Entre os dias 10 e 11 de maio, aconteceu, na cidade argentina de Buenos Aires, o 6º Encontro Internacional Ecossocialista. Segundo o portal do Partido Comunista de Maine, dos Estados Unidos, o evento teria reunido representantes de 50 organizações, presentes em um total de 15 países.
Logo de início, já chama a atenção para qualquer um que leia os relatórios do encontro que um evento internacional de organizações de esquerda tenha sido sediado na Argentina, mas que não houve qualquer discussão relevante sobre o presidente argentino, um dos piores inimigos da esquerda mundial. Javier Milei, que assumiu a presidência do país sul-americano no final do ano passado, está levando adiante uma política de “choque” contra a população, conforme ele mesmo disse em seu discurso de posse.
A situação argentina é de uma verdadeira calamidade social. Nos primeiros 100 dias de governo, Milei atacou a população com tanta agressividade que as vendas de farmácia despencaram para a metade, refletindo a diminuição abrupta do poder de compra dos argentinos.
Os “ecossocialistas”, no entanto, poderiam argumentar que o encontro deveria discutir assuntos de caráter internacional, e não focar na situação política argentina. Ora, mas o governo Milei é um problema que diz respeito à política mundial! O governo Milei não é o resultado de uma situação específica da política argentina, mas o reflexo de uma tendência muito perigosa da política internacional. Após os seus 100 primeiros dias de governo, o mandatário argentino foi elogiado por uma representante do Fundo Monetário Internacional (FMI), o que mostra que sua política criminosa está sendo apoiado pelas forças políticas que controlam a economia mundial. Isto é, pelo imperialismo.
Um evento internacional de organizações da esquerda que fosse sério deveria colocar essa discussão como central. A política atual do imperialismo é a de travar uma guerra muito agressiva contra os povos. É a de implementar ditaduras brutais, como a de Javier Milei, para arrancar a pele da população e, assim, conseguir financiar as aventuras militares de uma ordem mundial à beira da ruína. Deveria ser um ato de protesto contra a tendência mundial à repressão dos povos que hoje levantam sua cabeça contra a dominação imperialista.
Mas não foi isso que se viu. Em uma das discussões, por exemplo, apareceu a alegação de que “as maiores vítimas da violência do Estado são aqueles que se levantam para defender o meio ambiente e seu território“, uma falsificação total da realidade que não pode ter outro objetivo a não ser omitir as lutas que estão de fato sendo travadas na política mundial. Sabe-se lá quem são esses “que se levantam para defender o meio ambiente”. O fato é que o enfrentamento mais importante hoje é a luta entre os povos do Oriente Próximo, em especial o povo palestino, contra o Estado nazista de “Israel”, que nada tem a ver com o meio ambiente. E o segundo enfrentamento mais importante é a luta entre a Federação Russa e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que também nada tem a ver com o meio ambiente.
As duas lutas citadas são as expressões mais agudas de uma grande luta mundial. De um lado, estão os países imperialistas, que lutam para manter a sua dominação mundial, para manter a ditadura estabelecida contra os países oprimidos. Do outro lado, está a luta desses partidos por sua libertação. Os “ecossocialistas”, no entanto, ignoram isso e se limitam a fazer críticas pontuais “à empresa de água israelense Mekorot, que coloniza os recursos hídricos na Argentina”. E quanto ao fato de que o Estado de “Israel” promove um genocídio contra todo um povo? E quanto ao fato de que esse genocídio é sustentado pelas grandes potências imperialistas com o objetivo de controlar as riquezas naturais de toda a região? Nem um pio.
Para os “ecossocialistas”, o grande problema não é que a ordem mundial está baseada em uma ditadura de um punhado de países ricos contra centenas de países atrasados. Nem que esse punhado de países ricos seja controlado por um punhado de monopólios cujo único objetivo é manter os privilégios de um punhado de pessoas às custas da fome, da morte e do sofrimento de bilhões de pessoas. O problema é que a economia mundial é baseada em combustíveis fósseis!
Se esse é o problema, então já sabemos de que lado estão os “ecossocialistas” na guerra entre “Israel” e os povos do Oriente Próximo e na guerra entre a Rússia e a OTAN. No primeiro caso, o país que mais está envolvido na guerra contra a entidade sionista é o Irã, um país cuja economia é baseada, em grande medida, na produção de petróleo. A Rússia, por seu turno, é o grande produtor de petróleo e gás do Leste Europeu. Se esse é o critério, os “ecossocialistas”, então, estão contra os países que desempenham o papel mais decisivo na luta contra o imperialismo.
O problema, no entanto, não é só esse. A crítica à produção de combustíveis fósseis, além de servir para criticar países que têm uma atuação objetivamente revolucionária na política mundial, serve justamente aos propósitos militares do imperialismo na atual etapa de crise. Quem são, hoje, os países com maior potencial para produzir petróleo? Não é a França, não é o Japão, não é a Alemanha. São países como o Brasil, a Arábia Saudita, o Irã e a Venezuela. O único país imperialista que ainda é capaz de produzir petróleo em grande quantidade são os Estados Unidos, mas sua capacidade está diminuindo a cada dia que se passa. A produção de petróleo, portanto, é parte de um grande problema para a dominação imperialista: o recurso mais importante do planeta está nas mãos de países que não estão sob o seu chicote.
É para isso que serve, no final das contas, a campanha cínica contra o uso de combustíveis fósseis. Quem promove esse tipo de campanha são justamente as grandes petroleiras mundiais, como a Chevron e a ExxonMobil. São os monopólios do petróleo sediados nos Estados Unidos, no Reino Unido e nos países imperialistas, que veem seus interesses cada vez mais ameaçados pela produção de petróleo dos países atrasados.
Os “ecossocialistas” que endossam a campanha contra os combustíveis fósseis não estão defendendo o “meio ambiente”. Estão defendendo a ditadura dos monopólios sobre a economia, estão defendendo os interesses das empresas mais criminosas, em todos os aspectos, inclusive no aspecto ambiental, de todo o planeta. São funcionários das grandes petroleiras imperialistas travestidos de ativistas.