O jornal O Globo publicou um editorial na terça-feira (18) em que comenta o caso de Vinícius Júnior, comemorando a punição daqueles que fizeram xingamentos racistas contra o jogador. Infelizmente, somos obrigados a admitir, o caso Vini Jr. na Espanha, onde o brasileiro sofre uma intensa pressão dos europeus, que o atacam por sua cor de pele, tem sido usado pelo imperialismo para promover a política identitária e repressiva.
Aliás, o próprio jogador está incorporado à campanha e comemorou a punição aos torcedores que o xingaram. “Não sou vítima de racismo. Eu sou algoz de racistas”, disse Vini Jr. depois da sentença. Pela primeira vez na história do esporte espanhol, torcedores de um time adversário, o Valencia, foram condenados à prisão pela Justiça por racismo.
Primeiro, temos de destacar que Vini está completamente iludido se acha que ele é o “algoz de racistas”. Por mais que esteja incluído na campanha, Vini não tem absolutamente poder nenhum para, de fato, prender racistas ou qualquer pessoa. Quem prendeu foi o Estado imperialista espanhol, justamente para aprofundar a sua política repressiva. Vini, nesse sentido, está sendo manipulado para esses fins.
Vini merece ser considerado o melhor jogador do mundo nesta temporada. Atualmente, é o principal jogador brasileiro em atividade, e devemos defendê-lo sempre como parte de defender o futebol arte nacional. Isso não significa, porém, que devemos apoiar a política à qual ele foi incorporado pelo imperialismo.
Enquanto O Globo diz que “a trajetória nos gramados da Espanha credencia Vinicius Jr. como favorito a ganhar a Bola de Ouro deste ano. Mas foi fora de campo que o jogador do Real Madrid conseguiu algo inédito”; devemos prestigiá-lo dentro de campo e criticar a política do imperialismo do lado de fora dos gramados.
Vejam vocês que O Globo, responsável pelo golpe de Estado no Brasil — e, portanto, por colocar milhões de brasileiros na miséria, majoritariamente negros — diz que “há todos os motivos para celebrar as condenações”. Da mesma forma, após a sentença judicial, a La Liga, ou seja, o grande capital imperialista espanhol no futebol, comemorou, considerando o fato “uma ótima notícia”, e advertiu os que vão ao estádio para “insultar” de que os identificará e denunciará, para que haja “consequências criminais”.
O Globo ainda torce para que “a campanha de Vini Jr. seja um marco contra o racismo nos estádios”. (Aqui, novamente, deveríamos colocar “de Vini Jr.” entre aspas, pois ele é apenas o garoto propaganda da campanha imperialista). O jornal ainda lembra que “a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) já incluiu no Regulamento Geral de Competições a possibilidade de o clube ser punido esportivamente caso seus torcedores, dirigentes ou integrantes da comissão técnica cometam ‘infração de cunho discriminatório’. A súmula da partida será enviada ao Ministério Público e à Polícia Civil”.
E conclui:
“Se o futebol é o esporte do povo, não pode conviver com quem desrespeita etnias, credos e orientação sexual. O mesmo vale para qualquer esporte. A bem-sucedida luta de Vini Jr. serve de exemplo no combate a essa chaga que infelizmente ainda grassa nos estádios Brasil e mundo afora.”
A política para a qual Vinícius está sendo usado serve, primeiro, para aumentar os poderes repressivos do Estado. Segundo, para atacar a liberdade de expressão, sensibilizando alguns setores com a questão do racismo. Terceiro, faz parte de uma ofensiva geral do capital monopolista contra torcedores de futebol no mundo inteiro, numa tentativa de controlar mais facilmente o esporte mais popular de todos.
Sobre o racismo contra Vini, devemos ver isso como um ataque a todo o futebol brasileiro. Vinícius está sob uma pressão intensa da Europa, sendo ameaçado e xingado constantemente. Em uma entrevista coletiva antes do amistoso entre Brasil e Espanha em Madri, afirmou que “cada vez tenho menos vontade de jogar”. “Mas, se saio daqui, estou dando o que os racistas querem”.
Nesse sentido, os ataques a Vinícius Júnior são um ataque contra a Seleção Brasileira e o futebol nacional. Tentam desmoralizar e desmotivar um dos atuais principais jogadores do Brasil — o mais importante em atividade no momento, tendo em vista a lesão de Neymar. Para combater isso, apenas uma propaganda intensa contra o futebol europeu. Devemos lutar por uma política que devolva nossos craques ao Brasil e que impeça a saída deles cedo na vida.
Apenas o enfrentamento pode superar essa questão, e o Estado burguês — principalmente o Estado imperialista espanhol — não é nosso aliado. Ao contrário, quando precisarem, são eles próprios os maiores impulsionadores do racismo contra nossos jogadores e nosso povo.