Aliança estabelecida na cidade de São Paulo entre o bolsonarismo e a direita tradicional é uma antecipação do que tende a acontecer no cenário nacional. O atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) é pré-candidato à reeleição com a participação direita do próprio Bolsonaro, mostrando que a burguesia de conjunto sela um acordo cada vez mais firme com o bolsonarismo. Nunes, em vias de escolher seu vice-candidato, tem como indicado preferencial o ex-comandante da ROTA Coronel da reserva Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo.
Mello Araújo é o escolhido do próprio Bolsonaro, ambos estiveram na última semana em almoço com Nunes para discutir a questão, embora não haja, até o momento, oficialização do nome de Araújo. Mello Araújo destoa um tanto dos políticos da direita tradicional, é um bolsonarista linha dura, que expõe claramente sua política anticomunista e antidemocrática.
Quando chefiou a ROTA, em 2017, o então novo comandante Mello Araújo afirmou de maneira clara que existe e defendeu uma diferença de tratamento entre os moradores dos Jardins e da periferia de São Paulo. Num discurso que lembra o regime de segregação ou o fascismo clássico, afirmou:
“Da mesma forma, se eu coloco um [policial] da periferia para lidar, falar com a mesma forma, com a mesma linguagem que uma pessoa da periferia fala aqui no Jardins, ele pode estar sendo grosseiro com uma pessoa do Jardins que está ali, andando […] O policial tem que se adaptar àquele meio que ele está naquele momento.”
Ou seja, defendeu de público que o Estado deve diferenciar e dar tratamento distinto para os cidadãos conforme o seu padrão aquisitivo. Araújo, já na reserva, presidiu, durante o governo Bolsonaro, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). Na ocasião, atuou de maneira totalmente autoritária, ilegal e violenta contra o Sindicado dos Carregadores Autônomos (Sindicar). Militarizando o órgão público, o ex-PM chegou a invadir a sede do sindicato com outros policiais da reserva, armados, e revistar todos, incluído o presidente do sindicato, de maneira totalmente violenta e ilegal.
Mello Araújo é um dos principais entusiastas da política de Bolsonaro, e defendeu em todas as ocasiões a iniciativa de Bolsonaro e do bolsonarismo. Aqui fica mais uma vez evidente que a direita dita “democrática” não repudia o bolsonarismo, mas se nutre dele e o utiliza quando necessário.