O sítio de notícias MintPress News publicou uma extensa reportagem no último dia 3, detalhando como opera o exército digital de “Israel”. Intitulada “Free speech under fire: how Israel’s Tech Guard is killing free speech online” (Jessica Buxbaum), a reportagem descreve que “horas após o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023”, era criado no enclave imperialista o Israel Tech Guard, com pelo menos 250 profissionais de tecnologia.
O responsável pelo projeto era Mor Ram-On, um empresário, segundo MintPress, “que trabalhou para a fabricante de armas israelense Rafael Advanced Defense Systems; Ron Balter, engenheiro de software da Cybereason, uma empresa de segurança cibernética dos EUA, e que serviu na marinha israelense; e Lior Mizrahi, que dirige a empresa de TI Maveriks”. O sítio informa ainda que “o grupo buscava US$2 milhões em financiamento em novembro”, e também que, conforme reportagem do órgão sionista Jerusalem Post, “ele [Israel Tech Guard] é apoiado pela Elbit Systems, a maior fabricante de armas de Israel”.
No mesmo 7 de outubro, informa o sítio norte-americano, foi lançado o Words of Iron, uma ferramenta dedicada a impulsionar a propaganda sionista na internet. “Se cada indivíduo gastar apenas 10 minutos por dia utilizando essa ferramenta, compartilhando mensagens em apoio inabalável a Israel, nossa voz coletiva ressoará globalmente”, escreveu o Israel Tech Guard no LinkedIn anunciando o projeto.
Na mesma rede social, o programa é descrito da seguinte forma:
“Após a Operação ‘IRON SWORDS’ e o ataque terrorista em outubro de 2023, reconhecemos a necessidade de uma voz israelense mais forte nas mídias sociais.
Não podemos nos dar ao luxo de perder a batalha pela opinião pública global. Para resolver isso, criamos esta ferramenta: ‘Words of Iron’ foi concebida, combinando tecnologia com nosso desejo sincero de comunicar a verdade. Nossa ferramenta responde à necessidade essencial de ampliar as publicações pró-Israel e denunciar publicações violentas e inflamatórias nas mídias sociais [grifo nosso]. Ela foi desenvolvida para todos os apoiadores de Israel em todo o mundo que desejam apoiar Israel e participar de seus esforços de defesa digital.”
Abaixo, o vídeo promocional do “Words of Iron” (em inglês), onde se lê que “impulsionar a voz de ‘Israel’ toma apenas dois clicks”, seguido pelo funcionamento da ferramenta:
Por fim, o “Words of Iron” estimula os participantes a usarem a marcação Words of Iron, que, segundo o Digital Forensic Research Lab (DFRLab), apareceu em mais de 40 mil publicações, sendo usada por mais de cinco mil usuários e alcançando um contingente superior a 1 milhão de usuários do X entre 10 de outubro de 2023 e 10 de março de 2024. MintPress informa ainda que o “engajamento caiu depois de 13 de outubro”, razão pela qual a ferramenta foi desativada.
Reproduzindo informe do DFRLAB, MintPress noticia que longe de se limitar a publicações em defesa da invasão sionista da Palestina, o Words of Iron atuava marcado publicações em defesa de “Israel”, sinalizando publicações a serem atacadas. Entre os alvos mais destacados, informa o órgão norte-americano, estão o grupo ativista Scottish Jews Against Zionism (“Judeus Escoceses Contra o Sionismo”, em português) e da jornalista australiana-libanesa Daizy Gedeon. O sítio relata ainda um caso publicado pelo Washington Post, tratando do ataque digital cerrado contra uma advogada norte-americana Rosy Pirani, após publicação em que afirmava que “Jesus era palestino”:
“O Washington Post informou que a ferramenta também incentivou os usuários a sinalizarem uma publicação do dia de Natal da influenciadora e advogada Rosy Pirani, afirmando que Jesus era palestino. A publicação foi denunciada no Instagram, e agora o conteúdo dela não está sendo recomendado para quem não a segue. Ela foi banida da página Explorar e da aba Reels, e não pode mais monetizar suas postagens.”
A reportagem informa ainda que ferramentas como o Words of Iron funcionam como instrumento de pressão, para que mensagens favoráveis à Palestina não sejam publicadas. Impulsionar a censura, como se vê, é uma das premissas fundamentais da estratégia digital sionista, expressa abertamente nos dizeres dos responsáveis pela ferramenta e reforçado nos métodos de atuação.
