 2022 o partido vem aumentando a sua pressão em apoio à política de “resistir a ‘Israel’”.
Os partidos sunitas se encontram em uma espécie de encruzilhada política: ao mesmo tempo que declaram suas divergências com o Hesbolá, se veem empurrados a apoiarem o partido. A população sunita demonstra uma posição clara: apoio ao Hesbolá e a libertação da Palestina. Enquanto políticos dos partidos sunitas tentam evitar conflitos com os Estados árabes que assinaram acordos de normalização com “Israel”, o povo opõe-se fortemente à esta posição. Durante noites do Ramadã, as principais mesquitas do Líbano, como a Mesquita Baha al-Din Hariri, em Sidon, e a Mesquita Mohammed al-Amin, no centro de Beirute, condenaram qualquer aproximação com o país artificial, refletindo uma postura sunita mais ampla no país.
A chamada “Rua Sunita” possuía uma posição mais próxima com os partidos cristãos do Líbano, pois uniam-se contra o Hesbolá. Neste momento, ela afasta-se dos cristãos que condenam o Hesbolá por arrastar o Líbano a uma nova guerra com “Israel”. Pela primeira vez em quase duas décadas, muitos sunitas se sentem mais próximos do partido xiita do que dos partidos cristãos.
Ao mesmo tempo, partidos seculares libaneses se opõe as posições sunitas. Fazendo eco às posições que se recusam a envolver o Líbano na guerra em Gaza porque alegam que isso levaria à destruição do país, utilizam deste posicionamento contra o Hesbolá e contra os partidos sunitas, como o Jamaa al-Islamiyya. A oposição com os sunitas advém não apenas da sua aproximação com o Hesbolá, mas também com o medo destes partidos seculares de perderem sua influência política para os sunitas e de assistirem um crescimento dos sunitas no poder.
O que está claro na sociedade libanesa neste momento é a unificação das massas com a política do Hesbolá e uma cisão dos diferentes grupos e partidos políticos, que vão sendo arrastados pela pressão dos acontecimentos. Os partidos sunitas estão sendo mobilizados – à contragosto – pelas suas bases a se aproximarem do Hesbolá. Os partidos seculares e cristãos assistem o crescimento do Hesbolá e dos sunitas com pesar e temem a aproximação da população muçulmana com a política de vanguarda do Hesbolá – algo já concreto.