A guerra no norte de “Israel” está chegando a um nível insustentável. Neste sábado (8), completam-se oito meses desde que o Hesbolá iniciou sua guerra contra “Israel” em apoio ao povo palestino. Mas desde que os sionistas decidiram invadir Rafá, a organização libanesa está tomando controle total da situação. A cada semana, o partido mais popular do Líbano tem uma nova vitória, a cada semana, a crise de “Israel” se aprofunda. Uma região inteira do Estado sionista se desintegra, é até difícil saber até onde essa crise pode se desenvolver.
O Hesbolá é um partido libanês criado em 1982 para lutar contra a invasão sionista do Líbano. Em seus 42 anos de história, ele se tornou uma força política e militar gigantesca. É o maior partido do Líbano e seu braço armado é a organização não estatal mais poderosa do mundo. É mais bem equipado que os exércitos da América Latina e se mostra capaz até de combater e derrotar o moderno exército israelense.
O Hesbolá derrotou “Israel” no ano 2000. Em 2006, derrota “Israel” mais uma vez. A partir de 2012, começou a lutar na Síria contra as milícias financiadas pelos EUA como o Estado Islâmico. Lá, também foi vitorioso. O Hesbolá é, na verdade, o braço mais antigo do Eixo da Resistência, as relações entre os xiitas libaneses e o governo iraniano são de antes mesmo da Revolução de 1979. A primeira vitória do Eixo foi em 2006, quando Qassem Soleimani, o general iraniano e arquiteto da frente da resistência, esteve pessoalmente na linha de frente da guerra em Beirute até a vitória.
Essa vitória do Hesbolá em 2006 foi humilhante para “Israel”, nunca mais atacaram o Líbano por meio do seu exército. A guerra com “Israel” só aconteceria de novo a partir do lançamento da operação Dilúvio de al-Aqsa, no dia seguinte o Hesbolá começaria a atacar “Israel” ao norte. Desde o princípio, essa tática causou um enorme estrago, os israelenses foram bombardeados todos os dias por oito meses. Os principais alvos eram as bases militares e os assentamentos de colonos próximos à fronteira, que também são um tipo de entreposto militar.
A ofensiva mais violenta desde o início da guerra
Mas no mês de maio, a situação mudou. A monstruosa invasão de Rafá, lançada pelos israelenses no dia 6, foi o sinal para o Hesbolá ampliar todas as suas operações. Os ataques ao norte se tornaram mais frequentes e com distância maiores da fronteira. Diversas inovações militares foram inauguradas. Pela primeira vez desde 1973, “Israel” sofreu um ataque aéreo por meio de um drone equipado com mísseis. Um balão espião foi derrubado e a base de onde ele opera foi atacada. Também foi derrubado um drone Hermes 900, de cerca de 10 milhões de dólares, pela segunda vez.
Ao fim de maio, os ataques do Hesbolá eram tão frequentes que começaram a gerar incêndios em todo o norte de “Israel”. Assentamentos como o de Quiriate Chimona tiveram de ser totalmente evacuados. Em determinado momento, o sistema de sirenes foi atingido e em vários ataques nem houve aviso prévio, os israelenses só ouviam as explosões. No dia 6 de maio, o Hesbolá inaugurou suas baterias anti aérea e fez jatos sionistas recuarem. Mas o ápice do avanço militar foi a destruição de quatro baterias de mísseis Domo de Ferro. O analista militar Scott Ritter explica:
“O Hesbolá acabou de demonstrar que a Cúpula de Ferro não oferece proteção contra seus foguetes. Isso na véspera de Israel ameaçar o Hesbolá com ‘guerra’. Se Israel optar pela ‘guerra’, não haverá lugar seguro para suas tropas e cidadãos se esconderem do inferno que o Hesbolá desencadeará.”
Em meio a esses avanços, a crise política em “Israel” foi se tornando gigantesca. Um grupo de assentamentos criou um movimento de independência da Galileia (norte da Palestina) por acreditar que o governo central era incapaz de agir. Um assentamento chegou a declarar que o exército israelense estava expulso de seu território. Algo totalmente sem precedentes na história do “país”. A extrema direita, expressão política dos colonos, começou a pressionar por guerra, Netaniahu teve de ir pessoalmente ao norte acalmar os ânimos.
