Os sionistas pseudo esquerdistas sempre existiram. Eles inclusive foram uma ala majoritária do movimento durante décadas, hoje estão quase desaparecidos. Durante a Catástrofe Palestina, a Nakba, que atingiu seu ápice com a limpeza étnica de 800 mil palestinos, esse setor tinha a mesma política que o atual: condenar os dois lados de forma a identificar o sionismo com uma feição democrática. Naquela época, era mais fácil fazer isso, pois não havia Internet, mas é impressionante como as teses são parecidas.
A Organização Judaica da Inglaterra era uma dessas que propagava o “sionismo de esquerda”. Em agosto de 1947, menos de um ano antes da criação de “Israel”, eles emitiram um comunicado. Ele afirma: “organização Socialista Judaica na Inglaterra condena amargamente os grupos terroristas palestinos que se esforçam tentando alcançar o poder por meio de bombas e andaimes. Também denuncia veementemente toda a propaganda sionista, responsável pelos atos fascistas cometidos pelo facção mais nacionalista da juventude judaica na Palestina atos que colocam em perigo a comunidade judaica em Palestina, bem como as comunidades judaicas em todo o mundo o mundo”. Todos os leitores já devem ter lido e ouvido “fora Netaniahu e Hamas”, isso não é nenhuma novidade.
O comunicado segue: “a OSJ na Inglaterra levanta a sua voz em protesto contra todos aqueles que são em incitar os angustiados DP judeus a imigração legal para a Palestina por barcos que colocam suas vidas em perigo e permanecem extremamente magros chance de chegar ao seu destino. Particularmente cruel tem sido a campanha de um ‘Êxodo Europeu’, o que implicava a necessidade para os habitantes judeus de vários países da Europa fugirem das suas casas onde desejam permanecer”.
Esse aspecto é interessante. Antes da criação de “Israel”, ainda não havia se estabelecido essa ideia de que a Palestina era o único destino para os judeus europeus. Nesse sentido, as organizações sionistas ainda faziam uma defesa de melhorar as condições de vida na Europa, visto que isso era a principal posição dos judeus europeus. Eles não queriam imigrar para o Oriente Médio, os que desejam imigrar preferiam os EUA, maior destino da imigração judaica.
Ele continua: “a OSJ na Inglaterra está profundamente convencido de que o Movimento Trabalhista Britânico bem como o Governo britânico estão plenamente conscientes os perigos políticos e sociais envolvidos nas atividades antissemitas de qualquer tipo na Inglaterra, e particularmente naqueles que ocorreram recentemente em Liverpool e Manchester. Esperamos que tanto o Movimento Trabalhista como o Governo deve fazer o máximo em seus respectivos domínios a fim de proteger os cidadãos britânicos de origem judaica, que não são responsáveis pelos atos ultrajantes cometidos cometido por judeus fascistas na Palestina. Apesar de autoridades, cumprindo os seus deveres, extinguiram as tentativas antissemitas contra os cidadãos judeus, nós somos da opinião de que a população da Inglaterra deveria ser ainda mais esclarecido quanto ao perigoso implicações da propaganda antissemita, que sempre e em todos os lugares era apenas uma ferramenta usada por reacionários e Elementos fascistas. A OSJ na Inglaterra espera que o governo, bem como o Movimento Trabalhista Socialista, fará tudo o que estiver ao seu alcance poder para prevenir a recorrência dos excessos antissemitas, que são prejudiciais ao bom nome dos britânicos democracia”.
Esse trecho é interessante, pois mostra também como a situação é análoga à atual. Os sionistas na Palestina sempre foram verdadeiros fascistas. Isso gerava uma repulsa no movimento operário. A verdade é que a repulsa é de muito antes da década de 1940. No início do século XX, o sionismo já era considerado como um movimento da direita. Na Rússia, os sionistas tiveram a capacidade de se colocar ao lado do Czar, o mais antissemita dos monarcas da Europa, contra a Revolução.
Na Alemanha da década de 1930, os sionistas não lutaram contra Hitler, eles se aliaram ao governo para que fosse fortalecida a colônia sionista na Palestina. Foi uma das manobras de maior sucesso do movimento sionista. Usaram o antissemitismo de Hitler para forçar o capital e a população judaica a sair da Alemanha e, assim, aumentar o desenvolvimento da colônia sionista na Palestina. Ou seja, as relações entre fascistas e sionistas sempre foram muito próximas.
Durante a catástrofe palestina, todo o movimento operário se colocava contra a matança. Era uma tradição do movimento operário ser contra as colônias. Assim, os “sionistas de esquerda”, da mesma forma que fazem atualmente, acusavam os trabalhadores de antissemitismo. O movimento operário inglês nunca teve essa tradição antissemita, depois da Segunda Guerra Mundial isso tende a ser ainda menor, pois o imperialismo inglês lutou contra o nazismo.
A única explicação para esses casos de Manchester e Liverpool, cidades operárias, é que as manifestações em defesa da Palestina foram tachadas de antissemitas. Certas estrategias definitivamente nunca mudam.