Nesta quinta-feira, dia 27 de junho, o presidente Lula (PT) criticou os “cretinos” da imprensa que atribuíram a alta do dólar às suas declarações. A reprimenda ocorreu na durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), conhecido como “Conselhão”.
A imprensa burguesa ataca o governo Lula por tudo, sendo culpa sua ou não. O caso da alta do dólar se tornou um motivo de ataque. Lula se pronunciou:
“Quando eu terminei a entrevista, a manchete de alguns comentaristas era de que o dólar subiu pela entrevista do Lula. Os cretinos não perceberam que o dólar tinha subido 15 minutos antes de eu dar entrevista. 15 minutos antes. Então esse mundo perverso, das pessoas colocarem para fora o que querem, sem medir a responsabilidade do que vai acontecer, é muito ruim”.
O presidente ainda avaliou essa política de “fortalecimento do dólar e no enfraquecimento do real”, ao ser ver desvalida. Para o governante essa não é a primeira manifestação dessa política, devendo manter-se infrutífera.
“Quem estiver apostando em derivativos vai perder dinheiro nesse país. As pessoas não podem ficar apostando no fortalecimento do dólar e no enfraquecimento do real. Eu já disse em 2008. Quem não lembra a quantidade de empresa que quebrou? As pessoas acharam que era importante ganhar dinheiro apostando no fortalecimento do dólar e no enfraquecimento do real e quebraram a cara. E vão quebrar outra vez. Vão quebrar porque eu não voltei a ser presidente para dar errado. Eu só voltei porque eu tenho consciência de que vai dar certo esse país”. Afirmou Lula.
Reação da imprensa
Imediatamente após entrevista de Lula ao portal UOL, a imprensa reagiu com ferocidade a política esboçada pelo governante no relativo aos gastos públicos. A discordância de Lula com a política de austeridade absoluta com os gasto sociais foi a pedra de toque da questão.
Segundo o analista de mercado da Stonex, Leonel Mattos, “há pessimismo e desconfiança em relação à condução das políticas fiscal e monetária, mas com maior peso para o fiscal”. Os capitalistas demonstram preocupação com desvios mínimos da sua determinação política.
Para o ex-diretor do Banco Central Tiago Berriel: “dada a volatilidade e a incerteza do cenário, o que temos confiança é que a próxima decisão do Copom é pela manutenção, talvez até o final do ano. Mas mesmo aí já é um horizonte longo demais para ter certeza”.
Essa foi a partitura executada pela grande imprensa, em harmonia com as intervenções do “mercado”. O governo teve seus embates no Copom e na imprensa, em ambos os capitalistas foram impiedosos com o terceiro governo Lula.
Qual o pecado de Lula?
Diante de tamanha comoção da burguesia e imprensa, podemos nos perguntar qual a gravidade das declarações de Lula. Qual o seu pecado para sofré tamanho martírio do “mercado”. Vamos elencar abaixo trechos da entrevista ao UOL.
“Não é (possível), porque não considero isso gasto, gente. A palavra salário mínimo é o mínimo que a pessoa precisa para sobreviver”. Afirmou Lula, contrariando a tentativa de desvinculação do Benefício de Prestação Continuada (BPC), devido a idosos e deficiente s com baixa renda, e pensões da política de valorização do salário mínimo.
“O problema não é que tem que cortar. O problema é saber se precisa efetivamente cortar ou se precisa aumentar a arrecadação. Temos que fazer essa discussão“, afirmou Lula em relação aos gastos públicos, questionando a política de austeridade do orçamento social reivindicada pelos capitalistas.
Nessa entrevista o único pecado de Lula perante os “mercado” foi de aparente indisposição de ceder-lhe todo o orçamento publico. Em 2023, apenas sob a rubrica de pagamento dos juros e amortização da dívida pública, mais 43% do orçamento federal foi direto para as mãos dos banqueiros, que insatisfeitos com o montante anseia os temperos do regime golpista onde a cifra dessa transferência ultrapassou os 51%.
Hadad, o apaziguador do mercado
A existência de linhas distintas no governo e até no PT não é novidade, entretanto as defesas de Haddad estão a destoa muito de Lula. Mais próximo de sua colega ministra Simone Tebet, Haddad abranda a política da burguesia, com a qual Lula tentar conviver e conciliar em sua terceira via.
“Reconhecemos a necessidade de encerrar as pressões de gastos públicos, desde que cuidemos dos mais vulneráveis“, afirmou Haddad, em relação à política de austeridade com os gastos públicos, sendo convenientemente vago na questão social.
“Temos que proteger a nossa economia e a forma é acelerar a agenda de reformas econômicas, macroeconômicas e microeconômicas no Congresso, acelerar o redesenho de políticas públicas, buscar equilíbrio fiscal, sim, pelo lado da receita e da despesa, não há outra forma de fazê-lo, com sabedoria, com inteligência para que não coloquemos em risco o crescimento que ajuda a estabilizar a relação dívida-PIB”. Declarou Hadad.
“Equilíbrio fiscal”, ou dinheiro para os bancos em vez de atender a população, é ponto nevrálgico dessa disputa. Embora para o “mercado” o discurso de Haddad não tenha graciosidade das privatizações de FHC, tem uma cadência que lhe apetece.