Na última terça-feira (4), por meio de assembleias feitas em todas as bases no País, os trabalhadores de Furnas Rio e da Eletrobrás declararam estado de greve ao rejeitar o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) feito pela empresa. Segundo o Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE), “ainda tem assembleias em bases menores hoje [terça-feira], mas tivemos mais de 90% deliberados”.
Marcada para começar na próxima segunda-feira (10), a greve tem duração indeterminada, e a categoria também decidiu tentar abrir uma mesa de mediação no Tribunal Superior do Trabalho (TST).
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Energia do Rio de Janeiro, a proposta mais recente “retira uma série de benefícios históricos, divide a categoria, abre espaço para muitas demissões, além de trazer diversas incertezas e possíveis ilegalidades”.
Por meio de boletim oficial, o sindicato também destacou a contradição criada pelo fato de que, enquanto a Eletrobrás registra lucros bilionários, entregando quantias absurdas aos acionistas por meio dos dividendos, seus direitos estão sendo cortados. A entidade sindical ainda denuncia que gerentes da elétrica brasileira, privatizada no governo Bolsonaro, pressionaram os trabalhadores para que a proposta da companhia fosse aceita.
Ainda tentando pressionar os trabalhadores a aceitarem o acordo, a Eletrobrás afirmou que as bases que aceitassem a proposta receberiam um “abono salarial” — ou seja, está tentando subornar a categoria para que aceite o Acordo Coletivo. Segundo o CNE, o abono seria de R$9 mil até sexta-feira (7). Entretanto, a entidade nacional denuncia que as perdas com o novo ACT, no biênio de 2024/2026 pelo qual é válido, seriam de R$51.000,00 em média para cada trabalhador.
A greve em questão segue recomendação feita pelo Coletivo Nacional dos Eletricitários, entidade que agrupa 34 sindicatos, sete federações e uma confederação. Antes de declarar a paralisação, a categoria já mostrava que iria rejeita o ACT.
“Os sindicatos entendem que a proposta ainda é muito ruim, pois retira uma série de benefícios históricos, divide a categoria, abre espaço para muitas demissões, além de trazer diversas incertezas e possíveis ilegalidades […] E tudo isso considerando no ano em que a Eletrobras deu lucro de R$4,4 bilhões, distribuiu R$1,3 bilhões de dividendos e paga remunerações milionárias (R$83 mi) aos seus administradores. No mínimo uma grande contradição”, disse a categoria por meio de nota.
As negociações entre a categoria e a Eletrobrás já duram mais de dois meses. Em 24 de maio, a empresa brasileira apresentou sua proposta final. Inicialmente, o acordo previa uma redução no salário daqueles que ganhavam abaixo de R$16.000 em 12,5%.
Na última versão, entretanto, a redação explícita deste ponto foi alterada para escondê-lo. O corte àqueles que ganham acima de R$16.000 estão mantidos, mas por meio de negociações individuais. Em outras palavras, os trabalhadores serão coagidos a aceitar, de maneira “voluntária”, uma redução em seus salários.
A proposta da empresa também faria com que aqueles que recebem mais de R$6.000 ficassem sem reajuste por dois anos. Os demais, que recebem abaixo desse valor, receberiam a correção da inflação do período.
Desde que a Eletrobrás foi privatizada, no final de 2022, os trabalhadores sofreram duros ataques. Segundo o CNE, a empresa diminuiu em cerca de 12,6% seu quadro de funcionários, ou seja, demitiu 4.066 trabalhadores. Estas demissões foram feitas por meio de um “plano de desligamento voluntário incentivado”.
Além disso, o coletivo informa que, nesse período, houve um corte de 11% em despesas com funcionários, com redução de 33% na folha de pagamento dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, conforme denuncia o CNE, os valores pagos a administradores subiu 37%.