O Gabinete de Guerra havia realizado uma discussão específica sobre o Líbano apenas em outubro, pouco após o início da guerra. A situação ficou a critério do Comando do Norte, totalmente incapaz de lidar com a crise. Na terça-feira (4), o Gabinete de Guerra realizou mais uma vez a discussão. No mesmo dia, o comandante das forças armadas de “Israel”, Herzi Halevi, afirmou: “estamos nos aproximando do ponto em que uma decisão terá que ser tomada, e o exército israelense está preparado e muito pronto para esta decisão“.
No mesmo dia, o vice secretário-geral do Hesbolá, xeique Naim Qassem, afirmou: “qualquer expansão israelense da guerra contra o Líbano será respondida com devastação, destruição e deslocamento em Israel. Se ‘Israel’ quiser travar uma guerra total, estamos prontos para isso“. E nos dias seguintes, lançaram os ataques citados acima contra as bases sionistas e as baterias do Domo de Ferro.
O sionismo em desespero
Um artigo do mais importante jornal israelense, o Haaretz, afirma: “uma guerra com o Hezbollah apresentaria um desafio sem precedentes para a frente interna de Israel, com as regiões norte e central enfrentando um nível de ameaça nunca visto antes“. E acrescenta que iria “empurrar Israel para a beira do abismo, especialmente com a ausência de legitimidade internacional e um exército exausto”. Concluindo que: “está se tornando cada vez mais difícil antecipar desenvolvimentos positivos no horizonte, especialmente à medida que nos aproximamos do nono mês de guerra”.
O general da reserva Isaque Brik vai ainda mais longe. Ele afirmou que “Israel” não consegue vencer nenhuma das organizações da resistência, simplesmente porque não consegue. Para ele, os israelenses têm um “exército pequeno e fraco” que “não tem excedente de forças”. “Cada dia que a guerra continua, nossa situação piora”, disse. E ainda afirma que tanto o exército sionista quanto o Estado israelense em si estão caminhando para um colapso interno.
Mas o editorial do Haaretz de sexta-feira conseguiu ser ainda mais catastrófico que os comentários do general Brik. Ele afirma: “o orgulho nacional e a euforia após a Guerra dos Seis Dias são temporários. Eles nos transportarão de um nacionalismo orgulhoso e crescente para um nacionalismo messiânico extremo. A terceira fase será a brutalidade, com a fase final sendo o fim do sionismo“. Os principais articuladores da imprensa burguesa israelense já antecipam o fim do Estado de “Israel”. É uma crise totalmente fora de controle.
Os israelenses têm cada vez menos margem de manobra. A possibilidade de invadir o Líbano foi vetada pelos norte-americanos. O portal Axios divulgou que fontes do governo dos EUA afirmaram que “a situação tem escalado desde maio porque o Hesbolá realizou mais ataques bem-sucedidos com drones contra alvos israelenses que não foram interceptados“. E que o governo advertiu que a escalada não é uma “opção realista”, pois seria difícil impedi-la de “sair do controle”. Isso condiz com as declarações do porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, que afirmou que a guerra “não é boa para a segurança de Israel”.
Ao sionismo, restam duas opções. Deixar o Hesbolá avançar cada vez mais, criar um caos social cada vez maior e eventualmente tomar o controle do norte de “Israel”, ou seja, libertar uma parte da Palestina; ou aceitar a imposição do Hesbolá, o fim da guerra na Faixa de Gaza. Netaniahu tem apenas derrotas como opção. Ao tentar ganhar tempo, só aumenta a intensidade destas derrotas.
Por fim, um fator crucial. Em oito meses de guerra, o Hesbolá se tornou cada vez mais forte. Enquanto “Israel” se desmoraliza em todos os sentidos, o partido libanês cresce em popularidade, aumenta sua experiência militar, aumenta seu arsenal e provavelmente também seu contingente de tropas.
Netaniahu pode querer ganhar tempo, mas a verdade é que o tempo está do lado da resistência. Seu crescimento é inevitável, tal qual o fim do Estado de “Israel”.