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Política internacional

Eleições europeias, a nova desculpa para uma frente com Biden

Esquerda Online se assusta com falência da política do imperialismo e clama por unidade mundial em torno dos responsáveis pelo avanço da extrema direita

No artigo Um novo pesadelo de extrema-direita ronda a Europa, publicado pelo portal Esquerda Online, do grupo Resistência/PSOL, um tal David Cavalcante apresenta uma tese que surge todas as vezes em que a esquerda se vê amedrontada diante da situação política: a de que todos deveriam dar as mãos aos piores inimigos da humanidade, o imperialismo. A desculpa da vez são as eleições para o parlamento europeu, no qual a extrema direita teve uma vitória espetacular, chegando a ocupar cerca de um quarto dos assentos.

Que o avanço da extrema direita é preocupante, é óbvio. A extrema direita brasileira, por exemplo, está repleta de admiradores das torturas da ditadura militar. A extrema direita alemã, que obteve mais votos que o partido do atual primeiro-ministro, saiu, recentemente, em defesa do mais conhecido batalhão de Adolf Hitler, a Schutzstaffel (SS). Em Honduras, a extrema direita, mais que mostrar seu apreço pela escória da humanidade, está no governo e já mandou, em apenas cinco anos, 1% da população para a cadeia. A questão que fica, no entanto, é: diante do avanço, que fazer?

Qualquer pessoa que não estivesse completamente enlouquecida diria: é preciso combater aquilo que causa o avanço da extrema direita. Ao invés disso, Cavalcante se limita a dizer coisas como “regimes políticos foram edificados na base do terror coletivo, perseguições, prisões e extermínio em massa”, “novamente, esse pesadelo ronda a Europa” etc., mas não explica propriamente no que consiste o fascismo e qual o conteúdo da vitória eleitoral da extrema direita.

O que aconteceu na primeira metade do século XX foi que o imperialismo apoiou regimes fascistas em vários países com o objetivo claro de destruir a democracia operária. Era uma necessidade das grandes potências imperialistas de reprimir, da maneira mais brutal possível, o movimento operário, que havia feito duas revoluções na Alemanha, que acabaram refluindo, e realizaram uma série de iniciativas, como a ocupação de fábricas, que se aproximaram de uma revolução na Itália. Esse é o sentido do fascismo e é esse o seu maior perigo. Nada tem a ver, como diz o artigo de David Cavalcante, com a questão ambiental.

A vitória da extrema direita no parlamento europeu não é uma tendência neste sentido. Ao menos, não no momento. Ela é, acima de tudo, um reflexo do esfacelamento da dominação do imperialismo, uma espécie de revolta da burguesia de vários países contra a ditadura dos bancos alemães e franceses, coligados com o imperialismo norte-americanos, sobre a União Europeia. Tanto é assim que o imperialismo criticou o resultado e mostrou preocupação com o futuro da guerra da Ucrânia, que está sendo dirigida pelo setor fundamental do imperialismo.

Incapaz de compreender o que de fato significa o resultado das eleições europeias, o autor afirma que a luta contra a extrema direita “é a hierarquia de todas as batalhas nos próximos 10 ou 20 anos”. Ora, mas o próprio exemplo histórico mostrou que a extrema direita só foi de fato uma grande ameaça para o movimento operário quando o imperialismo decidiu apoiá-la. Neste sentido, o grande inimigo da humanidade não é a extrema direita em si, mas sim o próprio imperialismo. É ele quem estimula a extrema direita a agir, em tempos de crise, e ele que provoca guerras e genocídios em tempos supostamente de “paz”.

Não é por acaso que o autor omite o papel do imperialismo nos ataques aos trabalhadores. No final das contas, sua solução para o problema da extrema direita consiste em uma aliança com o próprio imperialismo:

“Para tanto, faz-se necessária a unidade programática e organizacional nos movimentos sociais, através da frente única das organizações e partidos de esquerda, sindicais, populares, das juventudes antifascistas e feministas, além das ações de unidade de ação democrática com todos os seguimentos democráticos da sociedade, tipo ações comuns no parlamento, manifestações culturais, ações jurídicas, atos públicos e marchas amplas e plurais contra a extrema-direita, entre outros expedientes.”

Todo mundo sabe no que deu as chamadas “ações comuns no parlamento”: no golpe de Estado de 2016. Assim como as “ações jurídicas” fortaleceram figuras como Alexandre de Moraes, um direitista que, diante do avanço da extrema direita, saiu de cena.

A frente com o imperialismo, proposta pelo Resistência/PSOL, ao mesmo tempo em que é uma aliança com os piores inimigos da humanidade, é também uma política que servirá tão-somente para pavimentar o caminho para a extrema direita.

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