A Passeata dos Cem Mil foi a maior manifestação contra a ditadura promovida em um momento em que a mesma dava sinais de que não iria ser breve como imaginavam muitos políticos e a sociedade em geral.
Mesmo apoiadores do golpe de 1964, que derrubou o governo democraticamente eleito de João Goulart, vendo a repressão e o ataque aos direitos democráticos da população, passaram a ser contra o regime militar.
Nessa situação, estudantes começaram a organizar manifestações populares contra a ditadura militar, contra a censura, prisões, mortes e torturas de qualquer um que se ao opunha ao regime estabelecido pelos golpistas em 1964.
A repressão policial torno-se imensa, e numa passeata ocorrida no dia 28 de março contra o aumento do preço das refeições servidas a estudantes, a polícia militar os perseguiu. Eles então se refugiaram no restaurante estudantil Calabouço.
A tropa da PM comandada pelo aspirante Aloísio Raposo invadiu o restaurante, o próprio atirou a queima-roupa no peito do estudante Edson Luís Benedito Frazão Dutra, que teve morte imediata.
O assassinato de Edson Luís teve repercussão nacional e desencadeou uma onda de protestos que culminou com a Passeata dos Cem Mil, que ocorreu em 26 de junho de 1968.
Logo pela manhã de 26 de junho de 1968, os participantes da passeata já tomavam as ruas da Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro.
A marcha começou às 14h, com cerca de 50 mil pessoas, mas em pouco tempo esse número já havia dobrado.
Além dos estudantes, também artistas, intelectuais, políticos e outros segmentos da sociedade civil brasileira juntaram-se à passeata, tornando-a uma das maiores e mais expressivas manifestações populares da história republicana brasileira.
Ao passar em frente à igreja da Candelária, a marcha interrompeu seu andamento para ouvir o discurso inflamado do líder estudantil Vladimir Palmeira, que lembrou a morte de Edson Luís e cobrou o fim da ditadura militar.
Tendo à frente uma enorme faixa com os dizeres “Abaixo a Ditadura. O Povo no poder”, a passeata prosseguiu, durante três horas, encerrando-se em frente à Assembleia Legislativa, sem conflito com o forte aparato policial que acompanhou a manifestação popular ao longo de todo o seu percurso.
Apesar da repressão, as manifestações estudantis continuaram até 13 de dezembro de 1968, quando foi promulgado o AI-5, marcando o início dos assim chamados Anos de Chumbo da Ditadura Militar brasileira. A partir desse momento, todas as manifestações públicas foram proibidas, milhares de pessoas foram perseguidas, exiladas, presas, torturadas e mortas.
O fechamento do regime foi a única maneira encontrada pela ditadura militar para evitar a derrubada do regime e a implantação de um governo popular no maior país da América do Sul.