A campanha do Partido Democrata para as eleições presidenciais deste ano se transformou em uma crise sem precedentes dentro do partido norte-americano. Para além da política completamente falida de apoio à Ucrânia, gastando mais de 200 bilhões de dólares em envios de dinheiro ao país sem que houvesse nenhum ganho militar contra a Rússia, a dívida de quase 34 trilhões de dólares, o apoio ao genocídio de Israel contra os palestinos e a popularidade de Donald Trump, levaram a campanha a um colapso, ocasionado pela demonstrações públicas da incapacidade de Biden em manter-se no cargo, por conta das limitações impostas ao seu corpo pela idade.
Não que sejam uma novidade as gafes, as falhas no raciocínio e os demais problemas de ordem cognitiva que o presidente dos EUA enfrenta. Elas existem desde o começo de seu mandato, mas, diferente de outros eventos nos quais Biden contava com um amplo apoio de sua equipe e meios de mascará-los, o debate o colocou sozinho, ao vivo, frente a frente com um adversário que, apesar de uma idade também avançada, apresenta lucidez completa. Pela primeira vez em anos a população dos EUA que assistiu o debate pôde ver todas as limitações do presidente de seu país, a personificação perfeita da crise do imperialismo.
O debate fez com que já no outro dia se iniciasse uma campanha dentro do Partido Democrata para que Biden renunciasse à candidatura e para que outro candidato, mais jovem e em condições de saúde, concorresse em seu lugar. Lloyd Dogget, deputado democrata pelo Texas, por exemplo, saiu em defesa de que o atual presidente dos Estados Unidos abandonasse imediatamente sua candidatura.
Já nessa terça-feira, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, deu uma coletiva de imprensa em que foi questionada sobre a saúde do atual presidente, se limitando a dizer que Biden estaria resfriado no dia do debate e que não havia tomado remédios, algo difícil de acreditar pois Biden não é qualquer idoso, mas o idoso que governa o país mais rico do mundo, com plenas condições de garantir sua saúde e não correr risco algum, visto que a gripe pode matar pessoas idosas. Além disso, Karine se limitou a lembrar que Biden fez exames em fevereiro que garantiam sua condição de governar os EUA.
Outros esforços vem sendo feitos para que Biden possa continuar as eleições, como a declaração da Casa Branca garantindo que o presidente dos EUA não sofre do Mal de Alzheimer ou demência, além de uma reunião de Biden com governadores por videoconferência na qual argumentou que as viagens internacionais feitas antes do debate o deixaram muito cansado. Além disso, Biden dará uma entrevista à ABC News nesta sexta-feira, com a intenção de acalmar os eleitores democratas.
No entanto, segundo a CNN, cerca de três quartos do eleitorado norte-americano acredita que os democratas teriam mais chances de ganhar as eleições caso Biden abdicasse da corrida eleitoral. Nomes como o de Kamala Harris, vice de Biden, Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos no qual Biden apareceu como vice em seu segundo mandato e até o nome da mulher de Obama, Michelle Obama, aparecem entre os possíveis substitutos do atual presidente.
A manobra de troca de candidato é, porém, muito complicada de ser feita no atual estágio das eleições. Estamos a exatos cinco meses do dia das votações, um tempo muito apertado para qualquer troca. Além disso, as opções são muito escassas no Partido Democrata. No entanto, como argumenta a CNN em matéria intitulada Análise: crise pós-debate de Biden está se tornando uma ameaça real à reeleição: “mesmo a impopular vice-presidente Kamala Harris se saiu melhor em confrontos com Trump do que seu chefe.”, o que indica que a troca mesmo que pela “impopular” Kamala Harris pode ser a preferência da burguesia.
Neste cenário, algumas pesquisas apontam que quem teria a melhor chance de vencer Trump seria Michelle Obama, o que apesar de parecer forçado e muito mais parte da propaganda da imprensa imperialista, pode ser a melhor opção caso a troca aconteça, justamente pelo conhecimento extremamente superficial que a população possui de Michelle, sendo até agora apenas a figurativa primeira dama, ao contrário de Kamala que exerce de fato um papel na política dos EUA e de Obama, o carreirista que bombardeou inúmeros países e que teve como única política a favor do povo o limitadíssimo programa para acesso à saúde conhecido como Obama Care.
Por outro lado, o desconhecimento sobre Michelle Obama também é um grande problema, pois não anima muito a população e tudo dependeria de quanto os eleitores enxergariam Michelle como o “mal menor” em relação a Trump. É preciso também levar em consideração a maneira como Biden chegou a ser candidato nas últimas eleições presidenciais dos EUA, saindo de último colocado nas prévias do partido para o escolhido a ser candidato, manobra que só foi possível após a abdicação de todos os concorrentes, com exceção de Bernie Sanders, que liderava corrida, um verdadeiro golpe nas bases do Partido Democrata que queriam o candidato de esquerda, que naquela época, inclusive, havia conseguido fazer uma ampla mobilização por sua candidatura.
Biden foi, então, escolhido como candidato somente para impedir a candidatura de Sanders. Substituir o substituto não parece ser uma tarefa muito fácil de realizar agora, visto que colocar qualquer outro candidato poderia também levar a uma crise de separação da esquerda em relação ao Partido Democrata, partido imperialista, o que poderia gerar um partido próprio dos trabalhadores nos Estados Unidos, algo que a burguesia do país não gostaria de ver de forma alguma.
No entanto, essa pode ser realmente a opção da burguesia. O debate ocorrido na semana passada, para se ter uma ideia, é geralmente realizado em setembro, mais próximo das eleições. O que justifica a sua realização em junho, a não ser a possibilidade de ver Biden em ação e ter um tempo para manobrar e escolher outro candidato, pregando mais um golpe no eleitorado, caso o presidente se demonstrasse completamente incapaz?
Vários meios da burguesia já demonstram a necessidade dessa substituição. Exemplo disso é o editorial do The New York Times do dia 28 de junho, intitulado Para servir a seu país, presidente Biden deve deixar a corrida, no qual o jornal imperialista apresenta Donald Trump como alguém que já provou ser uma grave ameaça à democracia e que a única forma de vencê-lo seria com a substituição de Biden, alguém que, segundo o jornal, lutou para dizer o que fará no segundo mandato, lutou para responder às provocações de Trump, lutou para fazer Trump responder suas mentiras e lutou para terminar uma única sentença.
A Convenção Nacional Democrata, que oficializa o candidato do partido à presidência, acontecerá entre os dias 19 e 22 de agosto. Até lá, apesar de pouco tempo, muita coisa pode acontecer dentro do partido. No entanto, tudo parece mostrar que, independente de quem seja o candidato dos democratas, Donald Trump é o grande favorito a vencer as eleições, não só como presidente, mas também arrematando a maioria do congresso para o Partido Republicano, o que, se confirmado, será um desastre completo para o Partido Democrata.