Nessa terça-feira (11), a greve dos técnicos-administrativo em educação (TAEs) completou 90 dias. A categoria reivindica, dentre outras coisas, um reajuste de 34% para 2024, 2025 e 2026, bem como a reestruturação de suas carreiras. Desde então, técnicos de mais de 50 universidades em todo o País se juntaram ao movimento. Pouco tempo depois da deflagração da greve dos TAEs, professores de universidades e institutos federais também declararam paralisação.
Em relação a suas reivindicações econômicas, os TAEs obtiveram uma importante vitória por volta dos dois meses de greve, com um aumento de 52% no auxílio-alimentação, passando a ser R$1.000,00, um aumento de 51,1% no auxílio-creche e um aumento de 51,1% na saúde suplementar.
Nesses três meses, a categoria também realizou diversos atos em todo o País. Cabe destacar a marcha que foi feita em Brasília, no dia 22 de maio. Na ocasião, milhares de trabalhadores, estudantes e dirigentes sindicais realizaram uma plenária comandada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), partindo, em seguida, em direção ao Congresso Nacional.
O governo federal, entretanto, ainda não atendeu às reivindicações dos trabalhadores, principalmente no que diz respeito ao reajuste. Os técnicos, bem como os professores, defendem, no âmbito do reajuste de 34%, um reajuste de 4% para 2024, de 9% para 2025 e de 9% em 2026. A última proposta do governo, entretanto, prevê aumento de 0% em 2024, 9% em 2025 e 5% em 2026.
Até agora, a greve tem sido vitoriosa, mesmo diante de todas as dificuldades, da sabotagem de setores mais vacilantes e da tentativa de outros setores de transformar a greve em um movimento contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Isso porque uma greve de servidores é diferente de uma greve, por exemplo, de metalúrgicos. No último caso, é possível avaliar se o movimento é bem-sucedido ou não por meio da quantidade da produção que foi paralisada em decorrência da greve. No caso dos servidores, é diferente.
Uma greve do serviço público é forte quando ela produz uma mobilização política entre a categoria e a sociedade como um todo. Nesse sentido, a força da greve está em seu alcance político, e a greve dos TAEs e dos professores tem, nesse ponto de vista, obtido enorme sucesso.
Finalmente, os grevistas não só fizeram o presidente da República se pronunciar, como estão chamando a atenção de toda a imprensa golpista, que já publicou dezenas de editoriais atacando o movimento. Ao mesmo tempo, um amplo setor da população não só está ciente, como está falando sobre a greve, discutindo o movimento.
O movimento grevista também está conseguindo pressionar o governo para que ele atenda a suas reivindicações. Ao mesmo tempo, a burguesia pressiona o governo no sentido contrário, tentando empurrá-lo para a direita.
Na segunda-feira (10), o presidente Lula se reuniu, no Palácio do Planalto, com reitores de universidades e institutos federais. Na ocasião, o ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou 5,5 bilhões de reais em investimento no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC): 3,17 bilhões na consolidação de estruturas de universidades; 600 milhões para expansão; e 1,75 bilhões para hospitais universitários.
Ainda na segunda-feira, durante o encontro, Lula pediu o fim da greve na educação superior, afirmando não ver “muita razão” para que professores e TAEs continuem parados:
“A greve tem um tempo para começar e um tempo para terminar. A única coisa que não pode acontecer é que ela termine por inanição, porque as pessoas ficam desmoralizadas […] Eu era dirigente sindical, eu nasci no tudo ou nada. É 100% ou é nada. Muitas vezes, eu fiquei com nada. E acho que, nesse caso da educação, se vocês analisarem o conjunto da obra, não há muita razão para essa greve durar o tempo que ela está durando
[…]
Eu acho que nesse caso da educação, se vocês analisarem no conjunto da obra, vão perceber que não há muita razão para essa greve estar durando o que está durando. Porque quem está perdendo não é o Lula, não é o reitor. Quem está perdendo é o Brasil e os estudantes brasileiros. É isso que se precisa levar em conta. Não é 3%, 2%, e 4% que a gente fica a vida inteira de greve”, afirmou o presidente brasileiro
Estas colocações são justamente resultado da pressão da burguesia contra o governo federal. Lula sabe que o que o País precisa são mais greves, e não menos. Greves contra a entrega do petróleo, contra o pagamento de bilhões de reais em juros para os banqueiros, pela reestatização da Eletrobrás. Enfim, o que faltam são justamente greves para quebrar o isolamento do governo e fazer com que ele possa atender às reivindicações do povo, para acabar com o certo que a direita impõe a Lula desde que ele tomou posse.
Fica claro, portanto, que o único caminho é a continuidade da greve. Ao mesmo tempo em que mobiliza a opinião pública, o movimento grevista deve lutar para que todas as suas reivindicações sejam atendidas, e um passo essencial para isso é a unificação com outras categorias e outros setores.
Em reunião da diretoria da APEOESP, na semana passada, Educadores em Luta/PCO propôs e foi aprovado a busca de uma articulação nacional em defesa da Educação, com um ato em São Paulo, no próximo dia 21 de junho, que já tinha sido aprovado como uma mobilização dos educadores paulistas, junto com outros setores do funcionalismo, estudantes, movimentos populares etc.
Em apoio à greve nas federais, em defesa das reivindicações dos professores paulistas e contra os ataques e perseguição da direita no Paraná, é hora de uma grande mobilização nacional da Educação, que o ato de São Paulo pode ajudar a alavancar.