A cruzada da imprensa burguesa contra a liberdade de expressão continua. Em artigo recente no jornal O Globo, um dos maiores porta-vozes da burguesia imperialista, de Luísa Marzullo e Bernardo Mello, intitulado “Apoiadores de Lula, influenciadores de esquerda repetem bolsonaristas e propagam fake news nas redes sociais; veja quais”, representa uma visão unilateral e problematizadora da liberdade de expressão, um dos pilares mais fundamentais de qualquer democracia robusta. A reportagem se concentra na disseminação de desinformação por influenciadores de esquerda, como Thiago dos Reis e Ronny Teles, mas ao fazê-lo, parece ignorar a importância da liberdade de expressão, mostrando que a campanha das “fake news” nada mais foi do que uma arma da direita contra a própria esquerda.
A liberdade de expressão é um direito fundamental que protege o direito dos indivíduos de expressar suas opiniões e ideias sem medo de censura ou represálias. Este direito é essencial para o funcionamento sobretudo da democracia burguesa, onde as amarras e mordaças estão com a burguesia para colocar em seus opositores, sendo crucial que ela seja irrestrita para não só permitir o debate aberto e a troca de ideias, mas permitir que os trabalhadores se expressem. Qualquer tentativa de restringir esse direito deve ser vista com extremo ceticismo, no mínimo, mas também como um ataque aos direitos democráticos dos trabalhadores.
O artigo aponta que influenciadores de esquerda estão adotando táticas de desinformação semelhantes às usadas anteriormente por bolsonaristas. O ponto fundamental dessa questão se dá justamente em algo já denunciado por este Diário, que é como a maior disseminadora de notícias falsas e desinformação passará sempre impune: os grandes grupos do monopólio de comunicação. A imprensa tradicional não está imune a essas práticas, sendo sua maior divulgadora e a maior mentirosa por definição desse país. A diferenciação feita no artigo entre “fake news de esquerda” e “fake news de direita” é ainda mais bisonha, porque se o problema fosse, de fato, as notícias falsas, o jornal O Globo teria que lançar um editorial por dia, fazendo uma autocrítica apenas da sua edição anterior.
Em um cinismo nojento, o artigo traz um trecho em que acusa indiretamente os influenciadores do Partido dos Trabalhadores de receberem ordens da alta cúpula do Partido: “Embora sejam filiados ao PT, Ronny e Thiago negam a existência de uma articulação formal do partido com influenciadores de esquerda. Eles afirmam, porém, manter diálogo com a presidente nacional da sigla, Gleisi Hoffmann“. A acusação é parecida com a que era feita ao ex-presidente ilegítimo Jair Bolsonaro, quando o acusavam de possuir um “gabinete do ódio”. O erro é justamente a direita ter monopolizado tal gabinete de propaganda política, quando este era pra ser usado pela esquerda, sobretudo revolucionária. A propaganda política deve ser feita e é isso que influenciadores, menos para a imprensa burguesa, devem fazer.
Censurar influenciadores sob a alegação de disseminação de “fake news” abre precedentes perigosos para a censura política, mas esse assunto está ultrapassado, pois os precedentes já foram abertos e o controle da informação já é feito. Restringir a liberdade de expressão, mesmo com a intenção de combater a desinformação, pode resultar e está resultando em um controle excessivo sobre o discurso público, pois o interesse em combater a mentira só existe na cabeça do ingênuo em seu próprio sofá. A burguesia jamais se preocupou, sendo a própria burguesia a mãe das mentiras difundidas nacionalmente em todos os telejornais e meios de comunicação controlados pelo imperialismo.
O artigo do O Globo disserta sobre a desinformação, mas faz de uma maneira que ataca a liberdade de expressão e demonstra que nunca, em nenhuma campanha contra o bolsonarismo, a verdade esteve no centro da discussão. O importante é silenciar vozes que ousem mudar minimamente o tom do que ordena o imperialismo. Não dá para deixar de lado, porém, o fato de o PT não reagir. Ao ser atacado pela imprensa, qual é a sua postura? Defender a liberdade de expressão? Não. Defender o argumento da imprensa burguesa em uma postura capituladora. “Não podemos usar os mesmos instrumentos do adversário. Tem gente que não concorda, quer retribuir chute na canela com a mesma moeda, mas isso não é a orientação“, afirmou Jilmar Tatto, do PT. Com essa postura o Partido dos Trabalhadores ficará indefeso diante do avanço da direita.