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HISTÓRIA DA PALESTINA

A colonização britânica e a Revolução Palestina de 1936 – parte 2

Em 60 dias de greve geral, a Palestina adentrou uma verdadeira revolução, os estudantes aderiram ao movimento, os camponeses pegaram em armas, o povo parou de pagar impostos

Pouco menos de 20 anos de dominação do imperialismo britânico na Palestina levaram o país a uma verdadeira revolução. O jornal inglês Labour Monthly descreveu o início desse processo em seu artigo Os Eventos na Palestina, publicado no início da Revolução de 1936. Este artigo é a segunda parte de uma análise sobre colonização inglesa e como isso levou os palestinos a se revoltarem contra o imperialismo em um momento que o mundo árabe não passava por grandes lutas.

A primeira parte discutiu a opressão dos palestinos pelos ingleses e pelos sionistas e como isso deu início à revolução que se manifestou com uma greve geral em todo o país. As três reivindicações principais eram: a interrupção imediata da imigração judaica; a introdução de legislação para impedir novas vendas de terras por árabes para judeus; o estabelecimento de um governo nacional responsável.

O artigo então afirma: “a condição para suspender a greve é a satisfação apenas da primeira dessas demandas, os árabes então estariam preparados para negociar em relação às outras duas. O ponto principal das duas primeiras demandas é que, a menos que sejam concedidas, os árabes finalmente perderão o poder de lutar pela concessão da terceira. Eles nunca serão capazes de alcançar a independência política se forem dominados politicamente pelos judeus. O efeito de tal dominação seria dar aos britânicos uma fortaleza irresistível na Palestina, que provavelmente bloquearia com sucesso todos os esforços dos árabes palestinos para obter independência”.

O que acontecia naquele momento é que a migração em massa dos judeus da Europa apoiados pela burguesia imperialista era o que gerava diretamente o impacto na sociedade. Os sionistas tomavam as terras dos palestinos e desintegravam a sociedade onde se estabeleciam. É interessante, pois o artigo escrito antes da criação do Estado de “Israel” já prevê que o objetivo é a criação de uma fortaleza imperialista na Palestina.

Ele segue: “economicamente, os árabes já são dominados pelos judeus, que controlam as indústrias do país e compartilham com os britânicos o controle de suas finanças. Numericamente, os árabes correm o risco de serem dominados: as forças atuais das duas comunidades são aproximadamente 900.000 árabes para 375.000 judeus: a imigração judaica total nos últimos três anos (1933-35) foi de cerca de 150.000. No que diz respeito à terra, a perspectiva de dominação árabe pelos judeus é mais remota. No momento, os judeus possuem apenas cerca de 300.000 acres de um total oficialmente estimado de pouco mais de 3.000.000 de acres de terra cultivável no país: mas a área de propriedade dos judeus consiste principalmente em terras planas e é uma das mais férteis do país. A venda constante de terras está, além disso, transformando um grande número de cultivadores árabes em proletários, com a insegurança de meios de subsistência que é destinada a ser o destino dos proletários sob o capitalismo”.

Ou seja, o plano sionista estava avançando rapidamente. Os imigrantes europeus em alguns anos tomariam a maior parte das melhores terras e se tornariam uma população enorme. Ao mesmo tempo, a economia capitalista, que já dominava a economia do país naquele momento, era dominada por britânicos e sionistas, que operavam em uma aliança. A Revolução de 1936 assim foi uma luta contra a criação do Estado de “Israel” muito antes dessa tragédia se conceber. E é por isso que a derrotada da revolução foi um aspecto crucial para que “Israel” fosse criado em 1948 sem uma grande resistência dos palestinos, a resistência havia sido esmagada 10 anos antes.

A greve se transforma em revolução

O jornal descreve os acontecimentos: “no início, apenas as cidades e os vilarejos nas imediações das cidades estavam envolvidos na greve: agora, em grande parte devido à ação repressiva tomada pelo governo contra os vilarejos, os habitantes rurais em todo o país estão solidariamente apoiando a greve e qualquer linha de resistência ao governo que as cidades possam decidir adotar. Até agora, sua ação tem consistido em contribuir generosamente para fundos de ajuda destinados a apoiar trabalhadores e comerciantes que ficaram desempregados devido à greve; ataques à propriedade judaica; e ataques às comunicações do governo. Nas colinas da Samaria [Cisjordânia], muitos habitantes rurais conseguiram armas e deixaram seus vilarejos para as montanhas, onde conduzem o que quase se aproxima de uma guerra de guerrilha contra quaisquer destacamentos de tropas britânicas que encontram. Se não estivessem ocupados com a colheita agora, os habitantes rurais provavelmente estariam mais ativos em sua resistência ao governo do que estão. Em um mês, quando a colheita acabar, se a greve ainda continuar, é provável que os habitantes rurais participem mais ativamente”.

Foi o que aconteceu. A revolução durou três anos até ser completamente esmagada pelos britânicos. O artigo pega o momento inicial e glorioso da revolução, quando todo o povo palestino se levanta contra os seus dominadores. A descrição é semelhante ao que acontece hoje no país, com a diferença de que atualmente as condições são muito piores do ponto de vista da repressão, mas, em contrapartida, a resistência está mais organizada do que nunca. O levante popular generalizado hoje se expressa no apoio ao Hamas e às demais organizações da resistência.

Ele destaca como a luta alcançou toda a sociedade: “a atual resistência ao governo não se limita aos homens. Mulheres, meninos e meninas de escola têm iniciado manifestações e apresentado protestos em muitas das cidades. A maioria dos meninos e meninas que frequentam as escolas governamentais nas cidades entraram em greve e as escolas foram fechadas como consequência. As escolas de vilarejos seguiram o exemplo. Professores britânicos têm escrito cartas chocadas para os jornais lamentando que as crianças que eles treinaram para serem bons anglófilos agora estão mostrando sua verdadeira natureza. É uma pena, eles dizem, pelo próprio bem das crianças, que elas estejam prejudicando suas chances nos próximos exames de verão”.

Então, o Labour Monthly destaca as limitações dos palestinos: “os métodos pelos quais um povo sujeito pode exercer pressão sobre uma grande potência colonial com recursos militares praticamente ilimitados são restritos. (…) Além da greve geral, que está em seu sexagésimo primeiro dia, o Comitê de Greve Superior, sob pressão do povo, proclamou a desobediência civil. Isso até agora tomou a forma de uma recusa geral em pagar ao governo tanto os impostos urbanos e rurais comuns quanto as multas extraordinárias e exações punitivas que o governo impôs no decorrer dessas perturbações. O valor tanto da greve quanto da desobediência civil é principalmente seu valor de protesto. Eles têm um valor subsidiário em que exercem pressão sobre o governo, privando-o de uma quantidade considerável de receita. Os Conselhos Municipais Árabes já estão em greve e, muito mais importante, os funcionários governamentais árabes e a polícia árabe (que naturalmente ressentem-se de serem obrigados a participar de atividades repressivas contra outros árabes) têm considerado aderir à frente da greve”.

Neste ponto, fica ainda mais clara a ascensão revolucionária das massas. A greve geral, que já durava dois meses, havia afetado todas as esferas da sociedade, até mesmo as câmaras municipais. O grande problema dessa revolução, bem como de todas, era a falta de uma direção organizada e com uma política bem definida. Os britânicos foram capazes de controlar o movimento com base em uma repressão violentíssima. Esse será o tópico da terceira parte desse artigo.

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