O “sionismo de esquerda” sempre foi um fator de confusão na luta dos trabalhadores em defesa da Palestina. Esse setor tinha mais força no início do sionismo, principalmente antes da criação do Estado de “Israel”, mas até naquele momento era algo que os setores mais conscientes da esquerda já repudiavam. O Grupo de Socialistas da Palestina em sua carta aberta “Sionismo: um entreposto do imperialismo” já denunciavam esses grupos em 1944.
A carta afirma: “há uma ala no sionismo cujo objetivo declarado é a paz com os árabes e que se opõe a um Estado judeu na Palestina. Em vez disso, seus defensores advogam por um estado ‘binacional’”. Ele então destaca um grupo dessa ala: “o cabeçalho do órgão do Hashomer Hatsair traz as seguintes palavras: ‘Pelo sionismo, pelo socialismo e pela solidariedade entre os povos’. Parece muito bonito, mas qual seria a necessidade do sionismo se já está no programa o socialismo? Essas ideologias sempre se opuseram na Europa onde estava a sede do movimento sionista.
Então a carta cita um discurso dos dirigentes desse grupo: “o problema que nos ocupa a todos é: qual é a maneira mais prática para os judeus deixarem de ser uma minoria na Palestina? (Ênfase de M. Yaari). Não devemos fechar os olhos para o fato de que nosso destino será determinado pelas potências vitoriosas e não poderemos obter em um dia a independência completa na Palestina”. Aqui já começa a aparecer o golpe sionista, socialismo com a maioria de judeus! Mas para que isso seria uma necessidade? Porque a verdade é que não há defesa nenhuma de socialismo.
Os socialistas palestinos argumentam: “o Hashomer Hatsair é contra um Estado judeu na Palestina porque não está satisfeito com isso; aparentemente seu apetite é maior do que o dos sionistas oficiais. Ele deseja não apenas uma maioria judaica na Palestina, mas também paridade entre árabes e judeus na Palestina e nos países vizinhos. Ele teme ainda mais do que o sionismo oficial que será impossível obter em um dia a independência completa na Palestina. Esta é a essência da doutrina do binacionalismo e da solidariedade internacional do Hashomer Hatsair”. Ou seja, eles defendem a criação do Estado de “Israel” em toda a Palestina, algo que nem mesmo a direção o movimento sionista defendia. O problema é que eles eram menos práticos, os defensores da partilha da Palestina sabiam que era a melhor forma de criar o Estado sionista.
O Hashomer Hatsair tem um programa para a imigração:
-
Abrir as portas da Palestina para a imigração judaica.
-
Estabelecer na Palestina um regime político sob controle internacional que dê à Agência Judaica o direito de realizar a imigração judaica segundo a plena capacidade econômica de absorção do país e levando em consideração a extensão da aflição dos judeus em outros países no final da guerra.
-
Conceder à Agência Judaica a autoridade necessária para o desenvolvimento e construção do país, incluindo o assentamento de todas as terras de propriedade do governo e espaços desabitados, no interesse dos dois setores da população, o que permitirá uma densa colonização judaica e o desenvolvimento da economia árabe.
-
Estabelecer na Palestina após a guerra um regime baseado na igualdade política de ambos os povos, que permitirá ao sionismo realizar seus objetivos sem perturbações e avançar a Palestina em direção à independência política no âmbito do binacionalismo.
Ou seja, os grandes socialistas sionistas querem o “controle internacional” da Palestina, em que a Agência Judaica teria grande parte do poder político. Isso somado a tese anterior de estabelecer a maioria judaica é uma demonstração de que o sionismo sempre serve ao imperialismo. No fim, a ideia do Estado judeu continua existindo de forma implícita e a ideia de um Estado étnico religioso sempre será reacionária.
A carta dos socialistas comenta: “assumir todas as questões de imigração e assentamentos pela Agência Judaica, que se preocupará (como se preocupou até hoje) com o ‘desenvolvimento da economia árabe’. Se os trabalhadores árabes desprezam os ‘socialistas’ do Hashomer Hatsair e seus semelhantes – eles carecem de consciência de classe? E se as pessoas do Hashomer Hatsair não contratam um único trabalhador árabe e participam de piquetes e atividades ‘civilizadoras’ semelhantes, isso não prova que são os verdadeiros revolucionários socialistas?” Ou seja, a farsa já estava escancarada na época.
Os sionistas esquerdistas se diziam defensores dos árabes na teoria enquanto, na prática, atuavam na opressão do povo palestino. Eles participavam do apartheid imposto pela colonização britânica da Palestina. Como descrito acima, os palestinos desprezavam esses “socialistas sionistas”, pois, antes mesmo da criação do Estado de “Israel” esses sionistas já estavam tratando os palestinos como animais.
O Hashomer Hatsair é uma expressão claro do que é o sionismo de esquerda até hoje. Para os brasileiros, o exemplo maior desse setor é a ONG Stand With Us Brazil que se diz humanitária defensora de todos os povos, mas defende o genocídio na Faixa de Gaza.