Em 12 de maio de 1979, chegou ao Congresso Nacional como senadora a primeira mulher a assumir o cargo por um processo eletivo. A última a sentar na cadeira do Senado havia sido a Princesa Isabel, que herdou o cargo por direito dinástico.
Trata-se de Eunice Mafalda Berger Michiles, paulista de origem alemã que foi eleita senadora pelo estado do Amazonas, para onde se mudou ao casar.
Eunice era membro do Diretório Regional do partido oficial da Ditadura Militar, a Arena (Aliança Renovadora Nacional), e já havia sido eleita deputada estadual também pelo Amazonas, em 1974.
Apesar de se convencionar dizer que foi eleita senadora pelo voto popular, Eunice, na verdade, era a primeira suplente do senador eleito João Bosco de Lima, que morreu logo depois de assumir o cargo.
Atualmente, segundo a política identitária, a chegada de Eunice no Senado Federal deveria ter sido comemorada como um passo de progresso para o País. Afinal, seria uma questão de “representatividade”, ou seja, de que seria uma verdadeira vitória ter uma mulher para representar os interesses das mulheres no parlamento.
No entanto, não é difícil ver que é absurdo comemorar a eleição de um candidato do partido da Ditadura Militar como se trouxesse algum progresso à luta das mulheres no País.
Quase 60 anos se passaram e setores da esquerda defendem a eleição de mulheres como Eunice simplesmente pelo fato de ser uma mulher, ignorando o fato de tal mulher pertencer ao que existe de mais reacionário na política brasileira e ser, efetivamente, uma inimiga do povo e, consequentemente, das mulheres.
O exemplo mais atual dessa farsa é a latifundiária Simone Tebet, apresentada por esquerdistas como o ex-BBB Jean Wyllys como uma pessoa que estaria à altura de até mesmo substituir a maior liderança operária que o Brasil já teve, o atual presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. E qual é o principal argumento de Wyllys para apoiar uma representante dos latifundiários e do capital financeiro? O fato de que ela é uma mulher:
“Acho que era a hora do PT sair desse protagonismo e ir para a retaguarda, apostar no nome de Simone Tebet como candidata de cabeça de chapa e colocar Sílvio Almeida como vice. Simone Tebet tem um diálogo com a centro-direita, com as classes dominantes. Ela é ruralista, mas ela é uma mulher.”




