No domingo (23), o primeiro-ministro de “Israel”, Benjamin Netaniahu, afirmou que o fim da “fase intensa” da guerra em Gaza estava “muito próximo”. O premiê sionista afirmou que o exército israelense seria redirecionado para a fronteira no norte com o Líbano para um embate mais concentrado contra o Hesbolá, partido mais popular do país.
Netaniahu, entretanto, insiste que o final desta fase do conflito não significará o fim da guerra. O primeiro-ministro ressalta que “Israel” continuaria tentando destruir o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe), apesar de não ter conseguido nenhuma vitória significativa contra a resistência palestina desde 7 de outubro de 2023.
Segundo o sionista, diminuir o ritmo da guerra em Gaza daria a “Israel” “a possibilidade de mudar algumas de nossas capacidades” para o norte do “país”.
“Faremos isso, antes de mais nada, para fins defensivos. E em segundo lugar, permitir que os nossos residentes voltem para casa”, disse Netanyahu, referindo-se aos cerca de 60 mil colonos sionistas que foram evacuados do norte de “Israel” desde o início da guerra.
Ressaltando ainda mais a incapacidade militar israelense, o premiê ainda afirmou que esta defesa poderia se dar de maneira diplomática: “se pudermos fazer isso diplomaticamente, ótimo. Caso contrário, faremos de outra maneira. Mas vamos trazer todos de volta para casa”, disse.
As declarações acima foram feitas em uma entrevista para o Canal 14 israelense. Netaniahu também declarou que “Israel” estaria disposto a fechar um acordo que resulte na liberação parcial dos prisioneiros que estão, neste momento, com o Hamas:
“Estou disposto a fazer um acordo parcial que nos devolva uma parte dos [prisioneiros], mas estamos empenhados em continuar a guerra após uma pausa, a fim de cumprir os objetivos da guerra”, afirmou.
Entretanto, na segunda-feira (24), ele se contradisse durante uma sessão no Knesset (parlamento israelense), declarando que “Israel” está “comprometido com a proposta israelense [de cessar-fogo] bem recebida pelo presidente [dos EUA] Biden”. Ao mesmo tempo, afirmou que “nada vai nos parar” e que seu “país” está em uma “luta existencial em sete frentes […] lideradas pelo Irã”.
“Vamos frustrar esta campanha. Vamos frustrá-la porque o Irã está errado sobre nós — e muito”, disse, acusando o país persa de não “levar em conta a nossa força, as nossas capacidades e a nossa determinação em defender-nos e cobrar um preço devastador aos nossos atacantes”.
Em relação à contradição entre as declarações dadas por Netaniahu, Gadi Eisenkot, que participou enquanto observador do Gabinete de Guerra israelense, afirmou que o que o primeiro-ministro israelense afirmou no domingo está em desacordo com as decisões tomadas pelo Gabinete.
“Como alguém que fazia parte do Gabinete, havia apenas duas opções: um acordo completo de uma só vez ou um acordo abrangente em três etapas. O gabinete votou por unanimidade sobre isto e, portanto, a declaração de Netaniahu sobre um ‘acordo parcial’ é contrária às decisões do Gabinete de Guerra […] Talvez tenha sido um lapso de língua… Isto requer esclarecimento imediato do primeiro-ministro”, disse.
Ao mesmo tempo, há indicações de que o Irã possa tomar um papel mais ativo na guerra contra “Israel” caso a ocupação sionista decida aumentar seus ataques ao Hesbolá. Oficiais de alta patente dos Estados Unidos afirmaram, no domingo, que qualquer ofensiva militar israelense adentrando o Líbano arriscaria uma resposta iraniana.
O general da Força Aérea Charles Q. Brown, presidente do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, disse que o Irã “estaria mais inclinado a apoiar o Hesbolá” do que o Hamas em Gaza, “especialmente se eles sentissem que o Hesbolá estava sendo significativamente ameaçado”.