“Além disso”, continua MintPress, “o DFRLab encontrou muitas contas X suspeitas vinculadas ao Words of Iron. Algumas contas que usam a ferramenta Words of Iron foram criadas imediatamente após o ataque do Hamas em 7 de outubro, enquanto outros perfis ficaram inativos por anos antes de renovar a atividade usando o Words of Iron.” A reportagem continua, reproduzindo o informe do DFRLab, traduzido abaixo:
“O DFRLab identificou pelo menos duzentas contas criadas após os ataques de 7 de outubro, algumas criadas com minutos de diferença uma da outra, que amplificaram as mensagens do WOI. (…) Mais de cem contas não tinham uma imagem de avatar e usavam identificadores alfanuméricos no momento do relatório.”
“O Words of Iron é mais avançado em termos de design e interface de usuário, incorporando gamificação e automação, por exemplo, e capacidade de gerar conteúdo infinito com segmentação específica”, conclui a nota do DFRLab reproduzida pelo sítio norte-americano, acrescentando que “’o foco da ferramenta em impulsionar mensagens de apoio de políticos e influenciadores em várias plataformas de mídia social’ é particularmente notável.”
O Words of Iron, no entanto, não era a única ferramenta a trabalhar a favor da campanha sionista revelada pela reportagem de MintPress e nem o inglês o único idioma. É o caso de Veo Israel, destinada a produzir conteúdo em espanhol.
Segundo o sítio norte-americano, o Veo Israel foi fundado por Rodrigo Gonzalez, ex-soldado da Brigada de Golã do exército israelense. Focado outra rede social, o Facebook, Gonzalez informa estar lutando na “guerra dos meios de comunicação” para “defender a reputação de Israel”.
“Alguns dos anúncios que a Veo Israel veiculou no Facebook incluem ataques à UNRWA, ao movimento de solidariedade a Gaza nos campi universitários e uma história sobre um soldado argentino que está lutando com o exército israelense em Gaza. Embora o impacto on-line do Veo Israel pareça pequeno – com apenas cerca de 700 curtidas no Facebook e postagens no Instagram que raramente alcançam 1.000 curtidas – o grupo se conectou com políticos do mundo todo, incluindo Santiago Abascal, líder do partido espanhol VOX, o político chileno Antonio Kast e o presidente argentino Javier Milei. Ele também recebeu financiamento de Gabriel Colodro, chefe da seção de língua espanhola do partido Yesh Atid de Israel.”
Outras ferramentas identificadas pela reportagem publicada por MintPress nos esforços de defesa do sionismo nas redes se destacam, entra elas:
- Moovers, que como o sítio lembra, “chamou a atenção internacional em dezembro, quando um representante da Leaders entrou em contato com criadores de conteúdo oferecendo-se para pagá-los para promover o Moovers” e também na denúncia de publicações pró-Palestina visando sua remoção.
- Iron Truth: bot fabricado para denunciar conteúdo pró-Palestina em massa e responsável, segundo os criadores, pela censura a cerca de mil publicações no X, YouTube e até no TikTok.
- Social Watch: ferramenta construída com um bot e IA para encontrar conteúdo considerado “anti-israelense” e denunciá-lo. “Além disso”, continua MintPress, “o bot notifica o empregador do criador da postagem sobre a violação rotulada. ‘[Desenvolvemos] um bot que identifica ativistas que promovem propaganda em grandes corporações globais e informa seus empregadores sobre as violações cometidas’, diz a página da Web do Social Watch”. Segundo o sítio norte-americano, a taxa de sucesso de do Social Watch é de cerca de “16% na sinalização de conteúdo”, porém merece destaque os métodos “cada vez mais macarthistas que o lobby de Israel está empregando contra os ativistas pró-Palestina.”
A extensa reportagem de MintPress mostra porque os setores mais politicamente conscientes não devem se sensibilizar com a propaganda sionista nas redes sociais. Existe todo um esquema articulado, envolvendo governos pró-imperialistas, por que no final, o respaldo popular é nulo.
Ainda, dado que são, efetivamente, os fins que justificam os meios, não há como negar o caráter criminoso do sionismo, que apoiados pelo imperialismo, mobiliza uma verdadeira ditadura global, responsável por censura em escala planetária e, como destacou MintPress, “táticas macarthistas” contra dissidentes. Um regime que se ampara no terror e que só pode ser derrotado se enfrentado à maneira da Resistência Palestina, que deve ser apoiada por todos que não desejam padecer da opressão brutal sofrida pelo povo palestino.