Tudo mudou em “Israel” depois do dia 7 de outubro de 2023. Na verdade, o mundo inteiro mudou quando a resistência palestina, capitaneada pelo braço armado do Hamas, as brigadas Al-Qassam, deflagrou a Operação Dilúvio de Al Aksa.
A imprensa israelense já divulgou o número de mais 70 mil baixas nas FDI – Forças de Defesa de “Israel” – desde o início do conflito na Faixa de Gaza. Esse fato coloca o governo israelense de ultra direita diante da necessidade imperiosa de convocar mais soldados para o moedor de carne imperialista. Ao que parece o governo fascista, supremacista e colonialista de “Israel” está vislumbrando como única saída da enrascada em que se meteu em Gaza, arranjar uma encrenca ainda maior, provocando uma guerra aberta contra o Hesbolá e o Líbano.
Nessa conjuntura, os judeus pejorativamente chamados de “ultra ortodoxos”, os haredim, que vivem em “Israel”, até então preservados e isentos do serviço militar, perderam no parlamento sionista o privilégio de poder se dedicar exclusivamente ao estudo da Torah e da religião judaica. Desde então, tem havido diversos conflitos entre eles e outros grupos de judeus mais sionistas, além da polícia e das forças armadas israelenses.
O movimento Haredi se originou na Europa do século XIX como uma reação às transformações do mundo capitalista moderno. Os Haredim têm um modo de vida tradicional e particular, defendendo o tradicionalismo judaico, onde possam se dedicar ao estudo das escrituras sagradas e à adoração do deus judaico. Buscam o maior distanciamento possível do mundo exterior; a exceção são as atividades econômicas, necessárias para que eles possam permanecer “puros” e imaculados pelas atividades mundanas. Os membros da comunidade são em geral fáceis de reconhecer devido aos seus trajes típicos, os homens com trajes pretos, usam geralmente barbas compridas e tranças encaracoladas adiante das orelhas, bem como caftans, camisas brancas e chapéus pretos de abas largas ou de pele; as mulheres com roupas largas e longas e as cabeças cobertas.
O judaísmo ortodoxo é um dos três grandes ramos do judaísmo, o mais apegado ao modo de vida tradicional, aos rituais e às regras preconizadas nos livros sagrados dos judeus, a Torá e o Talmud. Os Haredim são cerca de 1,8 milhão de pessoas no planeta, vivendo em “Israel” e principalmente na América do Norte, e na Europa Ocidental. Em geral essa população é contra a ideologia sionista e não aprova a criação do Estado de “Israel”, o que, segundo eles, só deveria acontecer após a vinda do Messias, conforme as escrituras sagradas que eles obedecem. Estão também divididos, como a maioria da população judaica, em judeus ashkenazi – originários da Europa oriental – e sefaraditas – de origem ibérica, do norte da África e da Ásia Ocidental ou do Oriente Médio.
A isenção dos Haredim para o serviço militar universal e obrigatório, existente em “Israel”, originou-se de um acordo especial, anterior à formação do Estado israelense, o “torato umanuto” (que significa “o estudo do Torá é seu trabalho”). Havia na época a crença de que o estudo e a recitação da Torá protegiam o povo judeu das ameaças. Como os Haredim à época eram um grupo pequeno, isso causava pouco impacto social, e tudo que eles precisavam para se livrar do alistamento militar era dedicar-se ao estudo dos livros sagrados hebraicos, em escolas religiosas, chamadas yeshivas, financiadas pelo governo.
O problema é que os Haredim já se tornaram 12,9 % da população total de “Israel”, incluídos aí os árabes que vivem no Estado sionista. Essa isenção do serviço militar para um percentual tão significativo da população judaica passou a ser uma questão incontornável para o governo Netaniahu, que está com graves problemas para o alistamento militar, além de enfrentar uma séria crise econômica. Em 25 de junho de 2024 a Suprema Corte de “Israel” decidiu que os militares começassem a recrutar os estudantes de yeshiva, abrindo uma crise com a comunidade Haredim e ameaçando provocar uma ruptura de características fatais no país artificial.
Não que ele tivesse escolha. Com a pressão dos grupos sionistas mais radicais, era um ou outro. De qualquer forma, no atual estágio da crise vivida por “Israel”, todas as opções são ruins, um sintoma claro de que o fim da ocupação sionista se aproxima.