O ministro Clarence Thomas, da Suprema Corte dos EUA, que é negro, colocou-se, por motivos ideológicos, contra uma decisão judicial que considerou imprópria a política de “separados, mas iguais”, política segregacionista estabelecida em 1896, que criava legalmente locais para negros e outros brancos, como escolas exclusivamente para brancos e outras para negros. Trata-se, claramente, de um “negro de alma branca”, um agente do imperialismo que atua contra os negros.
Para Thomas, utilizando um liberalismo rasteiro, no precedente da Suprema Corte de 1954 (Brown v. Board of Education), que baniu a segregação racial em escolas públicas, por exemplo, “a corte poderia ter justificado medidas temporárias para superar uma resistência ampla [ao fim da segregação racial], mas a decisão não encontra fundamentos na Constituição, nem na história e tradições da nação”.
Em 1954, a corte declarou inconstitucional a prática de divisão racial nas escolas por ferir a 14ª Emenda da Constituição dos EUA, que garante proteção igual a todos conforme a lei. O ministro tenta dar um ar legítimo à sua posição:
“O isolamento social, em si, não é um dano. Apenas a segregação imposta pelo Estado é. Afinal, se a separação, em si, é um dano e se a integração é, portanto, a única maneira de os negros receberem uma educação apropriada, então deve existir algo de inferior nos negros. De acordo com essa teoria, a segregação causa danos aos negros porque eles, quando deixados sozinhos, não conseguem sucesso. Em minha maneira de pensar, essa conclusão é o resultado de uma jurisprudência que se baseia na teoria da inferioridade negra.”
Ignorando completamente a realidade material dos negros nos EUA, o ministro afirma que considerar que o negro fica em uma situação desfavorável em isolamento dos brancos e que os brancos em isolamento dos negros não, seria, na verdade, racista.
O ministro escreveu suas ideias a partir de outra ação, que visava Alexander vs. South Carolina Conference of the NAACP, que contestava uma mudança no mapa eleitoral. A maioria republicana da Assembleia Legislativa de Carolina do Sul desenhou um novo mapa distrital, que transferiu milhares de eleitores negros (na maioria democratas) para um novo distrito de maioria branca. E transferiu milhares de eleitores brancos para o antigo distrito de maioria negra.
Nesse caso, a posição, obviamente não motivada por legalismo, mas porque era oportuna para interesses que ele representa, foi mais correta. Segundo o ministro, as cortes não devem se meter em problemas que são exclusivamente políticos — como o desenho de mapas distritais.
Estamos diante do exemplo vivo de que a política da representatividade não leva a absolutamente nada de progressista.