Em artigo intitulado O mundo hoje é uma arena política, onde a direita prevalece, publicado pelo jornal O Globo, Merval Pereira, um dos principais porta-vozes da Família Marinho, comenta a recente decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, que estabeleceu que ex-presidentes têm direito à imunidade judicial em acusações criminais por “atos oficiais” praticados durante o mandato. Com essa medida, tornou-se ainda mais distante o sonho de um setor da burguesia norte-americana de ver Donald Trump impedido de concorrer às eleições presidenciais em seu país.
Merval Pereira se mostra chocado com a decisão. Diz ele:
“A decisão da Suprema Corte americana cai como uma luva para a direita do mundo todo, porque dá ao presidente eleito a possibilidade de cometer crimes. O que era considerado crime, hoje, após a decisão americana é considerado atividade normal da presidência. Seria normal, portanto, Trump, brigar com o governador da Georgia para arranjar os mais dois mil votos necessários para ele vencer no estado”.
A suposta preocupação de Merval Pereira com qualquer lei não passa de uma patifaria. O mesmo colunista d’O Globo defendeu e defende até hoje a Operação Lava Jato, que talvez tenha sido a operação com maior quantidade de infrações legais de toda a história. O mais importante, no entanto, é que Pereira deixa de lado qual é a verdadeira luta política que está sendo travada nos Estados Unidos.
Falar que há, neste momento, uma luta no país mais poderoso do mundo para se permitir ou não a prática de crimes é uma coisa verdadeiramente infantil. Todos os governos norte-americanos são intrinsecamente criminosos. Todos os governos norte-americanos são administradores de uma máquia brutal de repressão que oprime todos os povos do mundo, fazendo uso de golpes de Estado, torturas, assassinatos e, claro, muita corrupção. No dia em que for realmente proibido que um político norte-americano cometa crimes, o regime inteiro vem abaixo.
O debate, portanto, não é sobre poder ou não praticar crimes. O que hoje está em disputa nos Estados Unidos é se o regime político conseguirá ou não realizar um crime inédito naquele país: impedir que um ex-presidente seja candidato. Isto é, se o regime norte-americano permanecerá ainda com algumas garantias democráticas ou se ele será substituído por uma ditadura total contra os direitos políticos da população.
Em nome de uma suposta defesa do “combate a crimes”, Merval Pereira deixa claro qual a sua posição. Ele está do lado dos banqueiros, do grande capital e de todos os seus meios, incluindo os mais autoritários possíveis, para garantir que os seus interesses sejam atendidos.