Há algumas semanas, o Rádio do Exército de Israel, citando o jornal libanês Al-Akhbar, afirmou que o Talibã, do Afeganistão, garantiu ao Irã que, se o conflito entre os sionistas e o Hesbolá se intensificar, enviará milhares de combatentes talibãs para o Líbano. Antes, o embaixador do Irã em Cabul, capital afegã, declarou o Afeganistão parte do “eixo de resistência” e mencionou que as forças do “martírio” do Afeganistão iriam para Gaza se necessário.
Enquanto isso, os Estados Unidos estão tentando persuadir o governo Netaniahu a não declarar uma ofensiva total contra o Hesbolá.
Segundo o Departamento de Estado norte-americano, em sua reunião com o ministro da Defesa Yoav Gallant nessa terça-feira (25), o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, aconselhou “Israel” a não atacar com mais intensidade o Hesbolá.
Blinken “ressaltou a importância de evitar uma nova escalada do conflito e de alcançar uma resolução diplomática que permita que as famílias israelenses e libanesas retornem às suas casas”, disse o Departamento de Estado em sua análise sobre a reunião do secretário com Gallant.
Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), declarou que a política de “Israel” em relação ao Hesbolá e ao Hamas é uma vitória para os grupos armados palestinos e seus aliados. Suas declarações foram feitas durante o programa Análise Internacional, transmitido pelo canal do Diário Causa Operária (DCO) no YouTube.
Pimenta começou sua análise apontando a falta de viabilidade na estratégia israelense de enfrentar o Hesbolá. “Acho que é uma loucura isso de enfrentar o Hesbolá”, afirmou, destacando que a imprensa burguesa vai declarar que é uma vitória.
O presidente do PCO se referiu a uma manchete do jornal israelense Haaretz, onde o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netaniahu, estaria “comprometido com a proposta esboçada por Biden”. Para Pimenta, isso simboliza um retrocesso para os sionista e, nas suas palavras, “é uma vitória do Hamas”. Ele acredita que a imprensa pode tentar minimizar esse fato, mas que não há como negar a realidade: “é uma vitória espetacular do Hamas“.
Rui Costa Pimenta também analisou a aliança entre diversos grupos e nações do Oriente Médio que contribuem para essa situação. Ele mencionou o “esforço conjunto entre o Iêmen, o Irã, o Hesbolá, o Hesbolá iraquiano, a guerrilha na Síria e, muito particularmente, fica claro o papel do Hesbolá no Líbano”. Segundo ele, essa coalizão demonstra a incapacidade de “Israel” de lutar em múltiplas frentes: “enquanto estão tentando derrotar o Hamas, o Hesbolá está acabando com eles no norte”.
Pimenta ainda destacou como não faz sentido “Israel” querer enfrentar o Hesbolá se não consegue derrotar o Hamas. “Para o Hamas colocar uma arma lá, precisa contrabandear; para ter suprimentos, precisa contrabandear; os israelenses cercam todas as fronteiras”, explicou. Em contraste, o Hesbolá possui apoio direto da Síria e do Irã, não enfrenta tais limitações: “eles têm plenas condições de enfrentar, de ter suprimentos, de ter reposições de armas”.
O militante trotskista também mencionou uma nova ameaça potencial com a entrada do Talibã no conflito libanês, trazendo um arsenal considerável de armas norte-americanas. “O Talibã vai lutar no Líbano. E o Talibã herdou, quando colocou os norte-americanos para correr, um arsenal muito grande de armas norte-americanas”, afirmou.
Por fim, Pimenta falou sobre o futuro de “Israel”. Ele citou problemas de recrutamento e uma possível crise de confiança no governo israelense: “tem gente indo embora de ‘Israel’. Se o governo israelense falar que vai ter guerra contra o Hesbolá, acho que vai ter uma evasão populacional gigantesca”. Em sua visão, o Estado de “Israel” está “na beira do abismo”.