“Homens de visão, homens de futuro”. Foi assim que o ex-presidente Jair Bolsonaro se referiu aos já falecidos Ernesto Garrastazu Médici e Alfredo Stroessner, chefes de Estado do Brasil e do Paraguai na época do tratado que possibilitou a construção da monumental Usina de Itaipu. Inaugurado em 1984, o complexo hidrelétrico é hoje responsável por abastecer nosso País com 8,7% de sua demanda enérgica e por fornecer 84,4% da energia utilizada por nossos vizinhos sul-americanos.
Apesar do discurso, a obra faraônica foi tratada com o maior desprezo possível por Bolsonaro. Após vestir a faixa presidencial, o capitão reformado vendeu todo o sistema elétrico brasileiro, incluindo a própria Usina de Itaipu, por um preço de pinga. O que brasileiros levaram mais de uma década para construir com muito suor, hoje pertence a vampiros tão competentes que conseguiram levar as Lojas Americanas à falência.
Um dos filhos de Jair, o Flávio, decidiu seguir os mesmos passos de seu papai. Relator da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 3/2022, Flávio Bolsonaro é a favor da privatização das praias de nosso País. Ele quer que os terrenos que pertencem à União desde os tempos de Dom Pedro I, que sempre serviram para a proteção da costa brasileira, agora sejam controlados por prefeitos e governadores que entregarão as propriedades para qualquer um. Flávio Bolsonaro quer tirar da nossa Marinha o controle de incontáveis propriedades localizadas a poucos metros do mar e entregá-las para empresários de qualquer país. Quem pagar mais, leva.
O que acontecerá se empresários de um mesmo país corromperem os prefeitos de várias cidades vizinhas e constituírem um grande bloco contínuo de empreendimentos estrangeiros? E se empresários de um mesmo país poderão fazer isso, o que impedirá que esses empresários ajam em nome do governo de um outro país? E, o pior de tudo: se Flávio Bolsonaro quer deixar um país estrangeiro corromper os prefeitos para estabelecer enclaves próximo ao mar, o que impedirá que esse país também corrompa os prefeitos para estender os muros de suas propriedades e tomar conta de nossas praias? Se um outro país tomar conta de nossas praias, como nossa Marinha saberá quando um navio inimigo se aproximar de nosso litoral?
Há cinco décadas, Médici aumentava em quase 20 vezes o tamanho das águas territoriais do Brasil, passando de 12 para 200 milhas. No que depender de Flávio Bolsonaro, teremos agora uma extensão negativa: perderemos os mares e ainda um pedaço da praia. E, assim, acabaremos por completo com a soberania de nosso País, que luta há 200 anos por sua independência.
Flávio Bolsonaro envergonha o Brasil. À equipe deste Diário, os coveiros do Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro, contaram recentemente ter sentido um grande tremor sob seus pés. Não há dúvida do que aconteceu: ao ter notícia da presepada do senador, Médici se revirou em seu túmulo.