A recente revelação de uma colaboração profunda entre a Jordânia e “Israel” desde o início da operação Dilúvio de al-Aqsa, em 7 de outubro, trouxe à tona a complexidade das relações regionais e o impacto direto dessas alianças na resistência palestina. Um relatório detalhado do jornal libanês Al-Akhbar destacou essa cooperação, que inclui desde sabotagens de diálogos palestinos até operações conjuntas de interrogatório de prisioneiros palestinos na Cisjordânia ocupada.
Um dos aspectos mais polêmicos dessa colaboração foi a intervenção da Jordânia para evitar que a Autoridade Palestina (AP) e a facção Fatá participassem de diálogos palestinos organizados pela China. Em 26 de abril, China, Hamas e Fatá haviam confirmado a realização de conversas em Pequim, destinadas a promover a reconciliação entre as organizações rivais palestinas. No entanto, fontes próximas à presidência palestina relataram ao Al-Akhbar que, no final de junho, o presidente Mahmoud Abbas recebeu um pedido oficial da Jordânia para não participar dessas conversas. A justificativa dada foi que a participação da AP legitimaria o Hamas, fortaleceria o papel da China no conflito e diminuiria o papel político da AP, além de mostrar a AP como uma entidade que coopera com o movimento de resistência.
Em 24 de junho, o Hamas divulgou um comunicado criticando a decisão de Abbas, afirmando que ele se recusou a participar da reunião expandida sem fornecer justificativas lógicas ou dialogar nacionalmente. No entanto, no início de julho, fontes informaram que o embaixador da China no Catar comunicou ao Hamas que Abbas havia aceitado retomar as conversas em Pequim.
Desde o início da guerra em Gaza, a Jordânia tem desempenhado um papel ativo na Cisjordânia, auxiliando “Israel” e a AP na repressão da resistência palestina. Testemunhos de prisioneiros palestinos libertados revelaram que oficiais jordanianos participaram diretamente dos interrogatórios nas prisões israelenses. Relatos indicam que os prisioneiros foram abordados com ofertas de perdão em troca de cooperação com os jordanianos ou para ajudar a prevenir a escalada de atividades de resistência na Cisjordânia.
Além disso, a Jordânia tem trabalhado em estreita colaboração com a inteligência israelense e as forças dos EUA na fronteira entre Iraque e Síria, com o objetivo de impedir o contrabando de armas para a resistência palestina. Oficiais jordanianos se orgulham de ter derrubado drones carregados de armas enviados por forças iranianas para a Cisjordânia e de suas operações contra tentativas do Hamas de construir células militares na Jordânia.
Outro elemento crítico da colaboração entre Jordânia e “Israel” é a existência de um corredor terrestre que permite a entrada de mercadorias em “Israel”, contornando o bloqueio marítimo imposto pelo exército iemenita e pelo movimento de resistência Ansar Alá. Essa rota tem sido usada para transportar bens através da Jordânia até os territórios ocupados, o que gerou uma onda de indignação popular na Jordânia.
A primeira notícia sobre o corredor terrestre surgiu na imprensa israelense e ocidental no início de fevereiro. Em maio, a jornalista jordaniana-palestina Hiba Abu Taha foi condenada a um ano de prisão pelas autoridades jordanianas após publicar um relatório investigativo detalhando como empresas jordanianas estavam transportando exportações para “Israel” através desse corredor. A indignação aumentou quando grupos de resistência jordanianos, como o “Movimento Juvenil Jordano de Apoio à Resistência”, começaram a realizar protestos e formar correntes humanas ao longo da rota do corredor.
A revelação dessas atividades jordanianas gerou um clima de descontentamento e protestos internos, com muitos jordanianos criticando o governo por colaborar com “Israel” e prejudicar a resistência palestina. Especialistas apontam que as ações do governo jordaniano refletem um medo das repercussões da guerra de Gaza e das atividades da resistência palestina sobre a estabilidade interna do país.
Os protestos contra o corredor terrestre têm sido reprimidos pelas autoridades jordanianas, que negam oficialmente a existência de tal rota e a consideram uma invenção. No entanto, investigações jornalísticas e depoimentos de motoristas de caminhão confirmam a movimentação de mercadorias através dessa rota, exacerbando a desconfiança e a raiva entre a população jordaniana.