Após a morte do presidente do Irã, Ebraim Raisi, o jornalista de política internacional Pepe Escobar escreveu um artigo sobre a atuação dos russos diante da possibilidade de um ataque direto de “Israel” ao Irã. Ele descreve como todo o alto escalão do governo e das forças armadas se reuniu com o embaixador iraniano e passou a mensagem: “a Rússia está com o Irã para o que der e vier”. E Pepe ainda deixa claro: “estamos em pleno modo Guerra Híbrida, aproximando-nos de uma Guerra Quente na maior parte do planeta”. A Rússia, nesse sentido, é um dos três focos da guerra, o mais quente no momento.
A operação militar especial russa na Ucrânia começou em fevereiro de 2022. Naquele momento, a guerra se tornou a principal notícia do mundo por meses. Passados mais de dois anos da guerra, poucos acreditam que a Ucrânia pode sair vitoriosa. A Rússia se mostrou capaz de enfrentar a Ucrânia apoiada por todo poderio militar da OTAN e vencer. Mas, no momento, que a situação parecia prestes a se resolver, o imperialismo entrou em uma nova etapa, uma nova ofensiva que exige uma perigosa escalada contra os russos.
O imperialismo deu sinais de que poderia ampliar a guerra contra a Rússia em fevereiro, quando o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que poderia mandar tropas da França para a Ucrânia. Isso é importante, pois enquanto a Rússia combate a Ucrânia, a guera está contida entre os dois países. No entanto, caso qualquer país da OTAN participe diretamente do confronto, a guerra se torna da Rússia contra toda a OTAN. Ou seja, se torna uma guerra entre potências nucleares. E a questão das armas nucleares vem se tornando uma questão chave.
As provocações da OTAN
Nas últimas semanas, a escalada da OTAN contra a Rússia se tornou ainda maior. A primeira-ministra da Estônia (país que faz fronteira com a Rússia), Kaja Kallas, afirmou que havia tropas da OTAN em território ucraniano treinando os soldados. Ela também deixou claro que o objetivo final do imperialismo é a divisão da Rússia. Ela disse: “acredito que se tivéssemos mais nações pequenas não seria algo ruim se a grande potência se tornasse realmente menor”. É a provocação máxima aos russos vindo de um membro da OTAN.
Além dela, uma pessoa de grande importância na guerra do imperialismo contra a Rússia, que agora perdeu seu cargo, também se pronunciou. Victoria Nuland disse que os EUA deveriam fornecer armas para a Ucrânia atingir diretamente a Rússia. Em suas palavras: “os Estados Unidos e nossos aliados devem dar mais ajuda a eles para atingir bases russas, o que até agora não estávamos dispostos a fazer”. Isso era um limite que havia sido definido no início da guerra para impedir que a Rússia considere as bases da OTAN como alvos.
Mas não foi só Nuland quem afirmou isso, o terceiro mais importante membro do governo dos EUA, Antony Blinken, o secretário de Estado, afirmou o mesmo. Conforme relatou o New York Times, “há um intenso debate dentro da administração sobre flexibilizar a proibição para permitir que os ucranianos ataquem locais de lançamento de mísseis e artilharia logo além da fronteira na Rússia”. O proponente dessa política seria justamente Blinken, que visitou pessoalmente a capital da Ucrânia em maio e se reuniu com diversos membros do governo.
Além deles, o próprio secretário-geral da OTAN afirmou o mesmo. Jens Stoltenberg afirmou à revista The Economist: “chegou a hora dos aliados considerarem se devem suspender algumas das restrições“. Somando todos os elementos, fica claro que a política do imperialismo é de escalada contra a Rússia diante da derrota iminente da Ucrânia.
Outro elemento que aponta nessa direção é o governo da Inglaterra. Os ingleses convidaram membros do Batalhão Azov, a principal milícia nazista da Ucrânia, que foi o grande inimigo dos russos nos primeiros meses. Eles tinha como base a cidade de Mariupol. Boris Johnson, ex primeiro-ministro inglês, fez questão de publicar uma foto sua com os neonazistas e a bandeira do Azov. O atual primeiro-ministro inglês já começou a falar em alistamento obrigatório. É uma clara provocação à Rússia, a grande inimiga militar do imperialismo inglês.
Essas são somente algumas provocações da OTAN contra a Rússia. Outra, muito importante, é a intervenção imperialista na Geórgia. O país corre um sério risco de golpe de Estado ao estilo ucraniano. O objetivo, é claro, abrir uma nova frente de guerra contra a Rússia no sul. Por isso também a enorme importância do Irã como um aliado firme para os russos.
A guerra nuclear
Um fator que aparece cada vez mais são as armas nucleares. A Rússia, em resposta às ameaças da OTAN, iniciou testes de armas nucleares táticas. Putin, por sua vez, foi à Bielorrússia para também avançar os testes no país vizinho e aliado. O presidente russo também fez uma importante alteração no seu Ministério da Defesa, indicou o economista Andre Belousov. O país se prepara para uma verdadeira revolução militar, Putin anunciou que 8,7% do PIB se transformaria em defesa, algo que só existiu durante a URSS.
Do lado do imperialismo também se iniciaram os testes nucleares. Os EUA realizaram um novo teste nuclear subcrítico em Nevada. Ou seja, as duas maires potências nucleares do mundo se preparam para o pior. Alguns meses antes, o presidente da Finlândia disse que seu país “deve ter um verdadeiro dissuasor nuclear, e é isso que temos, porque a OTAN praticamente nos proporciona através de nossa adesão”. Misseis nucleares há poucos quilômetros da Rússia foi o que deu origem à crise dos mísseis em 1962. O mundo caminha para algo semelhante.
A guerra cada vez mais quente entre o imperialismo e a Rússia tende a usar todo tipo de armamento do arsenal. Levando em consideração que um bloco se formará com a China, a Coreia do Norte e o Irã, a guerra nuclear é ainda mais provável. A escalada da OTAN contra a Rússia se torna cada vez mais perigosa. No entanto, nada indica que o imperialismo recuará. Basta observar o que está acontecendo há oito meses na Faixa de Gaza para entender que a burguesia está disposta a qualquer coisa para não ser derrubada.